O Fundo Monetário Internacional avisa que “uma segunda vaga da crise, com um novo aperto das condições financeiras” no mundo, poderia “aprofundar o declínio no comércio global” e tornar a vida ainda mais difícil aos mercados emergentes e às economias em desenvolvimento, porque ficariam sem margem para gerir défices externos.
No ano passado, de todos os excedentes ou défices que os países tiveram nas balanças correntes em todo o mundo, — que incluem importações e exportações, prestação de serviços para o exterior, remessas de emigrantes e outras transferências — cerca de 40 por cento “foram excessivos” para o FMI, um pouco menos do que no ano anterior.
E para 2020 as perspetivas são “muito incertas”, num contexto em que a pandemia causou um “forte declínio no comércio global, preços baixos das matérias-primas e um aperto das condições externas de financiamento”.
Os grandes desequilíbrios globais em contas com o exterior estão concentrados no Canadá, no Reino Unido e nos EUA (maiores défices externos) e, em sentido contrário, na Alemanha e na Holanda (com maiores excedentes).
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O FMI nota que nos países que dependam de setores fortemente afetados pela pandemia — como o petróleo ou o turismo —, ou de remessas de emigrantes, “o impacto da crise foi especialmente agudo”. Aqui, os efeitos negativos nas contas com o exterior “podem exceder os 2% do PIB” e, por isso, esses países “vão provavelmente precisar de um ajustamento económico”.
Por outro lado, para economias que tenham muita pressão sobre as contas externas e que não tenham acesso a financiamento privado do exterior, “o financiamento oficial pode ajudar a assegurar que os gastos com saúde não são postos em causa”.
O Fundo Monetário alerta ainda que, a médio prazo, “as distorções económicas e políticas anteriores à crise podem persistir ou piorar, implicando a necessidade de reformas”. Por isso, se os défices externos de 2019 “refletirem, em parte, défices orçamentais maiores do que o desejável” e se esses desequilíbrios persistirem para lá da crise, o FMI recomenda “consolidação fiscal a médio prazo” para tornar a dívida sustentável e tornar mais saudável a relação com o exterior.
Já para os países que acumulem saldos externos positivos, como a Alemanha ou a Holanda — se continuarem com contas muito elevadas no pós-crise —, o FMI recomenda que promovam “reformas que estimulem o investimento e desencorajem a excessiva poupança”. Se tiverem margem orçamental para gastar, a receita do FMI passa por políticas orientadas para o crescimento, “com mais investimento no setor público”.