Uma semana depois de ter voltado a vencer as eleições para a Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa recebeu o humorista Ricardo Araújo Pereira em Belém, para a habitual entrevista do programa “Isto é Gozar com Quem Trabalha”, da SIC. Comparado com Mário Soares e as presidências abertas que lhe marcaram o segundo mandato, o Presidente reeleito fez questão de garantir que,  mesmo estando obrigado a fazer uma “presidência fechado em casa”, não tem na agenda qualquer plano para fazer cair o governo de António Costa.

“A minha ideia não é que o Governo caia, é que o Governo responda a crise, que enfrente a pandemia”, respondeu Marcelo sorridente, para logo depois passar a explicar o segredo do sucesso da relação entre Belém e São Bento, ainda para mais em tempo de crise sanitária e confinamento, que em todo o mundo fez disparar as taxas de divórcio.

Serão três os motivos para a manutenção do casamento, elencou o Presidente da República: “Cada um vive na sua casa; é uma relação institucional que pode ter momentos afetivos, mas não uma relação afetiva que pode ter momentos institucionais, e, como todas as relações humanas, tem momentos bons e momentos maus, só que não os traz a público. Portanto, resolve-se”. No final, “para o país”, o saldo será positivo já que os altos serão mais frequentes e relevantes do que “alguns momentos pontuais maus”.

Questionado sobre se tenciona, ao longo deste segundo mandato, usar a “bomba atómica”, que é como quem diz exonerar o Governo e convocar eleições antecipadas, Marcelo manteve a tónica conciliadora mas não se comprometeu com um não. “A bomba atómica utiliza-se uma vez, em casos extremos, porque tem efeitos destrutivos enormes. Portanto é preciso ter a garantia de que não destrói mais do que aquilo que constrói”, disse em tom de voz professoral, garantindo que o recurso à maior arma do arsenal “não é para usar como ameaça”.

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Ao longo da entrevista, que decorreu numa mesa comprida, à prova da Covid-19, houve ainda tempo para falar do ministro Eduardo Cabrita e da morte do ucraniano Ihor Homeniuk enquanto permanecia à guarda do SEF. Depois de assegurar que nunca foi sua intenção “dizer que um ministro devia sair ou não” e que a questão “não se colocou no caso concreto”, o Presidente da República explicou que nunca poderia ser, aliás, esse o seu papel. “O Presidente, na nossa Constituição, pode receber em casa um ministro e abrir a porta, mas não pode levá-lo até à porta da rua. Quem o leva até à porta da rua é o Primeiro Ministro.”

A seguir, aproveitando a deixa de Ricardo Araújo Pereira, Marcelo explicou como fazia quando os filhos eram mais novos e os colegas se deixavam ficar até tarde lá em casa. “Utilizava uma forma mais diplomática, dizia, ‘Meninos, vamos deitar que estes senhores querem ir embora’.”

No fim, antes de se despedir, o Presidente da República aproveitou ainda para garantir aos potenciais invejosos que o seu cargo, tal como o ocupado por Costa, não é assim tão bom. “São dez coisas más e uma boa”, disse, passando logo depois a exemplificar, à laia de anedota, com um episódio que terá vivido com Cavaco Silva, cerca de três meses depois de o seu antecessor deixar o cargo, quando se encontraram numa cerimónia. “Estou ótimo! Nem imagina, sinto-me aliviado, saiu-me de cima dos meus ombros um peso, está a ver?”, ter-lhe-á dito Cavaco Silva. “Estou, estou, é o peso que veio para cima dos meus ombros”, respondeu-lhe Marcelo Rebelo de Sousa.