A evolução do número de novos casos em Lisboa e Vale do Tejo (LVT) esteve no centro de mais uma conferência de imprensa da Direção-Geral da Saúde, este sábado. Esta zona continua a representar a maior fatia do balanço diário de novos infetados, contrariando assim a tendência decrescente verificada praticamente no resto do país. No ultimo boletim, a região de LVT concentra 186 dos 271 novos casos registados e nove dos 13 óbitos ocorridos nas últimas 24 horas.

Marta Temido rejeita a ideia de que a persistência do número de novos casos possa ser resultado das medidas de desconfinamento. Em vez disso, aponta os surtos localizados, à semelhança do que aconteceu esta semana na Azambuja, como a origem do problema.

Tudo leva a crer que estamos perante surtos de novos casos associados a determinados locais de trabalho, empreendimentos comerciais e industriais e também a algumas situações de obra, de construção civil”, referiu a ministra, este sábado, ao início da tarde.

Situações que, segundo Temido, estão a ser acompanhadas de perto. A ministra indicou ainda já estar em curso uma “avaliação do cumprimento das recomendações nesses empreendimentos e nessas obras”. Contudo, ressalva que não será o incumprimento por parte das empresas a razão por trás deste fenómeno localizado.

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Não serão os incumprimentos das regras gerais pelas estruturas laborais que estarão a originar, provavelmente, estes focos. Mas sim algum relaxamento nos momentos que não são de trabalho formal — almoço, mudas de roupa, eventual utilização de meios de transporte coletivos, que não transportes públicos”, afirma a ministra.

Marta Temido aponta ainda situações de convívio a montante dos locais de trabalho, bem como situações de trabalhadores sem vínculo com as entidades empregadoras, no caso de empreitadas e de contratados por empresas de trabalho temporário. “Este focos preocupam-nos, mas estamos a tentos e temos medidas em curso”, afirmou.

Neste cenário em particular, a ministra da Saúde defende uma ação articulada com outras entidades, nomeado a Autoridade para as Condições de Trabalho, o Alto Comissariado para as Migrações, as Juntas de Freguesia e autarquias e até outros ministérios como possíveis partes ativas no controlo do surtos, muitos deles possivelmente associados a comunidades carenciadas e a trabalhadores precários.

O que se passa na Azambuja?

“Não está tudo no local de trabalho. São as condições de vida que muitas vezes geram algum tipo de menor cumprimento das regras e de menor compreensão das mesmas. No cumprimento de algumas medidas como o distanciamento, a higienização e a utilização de máscara é que poderão não estar a ser tidas todas as cautelas”, sublinhou. Minutos depois, a ministra acabaria por afirmar que muitas das pessoas em questão não deixaram de trabalhar durante o período de confinamento.

Numa referência à população imigrante, Temido sublinhou a importância de proporcionar um acolhimento com todas as condições sanitárias. A habitabilidade, a barreira da língua e os método de transporte para o trabalho são preocupações especificas a ter em conta, segundo Temido. “Não quereríamos que a uma chaga social, que hoje já é representada pelo trabalho precário, se junte também uma chaga sanitária”, concluiu.

Número de recuperados vai aumentar para mais do dobro, no próximo domingo

No dia em que a Direção-Geral da Saúde dá conta de um total de 30.471 infetados em Portugal (um aumento de 0,9%) e de 1.302 mortes causados pelo novo coronavírus, até ao momento, Marta Temido indicou que o boletim do próximo domingo irá refletir uma nova contagem dos casos recuperados.

A ministra explicou que o relatório dos recuperados foi sempre feito por notificação direta dos hospitais (e das autoridades de saúde dos casos recuperados que não tinham fonte hospitalar). Os 7.705 deste boletim refletem essa realidade, mas “a partir de amanhã vai haver uma alteração da forma como são calculados esses casos – o que levará a um grande aumento do número de recuperados no relatório de domingo”, indicou.

O TraceCovid que foi concebido para apoiar as equipas de saúde no controlo dos doentes, foi um programa concebido apenas para esse efeito, para acompanhar os doentes — mas foi atualizado e passou a incorporar um campo de registo para os clínicos que tem também o rótulo de doente recuperado, que não existia antes”, disse a ministra.

Assim, “isto faz com que o TraceCovid existam à data um conjunto de doentes que tem registo de curado e que não estão traduzidos no relatório de informação”. “Desses utentes que têm registo de recuperados no TraceCovid 9.652 têm pelo menos um teste negativo e amanhã serão incluídos no relatório de situação como recuperados”. Este é um número que, pelo que explicou a ministra, irá somar-se ao total que tem sido avançado, que está na casa das 7.000 pessoas.

“Para garantir que nenhum destes utentes era um caso já extraído, prevenir eventuais duplicações, fez-se um cruzamento do número de utente, para garantir que a informação é fiável”, acrescentou Marta Temido.

O boletim divulgado este sábado pela Direção-Geral da Saúde trouxe, também, uma evolução positiva no número de pessoas internadas com Covid-19: esse número reduziu-se em 26 pessoas, para 550 à meia-noite deste sábado. Dessas 550 pessoas internadas, 80 estão em cuidados intensivos (eram 84 na véspera). Segundo o mesmo boletim, havia à meia-noite 2.308 pessoas à espera de resultado laboratorial.

Pré-escolar e futebol. Os esclarecimentos da ministra

Sobre a reabertura do pré-escolar, Marta Temido disse que “não está equacionado” fazer testes a todos os trabalhadores dos jardins de infância porque “o tipo de contacto com crianças do pré-escolar não é o mesmo das crianças de mais tenra idade”. “Aquilo que admitimos é que o tipo de risco é diferente e a utilidade dos testes é diferente” neste caso, diz a ministra, que salienta que os testes aos colaboradores de creches deram resultados muito diminutos.

Testes feitos aos jogadores da I Liga terão dado “falsos positivos”

Questionada sobre a informação avançada pelo Expresso sobre os testes “errados” a futebolistas, Marta Temido disse que “nos próximos dias o Instituto Nacional Ricardo Jorge vai reforçar a sua vigilância, o seu acompanhamento, destas entidades, designadamente depois de uma reunião que já foi tida com a associação nacional de laboratórios e um incentivo do INSA a que estas entidades, todas elas, adiram a processos de melhoria de qualidade e boas práticas laboratoriais”.

“Estes casos de falsos positivos têm obviamente impacto na forma como olhamos para os resultados, mas são casos muitíssimos limitados e têm sido todos explicados e identificados processos de melhoria”, diz Marta Temido.