O Banco de Portugal continua a acreditar num crescimento de 3,9% para a economia portuguesa em 2021, mas o boletim económico de março, apresentado esta sexta-feira pelo Governador Mário Centeno, aponta agora para uma subida do PIB de 5,2% em 2022 (face aos 4,5% que previa em dezembro do ano passado). Para 2023, mantém previsão de 2,4%.

O Banco de Portugal acredita que o consumo privado vai crescer 2% em 2021, acelerando em 4,8% no ano seguinte, mas “a recuperação deverá ser mais lenta nos serviços mais dependentes de contactos pessoais”. Além disso, o consumo público deverá crescer 3,7% (e apenas 0,7% em 2022).

Mário Centeno sublinhou, em conferência de imprensa, que “o consumo recupera sustentado no rendimento disponível” — que, no total da população portuguesa, não caiu no ano passado nem se espera que caia nos próximos anos, segundo o Banco de Portugal.

No entanto, apesar de o consumo ter um papel importante na recuperação, “as componentes mais dinâmicas são o investimento e as exportações”, segundo Mário Centeno. São também “as componentes que mais se reduziram” com a crise, lembra o Banco de Portugal.

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No primeiro caso (formação bruta de capital fixo) é esperada uma subida de 3,6% este ano — e bem mais, atingindo 8%, no ano seguinte — à boleia “da entrada de fundos europeus, em particular no âmbito do novo instrumento Next Generation EU”.

O Governador do Banco de Portugal indicou ainda que o efeito esperado na economia do Plano de Recuperação e Resiliência — a famosa “bazuca” europeia — deverá ficar entre 1,1 e 2 pontos percentuais. Ou seja, “o PIB seria mais baixo em 2026 se não tivéssemos estes fundos”, antevê Mário Centeno, que, no entanto, sublinha que esta análise é feita com base em dados preliminares.

Já para as exportações, o Banco de Portugal assume uma previsão de crescimento de 13,7%, esperando que se mantenham em 2022 a um ritmo elevado, embora mais baixo — 11,5%. As importações devem, por outro lado, crescer 10,2% em 2021 e 9,9% no ano seguinte. As vendas para o exterior e as compras do estrangeiro têm uma revisão em alta este ano (ao contrário das rubricas anteriores, que devem crescer menos do que o previsto em dezembro).

Fonte: Boletim económico do Banco de Portugal

O Banco de Portugal entende que a atividade económica está a responder melhor ao novo confinamento, porque há um “processo de aprendizagem das famílias e das empresas”, aliado a um “enquadramento internacional menos sincronizado e mais favorável” e à “manutenção da ação decisiva das políticas monetárias, orçamentais e prudenciais”.

A análise do regulador parte do princípio que as restrições à atividade decretadas pelo Governo para controlar a pandemia “serão gradualmente levantadas a partir do segundo trimestre de 2021” e que o processo de vacinação decorre conforme o plano. Quando o país sair do confinamento, o Banco de Portugal espera um crescimento forte, até que, na segunda metade de 2022, a economia recupere a atividade para os níveis de 2019.

No entanto, a recuperação vai variar de setor para setor. “A atividade industrial tem sido mais resiliente, antecipando-se uma recuperação mais rápida”, lê-se no boletim económico, mas “será mais gradual” nos serviços, em que se inclui o turismo, a cultura e o entretenimento.

Quanto ao desemprego, deverá subir este ano para os 7,7% (depois de 6,8% em 2020), mantendo-se acima de 7% durante três anos — 7,6% em 2022 e 7,2% em 2023. O Banco de Portugal explica que há setores a precisarem de se adaptar às novas circunstâncias, como, por exemplo, uma maior apetência dos consumidores para o consumo online.

Em relação à inflação, de que se tem dito que pode disparar nos próximos tempos, o Banco de Portugal antevê uma subida gradual, passando para 0,7% este ano e que em 2023 ainda deverá estar em 1%.

Última atualização às 18h10