O PCP quis deixar claro: “A Festa do Avante! não é um simples festival de música”. Foi assim que o partido reagiu em comunicado, logo depois de ser conhecida a decisão do Governo de cancelar os festivais de música até 30 de setembro. Aliás, lembram os comunistas (esquecendo-se das primeiras edições de Vilar de Mouros), o evento “realiza-se desde 1976, muitos anos antes da existência daquele tipo de festivais”. Mas isso não significa necessariamente que a Festa do Avante vá em frente. A hipótese de adiar ou cancelar a festa parece estar mesmo em cima da mesa e embora nenhuma fonte do partido queira confirmar a informação ao Observador, há dois pormenores que apontam nesse sentido.
Primeiro, o próprio comunicado do PCP, que remete uma decisão final para o “conhecimento concreto da disposição legal que venha a ser adotada”. Ou seja, tudo em aberto, o que pressupõe também o cancelamento. E depois o Governo, que tinha anunciado a proibição de festivais de música, corrigiu mais tarde a redação do comunicado do Conselho de Ministros, para referir que a proibição até 30 de setembro era para a realização de “festivais e espetáculos de natureza análoga”, e não apenas para “festivais de música”. Ou seja, o espectro alargou substancialmente. O suficiente para incluir a Festa do Avante que, segundo o PCP, “é uma grande realização político-cultural”?
A decisão está tomada, só falta a lei: não haverá festivais este verão em Portugal
Na última semana de abril, o PCP tinha anunciado no jornal Avante!, que se manteria a realização do Avante! apenas com “artistas e técnicos portugueses, que atravessam um momento de especial dificuldade devido ao surto de COVID-19″. As primeiras dúvidas em relação à realização da Festa do Avante! surgiram já depois de alguns festivais de verão terem sido cancelados, por decisão das organizações. Mas o PCP optou pela manutenção da festa, agendada para 4, 5 e 6 de setembro, usando o distanciamento temporal até setembro como argumento para a manutenção do evento. Com a decisão do Conselho de Ministros de alargar a proibição de “festivais e espetáculos de natureza análoga” até ao final de setembro, cai por terra um dos argumentos dos comunistas.
Apesar de não ser um festival de verão, a Festa do Avante!, que marca habitualmente a rentreé do Partido Comunista Português (e é uma importante fonte de receitas para o PCP), tem todos os anos um amplo cartaz de músicos e vários palcos onde é possível assistir aos concertos. Nas plataformas online onde se compram as pulseiras para entrar no recinto, o evento é descrito como tendo “um vasto e diversificado programa de espetáculos nos mais de 10 palcos, com destaque para o Palco 25 Abril e o Auditório 1º de Maio”. Paralelamente, continua a ser, desde 1976, um palco privilegiado do partido para intervenções políticas, tendo conhecido várias localizações antes de se ter fixado na Quinta da Atalaia, no Seixal há mais de 20 anos.
Para a Festa do Avante! deste ano estava também previsto o lançamento de um documentário sobre o partido, no âmbito do centenário do PCP, cujas comemorações foram iniciadas a 6 de março, poucos dias antes de decretado o confinamento, e que se prevê terminarem com um comício no Campo Pequeno agendado para 6 de março de 2021.