O ministro das Finanças, Mário Centeno, “tem todas as condições para ser um grande governador do Banco de Portugal”. A afirmação é de Carlos Costa, precisamente o atual líder do supervisor da banca, que em entrevista ao Expresso surpreende ao apoiar Centeno, conhecidas que são as relações frias entre os dois — o que faz com que apenas comuniquem por escrito, como confirma Costa.
O atual governador não deixa, contudo, de deixar um aviso. Sem se pronunciar sobre a eventual incompatibilidade que possa existir na passagem do Governo para o Banco de Portugal, Carlos Costa enfatiza que este é um órgão que é independente do Poder Executivo. Por isso mesmo afirma que Centeno pode vir a seguir o exemplo de Silva Lopes, que foi ministro e depois “um dos grandes construtores do Banco de Portugal moderno que nós temos”, mas isso dependerá “da forma como a pessoa [Mário Centeno] interpreta o mandato que lhe está atribuído”. Não é uma questão genética, é uma questão de compreensão do mandato e também de atitude”, afirma o atual governador.
O atual governador do Banco de Portugal cessa funções a 9 de julho mas, na entrevista ao Expresso, admite ficar mais tempo se necessário, “em nome do interesse geral”. E o semanário lembra por sua vez que Centeno, que tem sido apontado como hipótese forte para a sucessão, só termina mandato à frente do Eurogrupo (que concilia com o de ministro das Finanças) a 13 de julho, já depois da data de fim de funções de Carlos Costa.
Na entrevista, o ainda governador do BdP valida ainda o processo de transferência de 850 milhões de euros do Estado para o Fundo de Resolução, tendo em vista a capitalização do Novo Banco (NB). O empréstimo, inicialmente revelado pelo Expresso, estava já previsto no Orçamento do Estado deste ano, mas o primeiro-ministro tinha dito no Parlamento que não aconteceria sem antes serem conhecidos os resultados de uma auditoria ao NB, o que causou fricção entre Centeno e Costa.
O atual governador do BdP diz estar “convencido” que o presidente do Fundo de Resolução “conhece muito bem o contrato e as obrigações que resultam do contrato” e que “se houvesse alguma forma de minimizar os custos para o Fundo de Resolução, certamente teria estado muito atento”. Uma afirmação também relevante porque o Fundo de Resolução é liderado por Luís Máximo dos Santos, igualmente vice-governador do BdP que tem sido apontado como um dos concorrentes de Mário Centeno à sucessão de Carlos Costa.
O governador do Banco de Portugal também não deixou de elogiar Pedro Siza Vieira, ministro da Economia que tem sido apontado como possível sucessor de Centeno nas Finanças. Questionado sobre “quem tem sido a pessoa mais clara na resposta à pandemia”, diz: “Se eu perguntar aos meus amigos e a mim próprio, a pessoa que tem sido mais clara do ponto de vista do projeto tem sido o ministro Siza Vieira”.