Ainda a pandemia não era uma realidade e André Santos, um dos quatro nomes responsáveis pela Buk – juntamente com André Gonçalves, André Moniz e André Góis – já tinha começado a pensar numa forma de otimizar as agendas das empresas online. Licenciado em design de produto pela ESAD — Escola Superior de Artes e Design, nas Caldas da Rainha, o lisboeta de 31 anos percebeu, ao olhar a fundo para o mercado, a necessidade de atacar um problema que em Portugal parecia claro: existiam soluções para marcar serviços como cortes de cabelo, massagens, consultas, mas para o empreendedor nenhuma era verdadeiramente adequada para as questões logísticas que envolviam estes negócios.

A improvável ligação dos Andrés começou, contudo, antes do Buk. Primeiro, surgiu no Tradiio, um serviço de streaming de música português para novos talentos que cessou atividade em 2018. Depois, juntaram-se no Untold Ventures Studio, um estúdio de produto desenvolvido pelos quatro amigos, cuja missão é desenvolver soluções de produtos digitais. “O Buk é um deles”, diz André Santos ao Observador.

“Começou em 2019 quando identificámos que não existiam soluções deste tipo no mercado. E, lá fora, já havia crescimento desses produtos”, explica.

O “ping-pong de chamadas” nas marcações, como o descreve, era um sinal claro de que era precisa uma mudança e isso levou-os a avançar com os primeiros testes para uma nova ferramenta de serviços, que pudesse ser integrada na agenda dos negócios. “O plano era resolver o problema de marcar um serviço com uma pessoa e não ser um grupo de pessoas marcar um serviço”, refere.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas o que é que o Buk faz, exatamente? “Desenvolvemos uma mecânica que consegue confirmar os espaços que estão abertos na agenda. No fundo, o que permitimos é que as pessoas abram a agenda ao público, facilitando o processo de marcações”, responde André Santos.

Com a plataforma, o cliente ficará com acesso a um vasto leque de soluções que lhe permite gerir de forma mais eficiente o funcionamento quotidiano. Pelo menos, é isto que a startup promete. E para que isto se torne em realidade o Buk disponibiliza dois planos para os clientes.

O interface do Buk, no qual cada negócio pode agilizar as marcações

O primeiro é gratuito e, segundo André, ideal para pequenos negócios. Inclui uma página de marcações, uma agenda online ou lembretes de email ilimitados. Já o segundo plano é um serviço pago, com o valor mínimo a fixar-se nos 20 euros mensais e permite, por exemplo, que haja uma sincronização com o Google Calendar, acesso a estatísticas, a lembretes SMS. É inteiramente personalizável, consoante as necessidades e colaboradores do negócio.

Quem quiser usufruir de um dos planos do Buk terá de aceder ao site e registar o seu negócio, selecionando o modelo mais conveniente. A plataforma torna-se depois numa ferramenta embutida na página do negócio, sendo invisível para o cliente final, “o que é bastante cómodo”, enfatiza o empreendedor. O cliente depois pode efetuar p pagamento do serviço por MB Way. evitando, assim, o manuseamento de dinheiro ou cartões no local.

“Dentro da plataforma já está tudo feito, como a questão das férias dos colaboradores, feriados, tudo preparado para que o tempo seja sempre otimizado, sem enganos”, explica.

Com a pandemia, as subscrições mensais foram suspensas “para aliviar o esforço”

Com a pandemia de Covid-19, e consequentes confinamentos, a situação havia de alterar-se em várias frentes. No horizonte dos fundadores, para 2020, estava um plano ambicioso de marketing que prometia elevar o Buk no mercado, expandindo o alcance a outros negócios que não os principais – barbearias, cabeleireiros, clínicas de estética, osteopatas e clínicas de fisioterapia foram os primeiros alvos.

A decisão dos quatro fundadores e do mais recente membro, Catarina Monteiro, responsável pelo marketing da startup, foi a suspensão das subscrições mensais “para aliviar o esforço” dos clientes e, pelo caminho, concentraram-se no desenvolvimento da plataforma.

“Queríamos perceber o que é que ainda podia ser melhorado, afinado. Percebemos, por exemplo, que os cabeleireiros precisavam de marcar vários serviços com colaboradores diferentes, ou que os fisioterapeutas e os osteopatas precisavam de um campo de observações aquando da marcação”, explica ao Observador.

Em maio, quando foi decretado o primeiro desconfinamento, o crescimento do volume de negócio do Buk dispararia para os 260% face ao ano de fundação e chegavam outros negócios a bater à porta. “Stands de automóveis, centros de ótica, os serviços apressaram a digitalização”, acrescenta.

Este ano, o novo período de confinamento voltou a atrasar o plano para um crescimento uniforme da empresa, uma situação que deixaria o Buk no fio da navalha com os investidores, o que acabou por não acontecer, graças à lógica de bootstrapping (processo de começar uma empresa do zero, sem ajuda financeira, além das próprias economias – ou do lucro proveniente das primeiras vendas).

Sobre o futuro da empresa e o que ainda está por vir, André Santos é perentório: “Estamos a sentir que vai acontecer o mesmo que aconteceu em 2020, a diferença é que temos mais clientes do que aqueles que tínhamos. Vamos dar um salto novamente, espero que maior do que aquele que demos”.

Este será, contudo, o único salto, confirma o fundador ao Observador. “O nosso objetivo é focarmo-nos no mercado português, apesar da aplicação estar traduzida e de olharmos com bons olhos ao mercado externo. Mas este ano vamos focar-nos cá, porque ainda existem muitos nichos onde podemos chegar. Depois sim, mais para a frente, queremos chegar mais longe”, refere.

Atualmente, o Buk tem  mais de 1.500 clientes que recorrem aos serviços de agendamento online, com mais de 50.000 marcações realizadas por mês e mais de 600.000 marcações processadas no total. “Agora passado um ano, e embora nos encontremos em nova situação de confinamento, ganhámos uma visão diferente das coisas e a expectativa para o futuro é bastante positiva. Contamos que no próximo desconfinamento haja um aumento exponencial das marcações e que os nossos clientes atinjam um volume de negócios a rondar um milhão  de euros.”, afirma André Moniz.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.