A Ordem dos Médicos (OM) defendeu esta terça-feira que deve passar-se à população uma mensagem de “segurança e tranquilidade” relativamente às vacinas, salientando que têm uma segurança superior, na maior parte dos casos, aos medicamentos utilizados diariamente.

“A mensagem que temos de passar às pessoas é uma mensagem de segurança, tranquilidade e de confiança” porque as vacinas para a Covid-19 foram “amplamente testadas”, disse à agência Lusa o bastonário da OM, comentando a decisão de Portugal ter suspendido a administração da vacina da AstraZeneca, depois da Dinamarca, Bulgária, Noruega, Países Baixos, Islândia, Irlanda, Alemanha, França, Espanha, Itália e Eslovénia o terem feito.

Os países tomaram esta decisão por precaução, após terem sido conhecidos casos de reações adversas depois da administração da vacina da AstraZeneca, que vão desde graves reações alérgicas até episódios de tromboses, provocados por coágulos.

Miguel Guimarães salientou que os ensaios das vacinas contra a Covid-19 “envolveram milhares e milhares de pessoas, têm o escrutínio de todo do mundo” quanto à sua eficácia e segurança e que estes relatos comprovam que “o sistema de farmacovigilância está a funcionar por excesso e não por defeito”.

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Qualquer coisa que aconteça a um doente vacinado põe-se sempre em questão se tem algum relacionamento com a vacina”, explicou.

Defendeu ainda que a comunicação neste caso tem que “ser criteriosa e cirúrgica” para que as pessoas não percam a confiança no plano de vacinação, que “é essencial” neste momento: “Não só vai salvar milhares e milhares de vidas como vai permitir recuperar as pessoas que ficaram para trás devido aos efeitos económicos da pandemia”. Por outro lado, a comunicação também tem de ser eficaz para não dar força aos movimentos antivacinas.

Não há dúvidas que todos os estudos realizados em todas as vacinas os seus benefícios superam largamente os riscos que estão associados e isto pode ter um efeito negativo naquilo que é agora o nosso objetivo maior que é vacinar rapidamente o maior número de pessoas” para combater a pandemia.

Contudo, defendeu, estas situações devem ser “investigadas ao mais alto nível” como está a ser feito pela Agência Europeia do Medicamento (EMA, sigla em inglês) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para Miguel Guimarães, o conjunto de países que suspendeu a utilização da vacina fê-lo por “uma questão de precaução” devido às notícias veiculadas nos órgãos de comunicação social sobre estes casos, mas considerou que teria “sido sensato” os países terem agido “como um todo”.

Deixou de funcionar aqui a União Europeia”, observou, considerando que teria sido “mais sensato” a UE reunir os responsáveis das agências do medicamento ou os ministros da Saúde e em conjunto terem pensado de “uma forma mais unida, mais coerente”, aguardando “mais dois ou três dias” pela decisão da EMA e da OMS.

O bastonário afirmou que, mesmo que exista causa/efeito entre a vacina e os casos tromboembólicos, é “uma incidência extremamente baixa”, muito mais baixa do que, por exemplo, hemorragias digestivas graves associadas ao uso da Aspirina”.

Trinta casos em cinco milhões de pessoas que foram vacinadas na UE é um número residual, sustentou, “um episódio por 166 mil pessoas” enquanto na população em geral a incidência de eventos tromboembólicos é de 16 a 38 casos por 100 mil pessoas. Ressalvou que não há ainda uma relação de causalidade entre os casos detetados nalguns países e a utilização da vacina, sabendo-se apenas que estas pessoas tinham sido vacinadas com a vacina da AstraZeneca.

Lembrou ainda que esta vacina inicialmente era indicada apenas para menores de 65 anos. “Isto é importante porque os fenómenos tromboembólicos são muito mais frequentes nas pessoas a partir dos 75 anos”.

A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.661.919 mortos no mundo, resultantes de mais de 122,7 milhões de casos de infeção, segundo a agência francesa AFP. Em Portugal, morreram 16.707 pessoas dos 814.897 casos de infeção confirmados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.