Um “impulso” na resposta europeia à pandemia de Covid-19, sobretudo na vacinação, foi pedido esta quarta-feira à presidente da Comissão Europeia pelo primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, pressionado internamente a procurar fornecedores extra-europeus.

O pedido foi transmitido durante uma conversa telefónica entre Draghi e Ursula von der Leyen, numa altura em que a vacinação na União Europeia continua a atrasar-se em relação ao Reino Unido ou Estados Unidos, levando alguns Estados-membros a considerar ou mesmo a concretizar a compra de vacinas à Rússia e China, algo que Portugal se recusa a fazer para “não trair” os acordos europeus sobre o tema.

“No centro da troca de impressões (entre Draghi e von der Leyen) esteve o objetivo prioritário de um impulso na resposta europeia à Covid-19, sobretudo no que diz respeito a vacinas”, refere nota da Presidência do Conselho italiana.

Através da rede social Twitter, Von der Leyen indicou ter “discutido a cooperação sobre a produção e disponibilização de vacinas” com o novo chefe de Governo italiano e ainda os “preparativos” do plano de recuperação pós-pandemia, através do qual Itália irá aceder a perto de 200 mil milhões de euros.

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Depois da Hungria e da Eslováquia, a República Checa será o terceiro país da União Europeia (UE) a receber vacinas russas Sputnik V, segundo a imprensa checa. A Sputnik V ainda não recebeu a aprovação da agência estatal para o controle de medicamentos da República Checa, nem da Agência Europeia de Medicamentos.

Outros Estados-membros, como a Áustria e Dinamarca, pretendem também demarcar-se e colaborar com Israel.

Em Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros garantiu, na Assembleia da República, que o Governo “não tenciona” comprar vacinas fora do quadro da UE, defendendo que tal seria “trair uma decisão” tomada ao nível europeu.

Covid-19. Comprar vacinas não autorizadas pela EMA seria “trair decisão” europeia, defende Governo

“Em primeiro lugar, porque (comprar vacinas a países terceiros) seria trair uma decisão que tomámos, nós, como europeus, e que permitiu que o processo de descoberta e de produção da vacina fosse o mais rápido da história da humanidade”, apontou.

Em Itália, o líder da extrema-direita Matteo Salvini pediu esta quarta-feira que o Governo procure vacinas “a 360 graus” no mundo, como a Áustria, especialmente a russa Sputnik V, e criticou os atrasos no fornecimento e lentidão das autorizações da União Europeia.

“Temos que fazê-lo rapidamente. Se me perguntam se acho boa a vacina russa respondo que, independentemente do que ser feita na Rússia, Nova Zelândia ou Israel, basta que funcione e chegue rápido (…) “se a UE tivesse cumprido o prometido não estaríamos assim”, referiu Salvini. O líder da Liga, de extrema-direita, que faz parte da coligação do governo de Mario Draghi, encorajou o primeiro-ministro a não esperar pelos prazos de Bruxelas.

“A Saúde está antes de tudo, não se trata de alianças geopolíticas”, defendeu.

O plano de vacinação não corre tão rápido como era esperado em Itália, onde pouco mais de 1,4 milhões de pessoas estão imunizadas com duas tomas da vacina, a maioria profissionais de saúde, maiores de 80 anos, professores e membros das Forças Armadas.

Draghi, à frente do executivo há duas semanas, já substituiu os responsáveis pela gestão da crise sanitária e colocou à frente o general Paolo Figliuolo, com a missão de acelerar a vacinação.

O ministro do Desenvolvimento Económico, Giancarlo Giorgetti, também membro da Liga, reuniu-se com os referentes da Agência Italiana de Medicamentos e adiantou a intenção de criar um setor para investigar fórmulas com investimentos públicos e privados. Além disso, pediu que se procurem empresas no país com a capacidade de produzir vacinas até ao outono. Também o vice-presidente da Forza Italia, Antonio Tajani, aliado de Draghi e Salvini no governo, pediu à UE para acelerar as autorizações e estabelecer contactos com a Rússia.

Em todo o país, 2.995.434 pessoas já foram infetadas com o vírus e 98.288 morreram desde o início da emergência sanitária, há um ano. A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.549.910 mortos no mundo, resultantes de mais de 114,7 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP. A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.