Donald Trump foi para o olho do furacão. Em plena campanha eleitoral, o presidente e candidato presidencial norte-americano esteve esta terça-feira em Kenosha, Wisconsin, cidade que está mergulhada em tumultos depois do caso de Jacob Blake, o afro-americano de 29 anos que ficou gravemente ferido depois de um polícia o ter baleado sete vezes nas costas, e depois da morte de dois manifestantes anti-racismo.
Segundo relata o New York Times, uma multidão de apoiantes das manifestações “Black Lives Matter” estava reunida na baixa da cidade à espera da chegada de Trump, que visitou a zona da cidade destruída pelos protestos sem se reunir com a família de Blake porque, de acordo com o Presidente norte-americano, a família queria envolver advogados. Em vez disso, Trump esteve reunido, num evento de mesa redonda, com forças policiais e xerifes locais a quem disse que deveriam travar os protestos que se tornassem descontrolados. O mais perto que esteve do caso Blake foi quando se dirigiu aos dois reverendos, próximos da família, que se encontravam na sala.
Instado a deixar uma mensagem à família de Blake, Donald Trump limitou-se a dizer: “Sinto-me terrível por qualquer pessoa que passe por aquilo, por isso é que estou tão honrado por me encontrar aqui com o reverendo“. E insistiria de seguida: “Sinto-me mal por qualquer pessoa que passe por aquilo, mas, como sabem, o caso está sob investigação”.
“Espero que cheguem à verdade. É um assunto complicado, para ser sincero com vocês. Mas sinto-me mal por qualquer pessoa que passe por aquilo — e não consegui falar com a mãe, que ouvi dizer que é boa pessoa. Ouvi-o aqui do reverendo, uma excelente pessoa”, disse ainda.
Esta foi a primeira vez que Donald Trump se referiu, ele próprio, ao caso dos disparos por parte da polícia a Jacob Blake, quando este se dirigia para o carro onde estavam os três filhos. De acordo com a CNN, o presidente norte-americano falou depois sobre as pessoas cujos negócios foram atingidos pela vaga de protestos e manifestou o seu apoio às forças de segurança, mas nunca se dirigiu diretamente ao alegado excesso de força policial.
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Ainda de acordo com a CNN, só ao fim de cerca de 30 minutos no local é que um dos intervenientes no encontro referiu o nome de Jacob Blake — foi quando o reverendo sublinhou que “reza pelas melhoras de Jacob”. Comentário que o presidente norte-americano não terá acompanhado.
Certo é que Donald Trump aproveitou a visita a Kenosha para sublinhar a sua grande bandeira de campanha a respeito da lei e ordem, acusando os políticos democratas e liberais de encorajarem os manifestantes e “anarquistas” a ir para a rua manifestar-se, desvalorizando ao mesmo tempo a brutalidade policial que está na origem dos protestos.
Segundo o New York Times, foi esse o foco de Trump naquela que era uma visita muito aguardada: pôs a tónica nos protestos e não no racismo ou na violência policial. “Políticos imprudentes de extrema esquerda continuam a defender a mensagem destrutiva de que a nossa nação e as forças de segurança são opressivas ou racistas”, disse o presidente durante uma sessão com xerifes locais e líderes políticos republicanos. “Na verdade, devemos é mostrar um apoio muito maior às nossas forças da lei”, disse.
Na versão do advogado de defesa de Jacob Blake, o homem de 29 anos foi alvejado pela polícia, nas costas, sete vezes, depois de ter tentado travar uma discussão entre duas mulheres. Está neste momento no hospital e encontra-se paralisado. Sobre Blake, contudo, Trump não disse nada. À polícia, contudo, dirigiu mensagens de encorajamento: “O povo adora-vos”, disse, desculpando depois os polícias envolvidos nos casos de tiroteios dizendo que “estão sob enorme pressão e não lidam bem com isso”. “Entram em choque, acontece”.
Questionado, durante a mesa redonda, sobre se achava que a violência policial era uma questão sistémica, Trump foi perentório: “Não acredito que seja. Acho que a polícia faz um incrível trabalho, o que pode haver é umas maçãs podres”. Na verdade, segundo relata o New York Times, a pergunta sobre a violência sistémica tinha sido dirigida pelos jornalistas aos dois reverendos presentes na sala, os únicos afro-americanos presentes, mas Trump respondeu por eles.