O Fundo Monetário Internacional prevê agora um défice de 8,4% este ano para Portugal, mais do que os 7,1% que apontou em abril e do que os 7,3% previstos pelo Governo na proposta de Orçamento do Estado. Para 2021, no entanto, os papéis são invertidos: o FMI acredita que o saldo será negativo em 2,7% no próximo ano, bastante melhor do que a previsão de 4,3% do executivo (que, mesmo em 2022, ainda tem em vista um défice de 2,8%).

O relatório “Fiscal Monitor” do FMI, que faz uma análise às contas públicas em todo o mundo, arrisca ainda com previsões para 2022, em que o défice poderá atingir 1,6%, 2023 (-0,7%), 2024 (-2,3%) e 2025 (-1,8%).

Sem contar com os juros da dívida (saldo primário), o FMI antevê para este ano um défice de 5,3% para Portugal — o primeiro saldo primário negativo desde 2015 —, seguindo-se um resultado nulo em 2021 e, finalmente, um saldo positivo de 0,8% em 2022. Já o saldo estrutural, que não tem em conta a conjuntura económica nem medidas temporárias, deve passar de -0,1% para -5,5% em 2020, baixar para -1,3% logo em 2021 e para -1,2% em 2022.

Para o FMI, a dívida pública atingirá um máximo de 137,2% do PIB em 2020 (mais do que os 134,8% previstos pelo Governo e do que os 135% que tinha apontado em abril), baixando depois progressivamente para 130,0% em 2021 (semelhante aos 130,9% do executivo) e 124,1% em 2022. Em 2025, Portugal ainda deverá estar com a dívida pública nos 115%, pouco abaixo do valor que Portugal registava em 2019 (117,2%).

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No caso da dívida líquida (descontando os depósitos), o FMI prevê 130,3% este ano, 123,6% em 2021 e 118,0% em 2022.

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Esta terça-feira, o FMI já tinha apontado para uma quebra de 10% na atividade económica este ano (mais do que os 8,5% previstos pelo Governo) e para uma subida do PIB de 6,5% em 2021 (aqui, o Governo é menos otimista, prevendo um crescimento de 4,3%).

Espanha e Itália lideram défices da zona Euro

A situação das contas portuguesas não deverá ser, apesar de tudo, tão grave como na generalidade dos países da Zona Euro, que, em média, deverá registar défices de 10,1% este ano e de 5% no próximo.

Muito afetada pela pandemia, Espanha terá quase o dobro do défice português em 2o20 (–14,1%) e mais do dobro em 2021 (–7,5%). Itália encontra-se numa circunstância semelhante, embora as contas sejam menos más do que as do governo espanhol  (–13,0% em 2020 e –6,2% em 2021). Também França (-10,8% este ano e -6,5% no próximo) e Alemanha (-8,2% e -3,2%) deverão ter défices maiores do que Portugal.

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Entre os países que foram alvo de resgate da Troika na última década, a Grécia deverá ter um défice de 9,0% este ano e 3,0% no próximo, mas Irlanda (-6,0% e -2,7%) e Chipre (-5,6% e -2,0%) terão menos trabalho para pôr as contas em ordem.

Entre as 35 economias desenvolvidas analisadas pelo FMI, é o Canadá que apresenta o maior rombo nas contas públicas (-19,9% em 2020 e -8,7% em 2021), seguido dos EUA (–18,7% e –8,7%) e Reino Unido (-16,5% e -9,2%).