Francisco Rodrigues dos Santos tinha justificado a mudança de posição relativamente ao novo aeroporto  (em 35 dias deixou de defender a opção Alverca para defender a opção Montijo), com uma conversa com Pires de Lima. O antigo ministro da Economia explicou no programa Vichyssoise, da Rádio Observador (pode ouvir aqui), que essa conversa foi, afinal, uma troca de SMS que tinha sido precedida de uma conversa com Filipe Lobo d’Ávila. “Foi uma troca de mensagens. Já tinha tentando sensibilizar a direção do CDS através de Filipe Lobo d’Ávila, com quem tenho mais proximidade. O Francisco procurou saber as minhas razões para defender o Montijo. Mandou-me uma mensagem a pedir cinco razões e eu dei-lhe oito”. Os argumentos de Pires de Lima foram absorvidos pelo líder do CDS: “Fez do meu discurso o seu discurso“.

Presidente do CDS diz que mudou opinião sobre aeroporto em 35 dias após conversa com Pires de Lima

Sobre se isso significa que Francisco Rodrigues dos Santos tem mais “cultura democrática” do que no Congresso, Pires de Lima diz que só se “vai ver isso ao longo do tempo”. O antigo ministro da Economia tinha feito duras críticas no Congresso ao na altura candidato a líder e ouviu vaias dos apoiantes de “Chicão”. Agora, recorda que aceitou com “fair play a reação do congresso.”

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O antigo ministro da economia classifica esta “rápida mudança de opinião” de “oportuna” e elege como grande ganho da nova liderança “a descrispação das relações do CDS com o PS”. Pires de Lima lembra que o caminho de “combate puro e duro” aos socialistas “conduziu ao resultado que sabemos, de 4,5%”, algo que não o surpreendeu: “Já o tinha antecipado nas mensagens que troquei com a ex-líder do CDS”.

A relação do CDS com o PS, defende Pires de Lima, deve assim “ser de diálogo”, sendo certo que o CDS não vai estar “colado ao Partido Socialista”, uma vez que não vai aprovar “orçamentos”. No entanto, “quando estão em causa assuntos de interesse nacional, o CDS tem de ser visto como útil. Só posso saudar a descrispação com o PS, embora o nosso parceiro preferencial seja o PSD.”

Quanto aos efeitos do novo coronavírus na economia, Pires de Lima acredita que “o impacto económico a curto prazo vai ser relevante” e destaca que “o comportamento das pessoas ao viajarem menos, a irem menos aos restaurantes, já estão a afetar o setor do turismo. Para o antigo ministro, “a economia portuguesa vai sofrer no segundo e terceiro trimestre. Se os efeitos do coronavírus forem dissipados entre abril e maio, admito que a recuperação possa ocorrer”.

Canja e caldos de galinha do PR e o sms de Chicão

Na fase de escolha múltipla (em que os convidados escolhem se querem carne ou peixe), quando questionado sobre se preferia beber uma Super Bock com “Chicão” ou uma Sagres com Cristas, Pires de Lima, que esteve na administração da Unicer, disse que para ele é “sempre Super Bock” e podia até ser com os dois. Disse ainda que não quer destituir nem Frederico Varandas do Sporting, o seu clube, nem António Costa do Governo, já que os mandatos são para cumprir. Entre ser ministro novamente ou conselheiro económico de Paulo Portas em Belém, Pires de Lima justificou que “nunca se deve voltar ao sítio onde já se foi feliz” e garantiu que se o amigo Portas quiser um dia aceitar o desafio de se candidatar a Presidente, estará ao seu lado.

O antigo ministro da Economia, António Pires de Lima, considera “muito frustrante” que um mês e meio depois do congresso do CDS, as mulheres continuem a “ter um papel de menorização nesta direção e nos órgãos nacionais”. O antigo dirigente centrista diz que “se se podia entender que entre as 4 e 6 da manhã” no Congresso não fosse possível encontrar nomes femininos “é bastante difícil perceber que um mês e meio, o CDS não tenha uma vice presidente mulher, não tenha uma porta-voz mulher”. E lançou um repto ao líder: “Faço aqui um desafio a Francisco Rodrigues dos Santos: que escolha uma mulher para porta voz do partido e uma mulher, de preferência, com ideias arejadas“. Horas depois, o Observador noticiava que a escolha de Francisco Rodrigues dos Santos era precisamente uma mulher, Cecília Anacoreta Correia.

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António Pires de Lima não quis sugerir nomes, mas diz que a justificação para a ausência de mais mulheres na direção não pode estar no mérito. Achar que no CDS só os homens é que têm mérito para exercer cargos políticos é um aspeto que “incomoda bastante” Pires de Lima, uma vez que ” é um retrocesso civilizacional, desvaloriza o partido e é uma falta de respeito pelas mulheres.”

O velho António foi dar uma lição de democracia ao jovem Francisco, levou o dicionário e acabou apupado

Pires de Lima diz que “felizmente, em dois meses de liderança, esse discurso mais bélico foi amenizado“, destacando que “Francisco Rodrigues dos Santos ganhou o congresso de forma legítima”. Embora não com o seu voto, lembrando que “preferia o João Almeida”. A avaliação, essa, “deve ser feita no tempo próprio”.