“Não há dados suficientes para recomendar a vacinação de crianças e grávidas” com as vacinas atualmente disponíveis contra a Covid-19, refere o plano nacional de vacinação para este tipo de vacinas. A mesma recomendação é dada no Reino Unido. “Apenas as crianças com elevado risco de exposição e de desenvolvimento de doença grave, como crianças mais velhas com neurodeficiências graves e que requerem cuidados, devem ser vacinadas”, lê-se no documento que define grupos prioritários no Reino Unido.

Canadá e Estados Unidos, por sua vez, vão optar por vacinar crianças a partir dos 16 anos, mas não mais novas, pelo menos por enquanto. Nenhuma das vacinas aprovadas tem dados de ensaios clínicos em crianças mais novas e mesmo os dados com adolescentes são menos robustos do que com adultos.

Porque é que os países optam por não vacinar as crianças?

A maior parte das vacinas em desenvolvimento contra a Covid-19, e mesmo as que já foram aprovadas, foram testadas exclusivamente em maiores de 18 anos ou têm muito poucos dados com crianças abaixo dessa idade.

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Sem dados de eficácia e segurança nas crianças (até aos 18 anos) — e sobre as diferenças entre os diferentes grupos etários (um bebé não terá a mesma reação que um adolescente)—, as autoridades de saúde preferem não arriscar. Além disso, até ver as vacinas só conseguiram demonstrar eficácia na prevenção de casos graves de Covid-19 e as crianças são normalmente assintomáticas ou têm doença ligeira.

Num momento em que as vacinas são tão escassas, faz sentido vacinar primeiro os grupos que têm maior risco de exposição ou maior risco de desenvolver doença grave, como os idosos e as pessoas com doença prévia.

Grupos prioritários, locais de vacinação, prazos. Conheça o plano do Governo ponto por ponto

Há ensaios clínicos a decorrer com crianças?

A Pfizer/BioNTech começou a recrutar crianças entre os 12 e os 15 anos em julho para participarem nos ensaios clínicos de fase III com os adolescentes acima dos 16 anos e adultos. Até dia 14 de dezembro já tinha recrutado 697 voluntários entre os 12 e os 15 e 733 entre os 16 e os 17 anos, mas os eventuais resultados sobre esta parte do ensaio clínico ainda não foram revelados.

A Moderna já começou a recrutar crianças entre os 12 e os 17 anos nos Estados Unidos para participarem no ensaio clínico de fase II e III. O ensaio com 3.000 crianças só estará concluído em junho de 2022.

A farmacêutica chinesa Sinovac tem previsto um ensaio clínico de fase I e II com crianças entre os três e os 17 anos: na primeira fase serão incluídos 72 voluntários e na segunda fase 480. Todos os voluntários, recrutados na China, vão receber duas doses da vacina (a segunda dose ao fim de 28 dias) e vão ser testadas diferentes dosagens para ver qual a mais eficaz. O final do ensaio clínico está previsto para setembro de 2021 (e os primeiros dados não devem ser conhecidos antes de fevereiro).

A CanSino, outra farmacêutica chinesa, também vai incluir crianças num ensaio clínico de fase I: 100 crianças entre os seis e os 17 anos vão receber duas doses da vacina e 50 vão receber um placebo (para se poder comparar os benefícios da vacina contra a Covid-19). Este ensaio, que também vai incluir adultos, só deverá estar terminado em outubro de 2022 (com os primeiros dados a poderem ser libertados depois de agosto de 2021).

A Sinopharm, também ela uma farmacêutica chinesa, tem ensaios a decorrer em parceria com o Instituto de Produtos Biológicos de Pequim e com o Instituto Biológico de Wuhan e preveem a inclusão de crianças com mais de três e seis anos, respetivamente, em ensaios de fase I e II, mas até ao momento não há resultados conhecidos para estas faixas etárias.

A vacina da Bharat Biotech, uma farmacêutica indiana, também planeia realizar ensaios clínicos com crianças a partir dos 12 anos.

Se as crianças podem transmitir o vírus, não era melhor começar a vaciná-las também?

Até ao momento, nenhuma das vacinas aprovadas, conseguiu demonstrar que é eficaz a prevenir a infeção com SARS-CoV-2 ou a transmissão do vírus. Logo, não há prova de que uma pessoa vacina fique protegida contra o vírus e/ou que não o passe aos outros. O que as farmacêuticas conseguiram demonstrar é que as pessoas vacinadas tinham menos probabilidade de desenvolverem doença Covid-19, mesmo quando eram infetadas, e que, quando adoeciam, a doença era menos grave.

Sem prova de que a vacina impede as crianças de transmitirem o vírus, cai por terra o argumento de que deveriam ser usadas por esse motivo.

Reino Unido. Vacina da Covid-19 suspensa temporariamente para quem tem alergias graves

As vacinas serão tão seguras para crianças como para adultos?

Até agora, os principais efeitos secundários das vacinas reportados durante os ensaios clínicos estavam relacionados com a injeção em si, como vermelhidão e dor no local da picada. Depois de iniciada a vacinação no Reino Unido, verificou-se que pessoas que sofressem de alergias não deveriam tomar a vacina.

Ora, as crianças tendem a sofrer mais de alergias e a ter reações mais exacerbadas do que os adultos, o que também poderia acontecer com estas vacinas, refere Wesley Kufel, professor de Farmácia na Universidade Binghamton (Reino Unido) num artigo de opinião no The Conversation. O que não quer dizer que os sintomas não sejam passageiros como para os adultos, mas podem ser mais marcados e incómodos nas crianças.

As crianças teriam o mesmo regime de vacinação dos adultos?

As farmacêuticas que têm ensaios a decorrer com crianças, estão a estudar o mesmo esquema de vacinação: duas doses, espaçadas de 21 ou 28 dias conforme a vacina. Mas só os ensaios clínicos poderão dizer se são precisas mais ou menos doses e qual a dosagem indicada para uma criança.