O PS já tem um candidato para a corrida autárquica em Braga, uma das capitais de distrito que estão nas mãos do PSD. O nome escolhido pela direção, apurou o Observador, é o de Hugo Pires, deputado eleito por Braga e ex-secretário nacional para a organização do partido – um candidato que ultrapassou os concorrentes na sondagem interna dos socialistas mas que merece contestação da parte da concelhia bracarense. E a novela local – e nacional – pode ter novos capítulos.

Para entender o intrincado processo de decisão em Braga é preciso recuar num historial de zangas no distrito onde, recentemente, até a lista de deputados foi avocada pela direção nacional, dada a falta de acordo para os nomes escolhidos.

Desta vez, nestas eleições autárquicas, entravam pré-candidatos já com um historial de desentendimentos políticos: Hugo Pires, que já foi presidente da concelhia e é tido como próximo da secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes; e Artur Feio, atual presidente da estrutura local e próximo do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos.

Por isso mesmo, e por Ana Catarina Mendes e Pedro Nuno Santos serem dois dos nomes falados para uma possível sucessão quando a liderança de António Costa terminar, as leituras feitas sobre as zangas em Braga têm transbordado para o território nacional.

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Desta vez, tanto Artur Feio como Hugo Pires tinham manifestado vontade de avançar com uma candidatura para assumir a presidência da capital de distrito, hoje liderada pelo social-democrata Ricardo Rio. E foi assim que, segundo várias fontes do PS, a direção nacional decidiu avançar com uma sondagem para decidir sobre o candidato bracarense.

De acordo com o que o Observador apurou, numa reunião que juntou as estruturas locais e a direção, a concelhia indicou o próprio Artur Feio e a vereadora Liliana Pereira; a distrital, liderada por Joaquim Barreto, preferiu a deputada Palmira Maciel. A direção do PS terá então comunicado que ia perceber as disponibilidades dos deputados por Braga. Resultado: acabou por juntar o nome de Hugo Pires ao rol de possíveis candidatos.

E foi mesmo Hugo Pires quem conseguiu uma percentagem mais alta neste estudo de opinião, como o candidato que, em teoria, teria mais condições para vencer a câmara. A concelhia não terá ficado satisfeita e decidiu contestar a decisão.

Para a próxima terça-feira está agendado um encontro extraordinário para que a comissão política da concelhia tome uma posição oficial sobre o assunto. A direção nacional, sabe o Observador, só tenciona confirmar a indicação publicamente depois de receber esse feedback.

Com ou sem apoio das estruturas locais, Joaquim Barreto, líder da distrital de Braga, vai avisando: “A última palavra é, em todos os casos, da direção nacional. As concelhias indicam os candidatos, as distritais homologam, mas a direção é que valida os nomes”. E acrescenta: “Eu, em congresso e como presidente da federação de Braga, assumi que respeitamos as indicações da concelhia, mas sempre em diálogo com a direção nacional”.

O Observador contactou Hugo Pires, que disse apenas estar “disponível e com vontade de assumir o desafio”, sem adiantar mais informações sobre uma decisão que o Observador sabe já estar fechada. Em cima da mesa pode estar uma tentativa de chegar a um entendimento com o PAN, que não tem ainda representação na Câmara de Braga mas angariou 3.248 votos naquele concelho nas últimas legislativas.

Os socialistas têm bem presente, no entanto, que será muito difícil vencer a corrida, uma vez que o atual presidente é do PSD e será recandidato – neste momento, Ricardo Rio lidera a coligação PSD/CDS/PPM, mas já assumiu ver com bons olhos uma possível inclusão da Iniciativa Liberal e do Aliança.