Já são quase 200 os mortos registados em lares ou instituições de idosos desde o início da pandemia em Portugal — o que perfaz cerca de um terço do número total de mortos. A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, avançou esse dado e deixou ainda críticas às instituições que não estão a cumprir com “duas regras” essenciais: proibição de visitas e isolar durante 14 dias os novos utentes. No briefing desta terça-feira, as autoridades de saúde aproveitaram para fazer ainda um forte apelo à vacinação e à confiança nas unidades de saúde que têm áreas dedicadas a doentes Covid-19 e não Covid-19.
No que diz respeito ao elevado número de casos nos lares de idosos e à mortalidade associada, Graça Freitas recordou a elevada idade dos utentes, as doenças associadas e a concentração de idosos no mesmo local como alguns dos fatores que contribuem negativamente para a propagação da Covid-19 nos lares e instituições similares. A diretora-geral da Saúde deixou ainda críticas às instituições que não respeitaram a proibição de visitas decretada no início de março e a necessidade de isolar durante 14 dias os novos utentes e de realizar um teste negativo.
“Em relação aos 567 óbitos registados até à data, cerca de um terço desses óbitos ocorreu em população que está, de facto, em instituições”, confirmou Graça Freitas depois de questionada a representatividade dos mortos em lares no total de mortos registados até ao momento. Esta é, aliás, uma situação semelhante à vivida em Espanha, onde os lares de idosos foram fortemente afetados pela pandemia.
Sobre o regresso de doentes com a Covid-19 aos lares onde residem, Graça Freitas diz que esse regresso tem que acontecer sempre que se tratem de casos ligeiros, para que os hospitais fiquem reservados para casos mais graves.
“Os casos que felizmente sejam pouco graves, apenas de patologia muito moderada ou ligeira, devem permanecer em residência habitual e não ir para os hospitais onde serão atendidos outras situações quer de doentes agudos, quer de doentes mais graves com Covid”, afirmou a líder da autoridade de saúde garantindo ainda o acompanhamento destes doentes através dos centros de saúde locais.
Produção nacional de máscaras pode avançar “já esta semana”
Depois de ser recomendada a utilização de máscaras em locais fechados como supermercados, farmácias ou transportes públicos, o Infarmed divulgou esta terça-feira as “especificações técnicas” que permitirão avançar para a produção “já esta semana”, anunciou o secretário de Estado da Saúde. António Sales acrescentou ainda que “cerca de 200 empresas” já tinham demonstrado interesse em começar a produzir.
O presidente do Infarmed assegurou que a utilização das máscaras não implica prescindir de todas as outras regras a cumprir. Rui Ivo referiu que ainda esta terça-feira serão tornadas públicas normas com informações sobre as condições de utilização e os tipos de máscaras que poderão vir a ser criadas no contexto nacional.
As especificações são dirigidas às empresas que as vão produzir. “Vai ser possível termos algumas máscaras reutilizáveis, vai ser dada essa informação. Estamos a ter um terceiro tipo de equipamento de proteção com o apoio da industrial nacional”, garantiu.
“Não adie de forma alguma a vacinação, caso contrário podemos ter outros surtos”
A direção-geral da Saúde chamou para a frente de batalha, na luta pela vacinação, o fantasma de novos surtos. Se estão todos assustados e preocupados com a atual pandemia o que acontecerá se de um momento para o outro toda a gente deixar de ser vacinada? É para tentar inverter a tendência de adiar a vacinação — que já se verifica em Portugal e que foi reportada também por outros países—, especialmente nos primeiros meses de vida dos bebés, que Graça Freitas alerta que essa atitude poderá dar lugar ao aparecimento de novos surtos.
“É absolutamente essencial, para evitar casos de doença ou surtos — a última coisa que queremos ter é outro surto de doença infecciosa —, a vacinação nas idades mais importantes”, disse a diretora-geral da Saúde, referindo-se essencialmente à vacinação nos primeiros 12 meses de vida, mas também à vacinação aos 12 meses. “Nenhuma criança ou adulto com a vacina do sarampo em atraso deve continuar a tê-la em atraso”, alertou.
Graça Freitas referiu-se ainda a um segundo grupo, as grávidas. “Devem vacinar-se contra a tosse convulsa. A vacinação não deve ser adiada além das 28 a 32 semanas de gestação” acrescentando depois o caso dos doentes crónicos: “Não adie de forma alguma a vacinação, caso contrário podemos ter outros surtos”.
Medo de recorrer às unidades de saúde é infundado
As mais recentes notícias e sondagens apontam para o receio dos portugueses em recorrer a centros de saúde ou hospitais, com medo de serem infetados com o novo coronavírus. Depois dos alertas dos médicos especialistas para os perigos que os doentes correm ao adiar idas urgentes ou consultas necessárias de acompanhamento de doenças crónicas, agora é o Ministério da Saúde a apelar aos portugueses para que confiem no Sistema Nacional de Saúde durante esta crise sanitária.
“Os doentes crónicos que sintam descompensação no estado clínico devem recorrer ao médico assistente ou à linha SNS 24 que prestará o devido aconselhamento. Em caso de necessidade de ida à urgência, de acordo com a norma 19, todos terão uma máscara”, afirmou António Sales, secretário de Estado da Saúde.
Segundo o responsável, os portugueses “têm que confiar num SNS que soube retirar dos hospitais o que não era urgente, mas que também soube criar circuitos bem distintos para doentes Covid e não Covid”.
“O vírus tem-se organizado por focos. Não há uma mancha contínua”
No dia em que a região norte ultrapassou os 10 mil casos positivos confirmados, num aumento de 3,2% — 318 casos brutos — que é quase o dobro do crescimento registado em todas as outras regiões do país, Graça Freitas explicou que a dinâmica de uma doença infecciosa tem que ver com a “quantidade de casos iniciais”.
“Foi na região norte que houve uma grande concentração de casos importados. Foi uma coincidência”, afirmou, referindo-se aos empresários da região norte que viajaram até à Lombardia, na Itália. “Houve muitas cadeias de transmissão secundária”, continuou. “As coisas expandem-se muito mais rapidamente, por mais medidas de contenção que sejam contempladas. O que poderá explicar esta situação foi a forma como se iniciaram cadeias de transmissão e os focos de transmissão comunitários”, justificou a responsável.
“O vírus tem-se organizado por focos, não há uma mancha contínua no território nacional, tem transmissão comunitária, mas não quer dizer que seja em todo o país. Aliás, quando vemos os mapas de risco há zonas com cores de risco diferentes, umas com maior risco de transmissão do que outras”, afirmou notando que há “zonas do país sem nenhum tipo de transmissão”.
Sobre os cercos sanitários levantados em alguns concelhos, nomeadamente em Ovar, Graça Freitas afirmou que este deve ser reavaliado localmente, pelas autoridades de saúde e pela comissão municipal de Proteção Civil. “São as autoridades locais que decidem a quantidade e tipo de medidas que a cada altura se devem verificar”, clarificou. Como aconteceu esta terça-feira com a aldeia de Parada do Monte, cujo levantamento da cerca sanitária foi anunciado pelo presidente da Câmara de Melgaço.
Câmara de Melgaço levantou cordão sanitário em Parada do Monte