O Papa Francisco diz, num documentário divulgado esta quarta-feira, que os homossexuais “são filhos de Deus e têm direito a uma família”, como tal apela a que os países criem uma lei de união civil que os proteja legalmente como aos casais heterossexuais casados ou em união de facto, noticia a Catholic News Agency. O casamento de homossexuais continua a não ser permitido na Igreja Católica, mas o Papa rejeita que esta comunidade de crentes seja expulsa da Igreja.

O que temos que criar é uma lei da união civil. Dessa forma, eles estão legalmente cobertos. Defendo isso”, disse o Papa Francisco no documentário sobre o acompanhamento pastoral da comunidade LGBT.

Sem uma lei que proteja pessoas do mesmo sexo que vivam em união, estas pessoas ficam impedidas de exercer os seus direitos quando são, na verdade, o familiar mais próximo a quem contactar em caso de doença ou em caso de morte do outro.

A posição do líder da Igreja Católica choca frontalmente com a posição do Papa Bento XVI. “A Igreja ensina que o respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo nenhum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais”, disse Joseph Ratzinger, em 2003, quando ainda era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o braço direito do Papa João Paulo II.

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A posição atual choca também, em certa medida, com as suas ideias como arcebispo de Buenos Aires: em 2010, opôs-se aos esforços de legalização da união das pessoas do mesmo sexo na Argentina. Fica, no entanto, por confirmar se já nessa altura defendia a criação de leis de união civil conforme sugerido pelo seu futuro biógrafo, Sergio Rubin. Em 2013, o Papa disse que não rejeitaria se um homossexual procurasse a fé: “Se uma pessoa é homossexual e procura Deus e a boa vontade divina, quem sou eu para julgá-la?”.

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Apesar da posição mais progressista do Papa Francisco, a doutrina da Igreja sobre o assunto permanece a mesma: o casamento deve ser feito entre um homem e uma mulher com a finalidade de gerar descendência. “Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta [aos homossexuais] como depravações graves, a Tradição sempre declarou que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’. São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados”, lê-se no número 2357 do Catecismo da Igreja Católica.

A declaração do Papa Francisco sobre a união civil de homossexuais surge do documentário produzido por Evgeny Afineevsky, um produtor russo a viver nos Estados Unidos, que fala também da forma como o Papa defende os migrantes e refugiados, os pobres, o trabalho do líder da Igreja Católica em relação aos abusos sexuais por parte de membros do clero ou o papel das mulheres na sociedade.