Na mesma semana em que a morte de Diego Bianco, paramédico italiano de apenas 46 anos, chocou e mostrou ao mundo que, apesar de serem os mais gravemente afetados pelo novo coronavírus, os idosos não são as únicas vítimas fatais desta pandemia, as autoridades de saúde dos Estados Unidos têm insistido na mesma tecla e apelado aos millennials: “Fiquem em casa”.

Há relatos preocupantes vindos de França e de Itália sobre jovens que estão gravemente doentes e que estão a ser internados em estado muito grave nos cuidados intensivos“, alertou novamente esta quarta-feira Deborah Birx, a coordenadora da Casa Branca para a resposta ao surto de SARS-CoV-2.

“Não vimos uma mortalidade significativa em crianças, mas estamos preocupados com esses relatos que nos chegam de Itália e França. Por isso, mais uma vez, vou fazer um apelo a esta geração… e não apenas para que prestem atenção às orientações que temos divulgado, mas para que realmente se assegurem de que cada um de vocês está a proteger todos os outros.”

Um estudo publicado no mesmo dia pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) veio, mais do que reforçar a mensagem, comprová-la: a covid-19 está a afetar os americanos de todas as idades e os nascidos até 2020 não são exceção — 38% dos pacientes em estado considerado grave e que precisaram de hospitalização tinham entre 20 e 54 anos.

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O estudo tem uma amostra de 2.449 casos — que, por seu lado, foi construída a partir dos primeiros 4.226 casos não importados que foram registados nos EUA entre 12 de fevereiro e 16 de março. As conclusões do estudo revelam que, como nos demais países, o risco de morte é efetivamente mais alto nos pacientes idosos — 80% das mortes registadas aconteceram em pacientes acima dos 65 anos —, mas as complicações de saúde graves não são exclusivas das faixas etárias mais altas.

De entre os 508 pacientes que precisaram de ser hospitalizados, 38% são considerados jovens — entre os 20 e os 54 anos. Quase metade dos 121 doentes que tiveram de ser admitidos em unidades de cuidados intensivos estão abaixo da idade da reforma — 36% têm entre 45 e 64 anos, enquanto que 12% estão na faixa etária 20-44.

“Acho que toda a gente devia estar a prestar atenção a isto. Não vão ser só os idosos. Vão ser as pessoas a partir dos 20 anos. Eles também têm de ter cuidado, mesmo que pensem que são jovens e saudáveis“, avisou, em resposta ao estudo e questionado pelo New York Times, Stephen S. Morse, professor de epidemiologia da Escola de Saúde Pública Mailman, da Universidade de Columbia.

“As pessoas mais jovens podem até sentir-se mais confiantes sobre a capacidade que têm para resistir a um vírus como este. Mas se tanta gente mais jovem está a ser hospitalizada, isso significa que há muita gente dessa faixa etária a andar por aí com a infeção”, acrescentou Christopher Carlsten, o responsável pelo departamento de medicina respiratória da Universidade da Columbia Britânica.

Clement Chow, professor assistente de genética da Universidade de Utah, terá sido um deles. Agora, está internado na unidade de cuidados intensivos do hospital da universidade onde dá aulas, em Salt Lake City, revelou via Twitter: “Sou jovem e não sou de alto risco, ainda assim estou nos cuidados intensivos em estado grave”.

Apesar de não revelar a idade, o professor assistente — que desde o passado dia 15 de março se apresenta naquela rede social como Clement “a dar cabo da Covid-19” Chow — licenciou-se em 2003 e tem dois filhos pequenos, apurou a Bloomberg, pelo que deverá rondar os 40 anos. Depois de alguns dias em que teve febres baixas, a que se juntou mais tarde uma tosse persistente, acabou por ser internado, com uma insuficiência respiratória. “Na quinta-feira fui o primeiro paciente com Covid-19 a dar entrada nos cuidados intensivos. Agora há muitos mais”, tweetou no mesmo dia.

Não obstante as evidências, em solo americano e não só — o diretor-geral de Saúde francês revelou esta semana que metade dos internados nas unidades de cuidados intensivos de Paris têm menos de 65 anos, por exemplo —, os autores do estudo do CDC preferem referir-se às próprias conclusões como “resultados preliminares”, por não terem tido acesso a toda a informação desejável, incluindo ao historial clínico dos pacientes infetados.

Ainda assim, os autores fazem questão de ressalvar que não é por isso que os números agora apresentados deixam de “provar” que a covid-19 por provocar o “agravamento do estado de saúde” a “adultos de qualquer idade”. Sendo que por agravamento deve entender-se o internamento em “unidades de cuidados intensivos, ou até mesmo a morte“, lê-se no estudo.

De entre os 2.449 casos analisados (dos restantes não constavam informações essenciais para o estudo, como a idade dos pacientes) as principais conclusões são as seguintes:

  • 44 morreram, sendo que 15 deles tinham mais de 85 anos;
  • Duas dezenas tinham entre 65 e 84 anos;
  • E nove tinham entre 20 e 64 anos.
  • Na faixa abaixo dos 19 anos não foi registada qualquer morte;
  • Só 5% das infeções e menos de 1% das hospitalizações dizem respeito a crianças ou adolescentes.