O conselheiro das Comunidades Portuguesas Vasco Pinto de Abreu considerou esta terça-feira que o voto presencial na eleição do Presidente da República em tempos de pandemia da Covid-19 resultará numa abstenção superior a 90% na África do Sul.
“Se votarem duas mil pessoas, a abstenção será de 95%, ou coisa parecida”, frisou Vasco Pinto de Abreu, salientando que “vai ser uma abstenção enorme na África do Sul, como também em países como a Austrália, o Brasil, os Estados Unidos, o Reino Unido e a Alemanha, que são países enormes com distâncias muito grandes”.
O conselheiro referiu não acreditar que “numa altura em que há uma crise pandémica, que as pessoas se vão deslocar”.
“Há 10 anos, fiz parte da mesa eleitoral aqui na área de Joanesburgo e se bem me lembro nessa altura votaram só 750 pessoas, já seria muito bom que os números pelo menos duplicassem ou triplicassem, julgo que não será mais do que isso”, salientou.
Nesse sentido, o conselheiro português considerou que a falta de adesão às urnas no próximo sábado e domingo no país africano, dever-se-á à ausência de divulgação do ato eleitoral por parte da Comissão Nacional de Eleições (CNE) junto da vasta comunidade portuguesa residente na África do Sul e à obrigatoriedade do voto presencial.
Nós pedimos várias vezes, tivemos duas reuniões até com a CNE para divulgarem os atos eleitorais e até agora não vi, e já pedimos por várias vezes para o voto postal ser extensivo também às presidenciais e mais uma vez os partidos políticos na Assembleia da República não aceitaram e o voto presencial é complicado, há pessoas que para poderem votar têm de fazer mais de 1.000 quilómetros, é completamente impossível”, frisou.
Vasco Pinto de Abreu referiu também à Lusa que nas reuniões com a CNE, em Lisboa, há dois anos, o Conselho das Comunidades Portuguesas solicitou o desdobramento das mesas de voto na África do Sul, a exemplo do que se faz esta terça-feira em Portugal, até em lares de idosos.
Temos o exemplo de Bloemfontein [província do Estado Livre, a cerca de 400 quilómetros de Joanesburgo], Klerksdorp [Noroeste, a cerca de 170 quilómetros] e Rustenburg [Noroeste, a cerca de 145 quilómetros] onde foram feitas várias permanências consulares e até agora não foi acolhido esse nosso pedido, não houve desdobramento de nenhuma mesa de voto”, disse.
O conselheiro referiu que não sabe se “será por má vontade” ou “por dificuldades de os funcionários não se poderem deslocar, devido à pandemia também”.
Estima-se em 450 mil o número de portugueses e lusodescendentes residentes na África do Sul, sendo considerada uma das maiores comunidades emigrantes fora de Portugal.
Dados de novembro de 2020, indicam que cerca de 125 mil portugueses têm registo consular na África do Sul, dos quais cerca de 75 mil em Joanesburgo, o motor da economia do país, 13 mil em Durban e cerca de 20 mil na Cidade do Cabo, disse à Lusa fonte consular.
Na África do Sul, os recenseados para a eleição do Presidente da República, em 23 e 24 deste mês, apenas poderão votar em quatro das seis representações diplomáticas no país, nomeadamente na secção consular da Embaixada de Portugal em Pretória [que acompanha também os assuntos em Madagáscar, onde dispõe de consulado honorário], no Consulado-geral na Cidade do Cabo [com jurisdição no Cabo Ocidental e Cabo Oriental], no Consulado-geral em Joanesburgo e no consulado honorário, em Durban, disse à Lusa fonte consular.
Na vasta área consular de Joanesburgo, além da pandemia da Covid-19, “há pessoas que têm receio de vir votar por motivos de segurança também, mas a principal razão é a distância”, sublinha Vasco Pinto de Abreu.
Vasco Pinto de Abreu considerou ser “um contrassenso” haver recenseamento automático e que no meio de uma pandemia não haja alternativa além do voto presencial para a emigração.
Chegámos à conclusão nas últimas eleições que o voto postal bateu em larga escala o voto presencial, […] aqui na África do Sul infelizmente ninguém votou porque os votos chegaram tarde, portanto não houve votos da África do Sul, mas o voto eletrónico é a solução e teremos de ir para essa solução”, defendeu.
As eleições presidenciais, que se realizam em plena pandemia de covid-19, estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.
Concorrem às eleições sete candidatos, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP) Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, João Ferreira (PCP e PEV) e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).