Os martelos só pararam quando o Presidente da República, o primeiro-ministro, a ministra da Saúde e outros membros do Governo entraram no refeitório do Hospital das Forças Armadas que está a ser transformado numa enfermaria. Camas por todo o lado, mesas e cadeiras a serem colocadas no lugar, todo um amplo espaço que está a ser preparado para receber doentes Covid-19 daqui a uns dias.

É ali que, menos de 48 horas depois da noite eleitoral, o chefe de Estado e o primeiro-ministro voltam a aparecer juntos. “Em total união” e “todos unidos com o mesmo objetivo”, como Marcelo fez questão de frisar. No momento em que se discute a decisão de alguns países de proibirem as máscaras comunitárias, Marcelo, Costa e Marta Temido surgem com máscaras de maior proteção – e não com as que os têm acompanhado ao longo dos últimos meses – e visitam o que está a ser feito nas instalações do Hospital que vai está a duplicar a capacidade de camas e a transformar vários espaços em enfermarias.

António Costa foi o primeiro a falar, a agradecer o “reforço importante e extraordinário” que está a ser feito e o facto de estar a ser possível “transformar [zonas] para disponibilizar camas de enfermaria e cuidados integrados”, mas as perguntas ficaram todas para Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República respondeu a tudo e diz ser “prematuro antecipar datas” para a vacinação dos políticos, até por ser uma “matéria que é do foro das autoridades sanitárias”, mas considera importante que haja ajustes “às circunstâncias do momento”. Sobre o estado de emergência, espera que haja uma renovação e acredita que, apesar de ainda ter de ser votado, há “toda a lógica” em que o país siga num estado crítico tendo em conta a pandemia.

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Depois de deixar claro que “será preciso algum tempo” para avaliar medidas do fecho das escolas e que só faz sentido uma reunião do Infarmed quando houver “dados disponíveis”, Marcelo recusa-se, para já, a pedir ajuda internacional. “Dos dados que conheço não há, neste instante, razão que determine uma ideia de alarme social quanto à necessidade de recurso a ajuda internacional”, explica o chefe de Estado.

Era pelas mudanças no hospital que o chefe Supremo das Forças Armadas estava ali e Marcelo fez questão de agradecer o trabalho feito, não só agora, mas na primeira vaga e garantiu que foi feito tudo “de acordo com as necessidades da época” para justificar a não atuação mais rápida. “[Na primeira vaga] não havia a necessidade de internamento que há hoje, a expansão do rastreio que existiu nos últimos meses, a necessidade de instalações de recuo que se tornaram mais prementes a partir da transição do outono para o inverno”, explicou, enquanto elogiava o facto de as Forças Armadas terem estado “sempre presentes”.

Ainda antes de abandonar o hospital, Costa e Marcelo deixam o refeitório juntos e seguem na frente da comitiva à conversa. Também Marta Temido se junta. Há sorrisos e até uma ou outra gargalhada. Marcelo prepara-se para seguir para Belém, faz uma espécie de vénia a todos, ainda troca umas palavras com o primeiro-ministro, mas Costa diz que falam mais tarde. Os “parabéns” ao Hospital das Forças Armadas e o adeus final. É a vez de Costa sair e perguntar a Duarte Cordeiro se não quer juntar-se a si. “Assim falamos já”, diz o primeiro-ministro. A resposta é “claro” e está terminada a visita. Sobre as eleições nem uma palavra, mas uma coisa é certa, o bom ambiente entre Presidente da República e primeiro-ministro é claro e está para durar.

Hospital encheu enfermaria na noite em que abriu

O Hospital das Forças Armadas está a fazer um reforço com 140 camas, uma duplicação da capacidade atual, para o combate à pandemia da Covid-19. Duas áreas de consulta estão a ser transformadas em enfermaria, bem como dois refeitórios. Só na noite desta segunda-feira, no momento em que a primeira enfermaria ficou pronta recebeu 20 doentes.

A capacidade UCI passou de 10 para 20 camas, das quais 15 estão indicadas para doentes Covid, o que representa 75% da capacidade. Neste momento oito destas camas de cuidados intensivos já estão ocupadas, quatro com doentes do SNS. E com este reforço, o pólo de Lisboa do Hospital das Forças Armadas passa a ter 274 camas enfermaria (197 para Covid), ou seja, 72% da capacidade internamento. Para estas novas unidades houve ainda um reforço de pessoal com mais 300 pessoas entre médicos, enfermeiros e militares.

Hoje, às 8h30, estavam internados 110 doentes Covid em Lisboa (102 em enfermaria e oito em UCI), sendo que uma parte destes doentes vêm do SNS: 68 em enfermaria e quatro nos cuidados intensivos.