O presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel de Lemos, afirmou que houve recusa de assistência médica num lar do Barreiro, distrito de Setúbal. Neste lar, houve um surto de Covid-19 que matou três idosos e infetou dezenas de utentes. “O lar até tem médica. Na verdade, tem mais do que um médico. Mas os médicos estavam a ter férias no Algarve”, afirmou em declarações à Rádio Renascença.

Covid-19. Morreram três idosos e 48 casos continuam ativos em lar no Barreiro

O pedido de assistência foi feito aos médicos do centro de saúde do Barreiro, que terão recusado, sem avançar as razões, explicou Manuel Lemos aos jornalistas depois de ter relatado o episódio ao bastonário da Ordem dos Médicos.

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A recusa foi comunicada pela provedora da Santa Casa de Misericórdia do Barreiro, segundo a qual lhe terá sido relatado que nenhum dos centros de saúde do Barreiro estaria disponível para prestar auxílio nos lares, o que parece contrariar um despacho do Ministério da Saúde de abril que obriga a essa prestação de serviço em caso de surtos em lares. Esta indicação foi entretanto desmentida pelo diretor executivo do agrupamento de centros de saúde do Barreiro. Miguel Lemos Nascimento, citado pela SIC, garante que os idosos têm tido o acompanhamento necessário, mas como estão assintomáticos não se reforçaria o reforço da assistência.

Sublinhando não querer ser acusado de omissão de ajuda, o presidente da União das Misericórdias acrescenta que pediu uma reunião com o bastonário da Ordem dos Médicos para apelar a uma sensibilização dos os profissionais no sentido de não permitirem que as pessoas nos lares das misericórdias fiquem sem assistência médica. Até porque levá-los para um hospital representa maiores riscos. Miguel Guimarães afirmou aos jornalistas não ter conhecimento do caso.

Manuel de Lemos continua a explicação: “Num primeiro momento, nós transferimos os doentes que estavam sintomáticos para os hospitais. E como o lar é grande, tentámos isolar os que estavam assintomáticos dos que estavam negativos. Naturalmente estas pessoas precisam de cuidados médicos. E a senhora provedora telefonou-me no sábado, dizendo-me que o diretor do lar lhe tinha dito que tinha uma carta assinada pelos médicos, que se recusavam a ir ao lar”.

Segundo Manuel de Lemos, a situação foi-lhe divulgada pela provedora da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro, Sara de Oliveira, após esta ter pedido o apoio do médico do Centro de Saúde local.

A denúncia do responsável das misericórdias surge depois da polémica frase do primeiro-ministro António Costa: “É que o presidente da ARS mandou para lá os médicos fazerem o que lhes competia. E os gajos, cobardes, não fizeram”. Esta frase foi divulgada num vídeo numa conversa privada — em off the record — que teve com jornalista do Expresso.

A história do vídeo em que Costa chama “cobardes” aos médicos. Quando saiu? Quem o cortou? Que consequências terá?