O presidente do Conselho de Administração do Observador, António Carrapatoso, considerou esta terça-feira ser “um pouco estranho” haver órgãos de media em regime de layoff, numa altura em que “há tanta informação para tratar”.

António Carrapatoso falava aos jornalistas no final de uma audiência com o Presidente da República, que recebe esta terça-feira, pelo segundo dia consecutiva, os líderes dos principais grupos de comunicação social sobre o impacto da pandemia de Covid-19 no setor.

É um pouco estranho haver órgãos de comunicação social a fazerem layoff numa altura destas, repare, há tanta informação para tratar, tantas notícias para dar”, salientou o gestor.

Sobre o apoio do Estado aos media, António Carrapatoso foi claro: “A opinião do Observador desde o início foi clara, nós não acreditamos, nem apoiamos muito a figura de subsídios“.

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O presidente do Observador On Time salientou que foi proposto ao Governo um programa de empréstimos.

Propusemos ao Governo, na devida altura, existir um programa de empréstimos para os órgãos de comunicação social relacionado com número que esses órgãos têm ou tinham em fevereiro deste ano e que se comprometiam a manter no futuro”, acrescentou.

Este é o segundo dia que Marcelo Rebelo de Sousa recebe em audiência os presidentes dos principais grupos de media em Portugal.

Antes do Observador, o chefe de Estado esteve reunido com os representantes da Global Media Group (GMG) e do Público.

Na segunda-feira, o Presidente recebeu em audiência a RTP, Impresa, Media Capital, Cofina, Lusa e grupo Renascença Multimédia.

Estas audiências acontecem depois de, na véspera do 25 de Abril, Marcelo Rebelo de Sousa ter recebido o Sindicato dos Jornalistas e associações representativas do setor, que traçaram o quadro do estado atual da crise da comunicação social, que se agravou na sequência do impacto da pandemia do novo coronavírus.

No domingo, numa nota em que assinalou o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, Marcelo Rebelo de Sousa renovou o apelo para que o Estado apoie a comunicação social, considerando que deve fazê-lo “de forma transparente e não discriminatória”.

O chefe de Estado sublinhou que, “sem informação livre e plural, não há democracia”.

Público tinha condições para recorrer ao layoff, mas tal “não faria sentido”, diz administrador

O administrador do jornal Público João Amaral afirmou esta terça-feira que o jornal tinha “todas as condições” para recorrer ao layoff, mas devido ao serviço que presta ao país, tal “não faria sentido”.

João Amaral, que é Chief Development Officer da Sonae, falava aos jornalistas no final de uma audiência com o Presidente da República, no segundo dia de encontros de Marcelo Rebelo de Sousa com os líderes dos principais grupos de comunicação social sobre o impacto da pandemia de Covid-19 no setor.

Estão reunidas todas as condições para que nós, assim o entendêssemos, pudéssemos recorrer ao layoff simplificado, pela queda de receitas. No entanto, pelo serviço público que prestamos e o serviço ao país que temos que fazer, decidimos não recorrer ao layoff”, afirmou o administrador.

“Não faria sentido numa fase em que estamos realmente com mais trabalho”, acrescentou o administrador do Público.

João Amaral referiu que neste momento as receitas de publicidade e de vendas de jornais em papel estão “numa queda abrupta, precisamente no mês em que” estavam a festejar o facto de a circulação digital do jornal “ter atingido níveis recorde”.

Por isso, “estamos aqui no ‘amargo-doce’ do festejo da circulação”, salientou.

Global Media questiona quando chegam as medidas anunciadas pelo Governo

O administrador da Global Media Group (GMG) Afonso Camões questionou esta terça-feira quando é que chegam as medidas anunciadas pelo Governo, de compra antecipada de publicidade institucional, afirmando desconhecer os critérios da sua repartição.

Camões falava no final de uma audiência com o Presidente da República, no segundo dia em que o chefe de Estado está a receber os líderes dos principais grupos de comunicação social sobre o impacto da pandemia de Covid-19 no setor.

“É importante perguntarmos ao Governo quando é que chegam as medidas de apoio que foram anunciadas há semanas”, questionou o administrador da GMG, grupo que detém os títulos Diário de Notícias (DN), Jornal de Notícias (JN), a rádio TSF, Dinheiro Vivo, entre outros, o qual entrou em processo de layoff em abril, medida que abrange 538 trabalhadores.

Não chegaram ainda, não só não chegaram como não sabemos sequer como é que essas medidas se vão repartir, não sabemos [os critérios], não conhecemos sequer o critério de repartição”, insistiu o administrador.

Afonso Camões disse ter receio que “os critérios de repartição ignorem o facto de uma parte dos portugueses dependerem ainda da informação em papel”.

“Somos porventura o único grupo de comunicação social sem dívida e não evitamos essa responsabilidade: sim, temos graves dificuldades de tesouraria”, disse o responsável, referindo as quebras de vendas de jornais e revistas porque deixou de haver publicidade.

“Temos dificuldades, mas estamos a preparar-nos e estamos preparados para renascer com mais força depois disto”, asseverou.

Na quinta-feira, 30 de abril, o Governo aprovou o decreto-lei que estabelece um regime excecional e temporário para a compra antecipada pelo Estado de publicidade institucional, no montante de 15 milhões de euros, para ajudar os media, no âmbito da pandemia.

Esta medida tinha sido anunciada em 17 de abril e tem como objetivo ajudar os media face ao impacto da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

“Atendendo ao imprescindível papel dos órgãos de comunicação social enquanto fontes de informação e de esclarecimento da população, mostra-se necessário aumentar a sua capacidade de comunicação para garantir que a informação chega a todos os cidadãos nesta nova fase de retoma da normalidade”, lê-se no comunicado do Conselho de Ministros.

“Para isso são necessárias, mais do que nunca, ações e campanhas de publicidade institucional do Estado, através dos órgãos de comunicação social, com informação fidedigna”, pelo que “o Governo procede à aquisição, pelo preço máximo de 15 milhões de euros, de espaço para difusão de publicidade institucional através de serviços de programas de televisão e de rádio e de publicações periódicas”, refere.

Daquele montante, “75% do preço contratual será a investir em órgãos de comunicação social de âmbito nacional e 25% a investir em órgãos de âmbito regional e local, nos termos do disposto na lei da publicidade institucional do Estado”, adianta.

Esta decisão “permite não só a realização de campanhas publicitárias relacionadas com boas práticas e medidas de prevenção associadas a esta pandemia, como minimizar a perda de receitas pelos órgãos de comunicação social decorrente de quebra das vendas de espaço publicitário e de circulação, criando condições para que aqueles mantenham a sua atividade, nomeadamente a difusão de informação, conteúdos culturais e recreativos”.

A Lusa e a RTP não estão incluídas nesta compra antecipada de publicidade institucional. Os 15 milhões de euros são “um valor bastante superior ao que estava previsto quando se fez o Orçamento”, afirmou a ministra da Cultura, aquando do anúncio, em 17 de abril.

Na altura, a ministra tinha afirmado esperar que a medida ainda tivesse impacto em abril, o que não aconteceu.