Artigo em atualização

O júri já declarou o polícia Derek Chauvin como culpado na morte do afro-americano George Floyd, em maio passado, avança a CNN.

Os jurados deliberaram durante mais de 10 horas, distribuídas por dois dias, segunda e terça-feira, para chegar ao veredicto final. O júri considerou que o polícia foi culpado de todos os três crimes de homicídio de que foi acusado: homicídio não intencional em segundo grau (punível até 40 anos de prisão), homicídio em terceiro grau (punível até 25 anos de prisão) e homicídio involuntário de segundo grau (punível até 10 anos). Como não tem antecedentes criminais, Chauvin só poderá ser condenado a um máximo de 12 anos e meio de prisão por cada uma das duas primeiras acusações e a quatro anos de prisão pela terceira — num máximo de 29 anos. A sentença é conhecida daqui a oito semanas.

O advogado da família de George Floyd elogiou a decisão do júri e afirmou que o veredito marca “uma viragem na História”. “Culpado! Uma justiça obtida com muita dor foi finalmente concedida à família de George Floyd, afirmou o advogado Ben Crump, sublinhando que este veredicto é um ponto de viragem na História”.

Após o veredicto ter sido tornado público, o presidente Biden  e a vice-presidente Kamala Harris falaram com a família de Floyd:

Na Casa Branca, Biden e Harris comentaram o veredicto. A vice-presidente considerou que os Estados Unidos têm uma “longa história de racismo sistémico” e defendeu que é necessário “reformular o sistema”, apesar deste veredicto. “Hoje, sentimos um sinal de alívio. Ainda assim, não pode eliminar a dor”, afirmou.

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Depois de Kamala Harris, Biden consideou também que o racismo sistémico é “uma mancha em toda a nação”. Agradecendo à mulher que filmou a morte de Floyd, o presidente norte-americano defendeu que os negros “não têm de acordar com a ideia de que podem perder a vida no próprio dia-a-dia”.

O que disseram a defesa e a acusação nas alegações finais

Durante o dia das alegações finais, o procurador Steve Schleicher encerrou o argumento final a dizer que “foi excessivo” e “não razoável” o uso da força de Derek Chauvin no momento em que imobilizou George Floyd durante a detenção, no dia 25 de maio de 2020. Floyd acabou por morrer, provocando uma onde de indignação pelo mundo e protestos pacíficos e violentos nos EUA. O procurador considerou esta segunda-feira “extremamente desproporcional” os nove minutos e 29 segundos em que Floyd esteve pressionado pelo joelho do polícia.

“Isto não foi uma ação policia, foi um assassinato. O réu é culpado das três acusações e não há desculpa”, referiu o procurador da acusação de Derek Chauvin. Por outro lado, o advogado de Derek Chauvin defendeu o ex-polícia com o argumento de que George Floyd pode ter sofrido de envenenamento por monóxido de carbono, por estar próximo do tubo de escape quando foi imobilizado. Eric Nelson levou para o julgamento um patologista forense que admitiu que pode ter havido outros fatores a contribuir para a morte de Floyd e Martin Tobin assegurou que o monóxido de carbono pode ter contribuído para a morte.

Aos jurados, a defesa de Chauvin pediu que se faça uma “avaliação honesta” destes factos, alertando para que sejam “intelectualmente honestos sobre as evidências”. Eric Nelson, o principal advogado do ex-agente, justificou que houve uma conjunto de fatores que contribuíram para a morte de George Floyd, entre eles problemas de saúde e o uso de drogas, e alerta para o facto de, segundo disse, “não haver evidências de qualquer lesão cerebral” que tenha como justificação a morte por asfixia. “Não estou a sugerir que esta foi uma morte por overdose, é um processo multifatorial”, sugeriu ainda a defesa.

O advogado de Derek Chauvin, Eric Nelson, concluiu o argumento a falar sobre paramédicos e até sobre os esforços de reanimação e o medicamento que foi administrado devido à suspeita de overdose. “Não estou a sugerir que a ambulância e os paramédicos fizeram algo de errado”, disse o advogado, mas sim que “os seres humanos tomam decisões em situações altamente stressantes, que acreditam estar certas no momento em que ocorrem”, acrescentou para justificar que “os polícias são seres humanos capazes de cometer erros em situações altamente de stress”.

Durante a defesa, Nelson chegou mesmo a dizer que “um polícia razoável entende a intensidade” da luta entre os agentes e Floyd, tendo em conta a “resistência ativa” alegadamente apresentada pelo cidadão. O advogado diz que “há muitos ‘e se'” em todo o caso e garante que, na sua visão, que “o estado não conseguiu provar” o homicídio.

Durante as alegações finais, Jerry Blackwell, advogado da entidade equivalente ao Ministério Público lembrou que a defesa disse que “Floyd morreu porque o seu coração era muito grande”, com justificações de que foi a dilatação do coração que levou à morte do afro-americano. Para Blackwell não há dúvidas: “Tendo em conta todas as evidências e tudo o que foi dito, a razão pela qual George Floyd está morto é porque o coração de Chauvin era muito pequeno.”

A acusação de homicídio não intencional em segundo grau exige que os procuradores façam prova de que Chauvin quis deliberadamente prejudicar Floyd, mas que não pretendia matá-lo, enquanto a acusação de homicídio em terceiro grau exige prova de que as ações de Chauvin foram “eminentemente perigosas” e sem olhar ao risco de perda de vida. Já a acusação de homicídio involuntário de segundo grau exige que os jurados acreditem que o agente causou a morte de Floyd sem ser de forma consciente.

George Floyd. Autoridades federais e locais preparam-se para manifestações depois de conhecida sentença

Biden diz que provas no julgamento são “esmagadoras”

O Presidente dos EUA, Joe Biden, disse esta terça-feira que as provas no julgamento da morte de George Floyd são “esmagadoras”.

Rezo para que o veredito seja justo. Na minha opinião, é esmagador. Eu não diria isto se o júri não se tivesse já retirado para deliberar”, disse Biden, em declarações na Casa Branca, acrescentando que percebe a “angústia” enquanto se espera por uma sentença.

Minutos antes, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, tinha informado que o Presidente falara com a família do afro-americano morto por um agente, em Minneapolis, em maio passado, depois de ter sido asfixiado enquanto estava sob escolta policial.

“O Presidente Biden falou ontem (segunda-feira) com familiares de George Floyd para ouvi-los e dizer-lhe que está a rezar por eles”, disse Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca, numa mensagem na rede social Twitter.