Os nascimentos em França de mães portuguesas, que representavam 2,8% das crianças ali nascidas em 1977, diminuíram em quatro décadas para 0,6%, tendo recentemente aumentado graças à retoma da emigração para aquele país, segundo uma investigação esta terça-feira divulgada.

A conclusão resulta da análise de uma série estatística sobre os nascimentos em França de mães de origem estrangeira, entre 1977 e 2018, da autoria de Inês Vidigal, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) do Instituto Universitário de Lisboa. Intitulado “Nascimentos em França de mães portuguesas, 1977-2018”, a análise está a ser divulgada pelo Observatório da Emigração e identifica “o declínio” dos nascimentos em território francês das mães de origem portuguesa e suas relações com a evolução dos nascimentos em França.

A investigação começa por abordar o final da década de 1970 que se caracterizou por “valores muito elevados de nascimentos de mães portuguesas”.

“Em 1977 verifica-se o maior número da série em análise, com 21.127 nascimentos, quando o peso dos nascimentos de mães portuguesas era muito elevado: 2,8% em relação ao total de nascimentos em França e 16,9% no total de nascimentos de mães estrangeiras”. No oposto, em 2010 registou-se o valor mais baixo do período em análise, com apenas 4.350 nascimentos em França de mães portuguesas, e o valor mínimo no total de nascimentos em território francês: 0,5% do total. Entre 2013 e 2016 registou-se uma ligeira retoma dos nascimentos de mães portuguesas em França, um crescimento que “acompanhou a retoma da emigração que se verificou a nível mundial, e na qual a emigração portuguesa para França voltou a registar valores bastante elevados, com um máximo de quase 20 mil entradas em 2012”. Nesta década, observa-se uma estabilização dos valores em cerca de 4.600 nascimentos por ano, sendo a representatividade dos nascimentos em França de mães portuguesas cerca de 0,5% em relação ao total de nascimentos e de 3% em relação aos de mães estrangeiras.

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Entre os principais países de origem das mães que têm filhos em França, Portugal ocupava no último período em análise (2010-2018) o quinto lugar, com uma média de 4.181 nascimentos anuais. Portugal seguia nesta posição a Argélia, que ocupava o primeiro lugar (25.247 nascimentos anuais), seguida de Marrocos (22.848), da Tunísia (7.257) e da Turquia (6.576). Entre 1977 e 1979, Portugal ocupava a terceira posição (19.539 nascimentos anuais), com Marrocos no segundo lugar (19.826) e Argélia no primeiro (33.494). A autora conclui que a evolução da variação dos nascimentos em França se explica “mais por fatores reportáveis ao país de nascimento das mães do que ao país de destino, a França”.

“São os ciclos de crescimento, estagnação e regressão da emigração portuguesa para França que explicam, com um hiato de quase uma década, a evolução do número de nascimentos de mães portuguesas a residir em França”, prossegue a investigadora. E acrescenta: “Reduzindo-se a entrada de novos contingentes de emigrantes portuguesas em idade fértil, reduz-se o número de nascimentos de filhos de mães portuguesas, mesmo quando aumenta o número de portugueses a residir em França”. Por outro lado, ressalva a investigadora do Observatório da Emigração, “o envelhecimento crescente desta população portuguesa emigrada em França explica o sentido globalmente decrescente do número de nascimentos de mães portuguesas”.

De acordo com esta investigação, “os nascimentos em França de mães estrangeiras têm uma característica comum ao longo da série em análise: a maioria dos nascimentos que ocorreram eram de mães de origem africana, sobretudo do norte de África”.

“A grande representatividade do continente africano nos nascimentos em França é facilmente explicada pelas grandes vagas migratórias que ocorreram com a descolonização de territórios ocupados pelos franceses, como a Argélia, o Senegal, a Costa do Marfim, a Tunísia e Marrocos”, lê-se nas conclusões do estudo.

Em 41 anos (1977 a 2018) nasceram em França 5.577.222 crianças de mães com origem estrangeira.