A história da venda, com prejuízo, de mais de 5 mil imóveis e 8 mil frações do Novo Banco ao fundo Anchorage em 2018 — que obrigou a outro esforço do Fundo de Resolução — tem agora mais capítulos, contados pela investigação do Público. Afinal, foi o próprio banco que emprestou dinheiro ao fundo das ilhas Caimão para que a operação se pudesse realizar. E ainda não está claro se os donos do Novo Banco estão de alguma forma envolvidos na compra.

António Ramalho, presidente do Novo Banco, já tinha dito que a venda — o maior negócio imobiliário dos últimos anos em Portugal, que fez parte da estratégia de libertar o excesso de casas que ainda tinha nas contas — foi feita 32% abaixo do preço do mercado. E a diferença ainda era maior face ao valor contabilístico das casas e dos terrenos — valiam no total 631 milhões de euros, mas foram vendidas por 364 milhões.

Só que não se sabia que foi, afinal, o próprio Novo Banco a financiar a operação, de acordo com o Público. Isto é, o hedge fund das ilhas Caimão não arriscou dinheiro, apesar de gerir mais de mil milhões de dólares de investidores. Se o fundo não vendesse nenhuma casa, o dono das hipotecas continuaria a ser o Novo Banco. A prática é legal. Em resposta ao jornal, o Novo Banco responde que “a concessão de crédito às entidades compradoras é uma prática internacional de mercado”.

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Por outro lado, de acordo com o Público, não está ainda claro se a Lone Star, o fundo que detém a maioria do capital do Novo Banco, está envolvida na compra, o que seria uma quebra do contrato de venda do banco pelo Estado em 2017.

As regras de segredo comercial das Ilhas Caimão tornam muito difícil saber quem são os verdadeiros compradores. O Anchorage recusou-se a comentar e o Novo Banco respondeu que tem identificado o beneficiário último da operação, não havendo ”qualquer registo ou evidência de transacção com partes relacionadas”. Só que, lembra o Público, o “beneficiário último” identificado nos registos do regulador norte-americano é a Anchorage, entidade gestora do fundo, e não os verdadeiros donos. E o Banco de Portugal não fiscaliza previamente os eventuais problemas legais deste tipo de operações.

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O Público nota que o vice-presidente da Lone Star aquando da operação foi, depois de feito o negócio, contratado pelo fundo das ilhas Caimão — apesar de não haver provas de que o negócio tenha passado por ele.

A operação foi feita através de um veículo da Anchorage no Luxemburgo, que comprou cinco sociedades imobiliárias portuguesas, que tinham sido criadas nesse último ano por um engenheiro/pintor português. As imobiliárias, segundo o Público, não tiveram qualquer outro negócio.

Foi o Fundo de Resolução — financiado em grande medida pelo Estado — que cobriu o prejuízo. Neste caso, 260 milhões de euros.