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Era um homem pacato que trabalhava num pequeno hotel na Suíça. Como tantos portugueses, tinha emigrado para terras helvéticas com a sua mulher em busca de melhores condições de vida. Trabalhador e atento a novas oportunidades, Paulo Murta — assim se chama o nosso protagonista — conheceu no final dos anos 90 um suíço chamado Michel Joseph Ostertag, um financeiro da confiança de Ricardo Salgado. Quase sem dar por isso, Murta tinha nas mãos um convite para ir trabalhar na Gestar, uma sociedade de gestão de fortunas do Grupo Espírito Santo (GES). Não olhou para trás e entrou no mundo da alta finança. Algo que mudaria a sua vida para sempre.
Avancemos um pouco mais de 10 anos. Paulo Murta já vive no Dubai, é o braço direito de Michel Ostertag na ICG Wealth Management, uma sociedade semelhante à Gestar, e passa a vida entre os Emirados Árabes Unidos e a Suíça. Pelo meio, faz algo que lhe desagrada de sobremaneira: viaja inúmeras vezes para Caracas, a capital da Venezuela. Para quê? Para tratar diretamente com os verdadeiros titulares das estruturas (leia-se sociedades offshore) que Ostertag, o ‘fininho’ como era conhecido entre a família Espírito Santo, criava para os clientes venezuelanos que Ricardo Salgado escolheu para o ajudarem, na fase de puro desespero na salvação do GES. Muitos desses clientes não só eram membros dos Governos de Hugo Chávez e do seu sucessor Nicolas Maduro como faziam parte da elite política e económica da Venezuela — um país onde as duas esferas tinham sido alvo de fusão com o patrocínio da revolução bolivariana.
O papel de Paulo Murta era recolher assinaturas para a documentação de criação das sociedades offshore, assim como para as transferências bancárias entre diferentes instituições financeiras — como as do GES e de outros grupos bancários europeus — que criariam um pequeno carrossel financeiro entre o Dubai, a Suíça, a Madeira e o Texas, nos Estados Unidos. Praticamente todos os clientes de Murta escolhiam familiares como testas-de-ferro das sociedades sediadas em paraísos fiscais, para ocultarem o verdadeiro proprietário. Estávamos em 2012. A Venezuela estava longe da crise económica e humana dramática em que está hoje mergulhada e o GES era, à primeira vista, uma rocha financeira — sólida e segura. Contudo, todo o cuidado era pouco, apesar da crença de que todas aquelas empresas e transferências seriam secretas para sempre.
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