Diversos bancos norte-americanos facilitaram a saída de mais de 4,8 mil milhões de dólares da Venezuela entre 2009 e 2017. Os fundos pertencem a um conjunto diversificado de oligarcas venezuelanos que terão sido beneficiados com contratos públicos pelos sucessivos governos de Hugo Chávez e de Nicolás Maduro, revela uma investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas, do qual o Expresso faz parte.

De acordo com o trabalho publicado pelo Expresso, um desses oligarcas, chamado Alejandro Ceballos Jiménez, terá usado o Espírito Santo Bank em Miami para transferir para o exterior cerca de 262,9 milhões de dólares entre janeiro de 2013 e janeiro de 2014 — precisamente a altura em que o Grupo Espírito Santo (GES) estava em derrocada acelerada devido a alegadas irregularidades da gestão de Ricardo Salgado que já levaram o Ministério Público (MP) a deduzir acusação contra Ricardo Salgado e outros gestores do BES e do GES.

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Tal como o Observador tem noticiado desde 2017, o MP continua a investigar diversos crimes de corrupção no comércio internacional que terão sido praticados por Ricardo Salgado e por outros gestores do GES. Diversos titulares de cargos políticos do Governo de Hugo Chavéz e de Nicolás Maduro, assim como gestores de diversas empresas públicas venezuelanas (nomeadamente, do Grupo Petróleos da Venezuela), são suspeitos de terem sido alegadamente corrompidos a mando de Salgado para depositarem fundos públicos no BES e adquirirem títulos de dívida das diversas empresas (falidas) do GES. Além disso, o MP e as autoridades norte-americanas suspeitam que diversas instituições bancárias do GES tenham sido utilizadas como plataforma de branqueamento de capitais e de pagamentos de alegados subornos a altas figuras políticas venezuelanas.

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O Expresso afirma que Alejandro Ceballos Jiménez não está entre as figuras sob investigação em Portugal, tendo o Observador confirmado essa informação.

A nova investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas baseia-se em mais de 2100 relatórios bancários confidenciais que foi partilhado pelo site norte-americano BuzzFeed News. Estes relatórios são designados nos Estados Unidos como “Suspicious Activity Reports” e são muito semelhantes aos alertas que os bancos portugueses são obrigados a enviar para a Procuradoria-Geral da República e para a Unidade de Informação Financeira da Polícia Judiciária sempre que detetam transferências com alegada origem ilícita dos seus clientes, nomeadamente branqueamentos de capitais.

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