Uma vez mais, a capa do jornal satírico francês Charlie Hebdo está a provocar polémica e indignação em todo o mundo. Desta vez, está em causa uma comparação entre a mais recente polémica envolvendo a família real britânica e a morte do afro-americano George Floyd, asfixiado em maio do ano passado nas ruas de Minneapolis por um polícia.

No culminar da semana em que foi transmitida a entrevista dos duques de Sussex a Oprah Winfrey, o Charlie Hebdo fez capa com um cartoon em que a Rainha Isabel II, de depilação por fazer e olhar maquiavélico, assenta um joelho no pescoço de Meghan Markle. “Porque é que Meghan saiu de Buckingham?”, pergunta o jornal. “Porque não consigo respirar”, responde a caricatura da duquesa de Sussex, com as mesmas palavras com que George Floyd, há menos de um ano, suplicou ao polícia Derek Chauvin que o libertasse.

“Isto está errado a todos os níveis”, escreveu Halima Begum, a CEO do thinktank britânico para a igualdade racial Runnymede Trust, no Twitter. “A Rainha como assassina de George Floyd a esmagar o pescoço de Meghan? Meghan a dizer que é incapaz de respirar? Isto não força limites, não faz ninguém rir, nem desafia o racismo. Isto desvaloriza as questões e ofende, de forma generalizada”, analisou. Entretanto, choveram acusações e manifestações de desagrado na mesma rede social contra o jornal francês.

Ao longo das mais de duas horas de entrevista com Winfrey, Harry e Meghan falaram várias vezes sobre a questão racial, revelando inclusivamente que, durante a gravidez de Archie, o primeiro filho do casal, alguém na família real quis saber “quão escuro” poderia o bebé vir a ser, tendo em conta as origens da mãe.

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Apesar de não terem identificado o dono da preocupação, os Sussex fizeram questão de garantir que não tinham sido nem a Rainha Isabel II nem o seu marido, o duque de Edimburgo. Entretanto, esta semana, o príncipe William, confrontado pela imprensa, defendeu a família real e garantiu: “Não somos uma família racista”.

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Por entre os muitos indignados com a mais recente capa do Charlie Hebdo, também há quem meta água na fervura e recorde que, para o jornal francês, isto é apenas mais um dia normal. Recorde-se que em janeiro de 2015 a redação do jornal, em Paris, foi invadida por dois terroristas armados que assassinaram 12 pessoas e feriram outras 11, como reação a um cartoon do profeta Maomé — e que a linha editorial não mudou um milímetro.

Como escreveu no Twitter Paul Joseph Watson, youtuber e escritor britânico de extrema direita, assumidamente anti-imigração, anti-Islão, dizer que as capas do Charlie Hebdo são ofensivas é o mesmo que reconhecer que o céu continua azul.