O governo dos Estados Unidos chamou de volta o embaixador norte-americano na Zâmbia, Daniel Foote, depois de este ter defendido os direitos dos gays num país em que a homossexualidade é proibida.
A polémica centra-se num comunicado emitido no início de dezembro pelo embaixador Daniel Foote, um dia antes do Dia Mundial da Luta Contra a Sida — a cujas comemorações o embaixador não pôde comparecer devido a ameaças de que foi alvo.
No documento, Daniel Foote sublinha o apoio financeiro norte-americano à Zâmbia no combate à sida, assinalando que os EUA já deram àquele país africano mais de 4 mil milhões de dólares (mais de 3.6 mil milhões de euros) destinados a apoiar mais de um milhão de habitantes.
“Infelizmente, o estigma e a discriminação continuam a ser os nossos desafios mútuos na erradicação da epidemia da sida. Leis discriminatórias e homofóbicas, sob as falsas bandeiras do Cristianismo e da cultura, continuam a matar zambianos inocentes, muitos dos quais nasceram com o vírus. Os seus cidadãos estão aterrorizados com a ideia de serem ostracizados como sendo portadores do vírus, por causa de associações inadequadas e arcaicas entre o VIH e a homossexualidade“, escreveu o embaixador no longo comunicado, em que se multiplicam as críticas ao sistema penal da Zâmbia e à forma como a homossexualidade é encarada naquele país.
Na Zâmbia, atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo são proibidos por lei. Quem for apanhado pelas autoridades pode ser condenado a duras penas de prisão — como foi o caso de dois jovens condenados a 15 anos de prisão em novembro. As críticas do embaixador a este caso já tinham sido mal recebidas pelo governo da Zâmbia. Mas, na sequência do comunicado, o governo da Zâmbia decidiu pedir a Washington que retirasse Daniel Foote do cargo.
“Apresentámos uma queixa oficial ao governo americano e estamos à espera da resposta deles“, disse o presidente da Zâmbia, Edgar Lungu, num discurso citado pela CNN.
Através de um porta-voz, o Departamento de Estado norte-americano afirmou que está “consternado com a afirmação do governo zambiano de que a posição do embaixador Foote ‘já não é sustentável’, algo que é o equivalente a uma declaração de que o embaixador é persona non grata. Os Estados Unidos opõem-se firmemente a abusos contra pessoas LGBTI”.
No comunicado que está no centro da polémica, o embaixador Daniel Foote vai mais longe e diz que tem tentado “melhorar a parceria EUA-Zâmbia, mas com um sucesso mínimo”.
“Vamos parar com a fachada de que os nossos governos têm relações ‘calorosas e cordiais’. O atual governo da Zâmbia quer que os diplomatas estrangeiros sejam cúmplices, com os bolsos abertos e as bocas fechadas”, acusou Foote. Já o presidente da Zâmbia, Edgar Lungu, afirmou numa entrevista à Sky News que o embaixador foi “desrespeitoso” para com o país no assunto da homossexualidade.
Na sequência da posição do governo da Zâmbia, os EUA chamaram o embaixador Daniel Foote de volta ao território norte-americano.