No último sábado, cerca de 3.000 jovens juntaram-se na localidade espanhola de Tomelloso. Durante a noite, comemoraram a segunda fase do desconfinamento com bebidas, naquilo a que em Espanha se dá o nome de botellón. A região é conhecida como a Wuhan de Espanha. Segundo o El Español, esta foi a zona do país mais afetada pelo novo coronavírus e uma das mais fustigadas da Europa.

Ainda assim, os números devastadores das últimas semanas não impediu que milhares de convivas se juntassem na rua para beber com os amigos. O ajuntamento causou indignação entre os restantes moradores da cidade, que alegam a quebra da distância de segurança, a ausência de medidas de proteção individual (nas imagens não aparece praticamente ninguém com máscara) e o desrespeito pelos limites aos aglomerados de pessoas como ações que põem em risco toda a população.

Para além do perigo de contágio, o grupo ainda deixou a zona cheia de lixo. No dia seguinte, as imagens povoaram as redes sociais. A região conhecida como La Mancha, e que apresenta a configuração geográfica de um triângulo, tem 36.091 habitantes. Só em Tomelloso, o novo coronavírus fez 291 mortes desde o início da pandemia, ou seja, 0,8% da população não resistiu à Covid-19. A taxa de mortalidade da região autónoma de Castilla-La Mancha é a mais alta de Espanha — 143 por cada 100 mil habitantes.

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Segundo um órgão da imprensa local, para evitar novos ajuntamentos, as autoridades locais proibiram a venda de bebidas alcoólicas entre as 22h e as 7h. As mesmas autoridades dão números bastantes diferentes do convívio do último sábado: falam em cerca de 500 pessoas — e não em 3.000.

No Twitter, não são apenas os locais a demonstrar indignação. Os comentários criticam a atitude irresponsável dos intervenientes, mas também a inação das autoridades, já que nada foi feito para impedir ou desmobilizar a concentração. “Parabéns ao vereador de Segurança Cidadã de Tomelloso pelo trabalho extraordinário para evitar o enorme botellón na cidade, durante esta fase”, escreve um utilizador de forma irónica.

“Eu à espera para ir de Granada a Córdova ver os meus pais e estas 3.000 pessoas num botellón em Tomelloso”, desabafou outro utilizador desta rede social. Também o jornal espanhol ABC classificou as imagens como vergonhosas.

Questionado sobre o insólito, mas também sobre a festa em Córdova, onde pelo menos um membro da família real belga terá ficado infetado, durante a conferência de imprensa da última segunda-feira, Fernando Simón, epidemiologista ao serviço do Governo espanhol, revelou um ar de reprovação. “Temos feito um esforço muito grande para tentar controlar a evolução da pandemia. Estas situações preocupam-me”, respondeu.