O perito que terá encontrado um segundo projétil na casa de Rosa Grilo, a mulher acusada de matar o marido — o triatleta Luís Grilo — em coautoria com o amante, é um ex-inspetor da Polícia Judiciária (PJ) de Setúbal, João de Sousa, que em 2016 foi condenado a cinco anos e meio de prisão por corrupção passiva e violação do segredo de funcionário. A informação foi confirmada pelo Observador pela advogada da arguida, Tânia Reis, que contratou uma empresa de consultadoria forense — onde o ex-PJ João de Sousa trabalha — para fazer novas buscas à casa onde terá acontecido o homicídio de Luís Grilo, segundo avançou a TVI.
Este perito terá então encontrado um novo projétil na banheira de uma das casas de banho da moradia das Cachoeiras, em Vila Franca de Xira — o que levou a que a GNR fosse chamada, depois, para o local. A PJ — que nunca encontrou não se encontra no local nem realizou esta diligência, apurou o Observador junto deste órgão de investigação.
Em declarações aos jornalistas, este perito independente não quis revelar em que local foi encontrado o novo projétil, mas adiantou que já está a trabalhar com a defesa de Rosa Grilo “há uma semana”. “Vim cá para ser chamado na terça-feira se assim entendesse o coletivo [de juízes]“, disse referindo-se à data para a qual está marcada uma nova audiência de julgamento.
Detetei uma situação suspeita, anómala. Pareceu-me ser um vestígio”, disse apenas.
Quando questionado sobre se estranhou o facto de a PJ nunca ter encontrado este alegado projétil, João de Sousa prefere dizer que este objeto “é um vestígio” e não “uma falha na investigação” até porque, diz: “Pode ser um erro meu de interpretação”. “Vi quem eram os inspetores [que fizeram as anteriores perícias]. São pessoas que admiro bastante”, apontou.
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Terá sido naquela casa que, segundo a acusação, o triatleta foi morto com um tiro por Rosa Grilo e pelo amante António Joaquim. No entanto, a tese da arguida é a de que o marido foi assassinado com dois tiros por três angolanos que lhe invadiram a casa em busca de diamantes. Só que, de acordo com o relatório da autópsia, Luís Grilo só foi atingido por um tiro. A ser verdade, este novo vestígio lança a dúvida sobre esta tese.
Este desenvolvimento acontece numa altura em que está iminente a leitura do acórdão. E dois dias depois de o tribunal ter comunicado mais uma mudança na acusação que atribui à arguida a autoria do disparo que terá matado o marido, o triatleta Luís Grilo — o que não quer dizer que esta venha a ser a decisão final do tribunal. Até porque estes factos, mesmo alterados, podem ser dados como não provados. Esta alteração não substancial dos factos fazia parte de um conjunto de outras que tinham sido comunicadas no dia 10 de janeiro. Esta não foi, no entanto, anunciada por um lapso informático que fez com que não ficasse registada.
Para o próximo dia 18 de fevereiro o julgamento retoma. Segundo o despacho a que o Observador teve acesso, o tribunal aceitou ouvir apenas duas testemunhas pedidas pela defesa de Rosa Grilo: uma amiga de universidade de Luís Grilo que garantiu em tribunal que o triatleta lhe confidenciou que estava a ser “ameaçado” por um “parceiro angolano”, duas semanas antes de morrer; e um triatleta que foi atropelado meses antes de Luís Grilo alegadamente desaparecer. Assim, a sessão que já estava marcada para dia 18 de fevereiro servirá para ouvir estas duas testemunhas. Só depois será marcada a leitura do acórdão.
Rosa Grilo e António Joaquim estão acusados do homicídio e da profanação do cadáver do triatleta Luís Grilo, no verão de 2018. Os dois arguidos foram detidos há mais de um ano, no dia 26 de setembro de 2018, por suspeitas de serem os autores do homicídio de Luís Grilo. Mas o caso veio a público muito tempo antes, quando, a 16 de julho, Rosa Grilo deu conta do desaparecimento do marido às autoridades, alegando que o triatleta tinha saído para fazer um treino de bicicleta e não tinha regressado a casa.
Seguiram-se semanas de buscas e de entrevistas dadas por Rosa Grilo a vários meios de comunicação — nas quais negava qualquer envolvimento no desaparecimento do marido, engenheiro informático de 50 anos. O caso viria a sofrer uma reviravolta quando, já no final de agosto, o corpo de Luís Grilo foi encontrado, com sinais de grande violência, em Álcorrego, a mais de 100 quilómetros da localidade onde o casal vivia — em Cachoeiras, no concelho de Vila Franca de Xira. Nessa altura, as buscas deram lugar a uma investigação de homicídio e, novamente, Rosa Grilo foi dando entrevistas nas quais que negava qualquer envolvimento no assassinato do marido.
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A prova recolhida levou a PJ a concluir que Luís Grilo foi morto a tiro, no quarto do casal, por Rosa Grilo e António Joaquim, e deixado depois no local onde foi encontrado. O triatleta terá sido morto a 15 de julho, por motivações de natureza financeira — o meio milhão de euros que o triatleta tinha em seguros — e sentimental.
A tese de Rosa Grilo — que manteve sempre em sede de julgamento — é, no entanto, diferente: segundo as declarações que prestou no primeiro interrogatório — e que veio a reforçar em várias cartas que enviou a partir da prisão para meios de comunicação — Luís Grilo terá morrido às mãos de três homens (dois angolanos e um “branco”) que lhe invadiram a casa em busca de diamantes.