A autarquia foi apresentada como uma das apostas fortes dos socialistas para as próximas eleições e o nome da líder parlamentar, Ana Catarina Mendes, chegou a ser avançado como hipótese. Mas, afinal, em Setúbal o PS acabou por se decidir por uma solução de compromisso: se a estrutura local aprovar a solução, Ana Catarina será candidata, mas só à Assembleia Municipal, como já aconteceu no passado em Almada; e, depois de muita indecisão, a corrida à câmara municipal ficará a cargo do deputado setubalense Fernando José.

A ideia, segundo apurou o Observador junto de fontes socialistas, passa por apresentar os dois como uma espécie de ‘pacote’: juntos nos outdoors e na campanha, a intenção é que Fernando José e Ana Catarina Mendes sejam vistos como uma equipa na corrida à capital de distrito que o PS quer conquistar nas eleições deste ano.

Os nomes foram discutidos na noite de quinta-feira numa reunião da direção da concelhia de Setúbal em que marcam presença o presidente da federação setubalense e secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (e irmão de Ana Catarina Mendes), António Mendonça Mendes, e o presidente da concelhia, Paulo Lopes. Ambos os dirigentes chegaram aliás a ser aventados como possíveis soluções, numa decisão que se arrastou durante meses e que também envolveu a direção nacional do PS.

A solução agora encontrada contém riscos, que os socialistas não ignoram. Por um lado, Fernando José, que já fazia parte do leque de escolhas há meses e que chegou a ser testado em pelo menos uma sondagem encomendada pelo PS, tem pouca notoriedade (como comprovou esse estudo de opinião), sobretudo quando comparado com Ana Catarina Mendes, que também chegou a ser testada, ou com Fernando Negrão, candidato pelo PSD. Por outro, o PS enquanto partido surge bem colocado, o que alimenta as esperanças dos socialistas de que, com o nome bem cotado da líder parlamentar à mistura, a candidatura possa resultar bem — seja para ganhar ou para perder com um resultado honroso.

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O foco em Setúbal tem sido assumido por dirigentes locais e nacionais, que há meses se referem à capital de distrito — uma das que o PS não governa, apesar de há quatro anos ter tido o melhor resultado de sempre em autárquicas — como a jóia da coroa e um dos objetivos mais importantes destas eleições.

Mas, se a nível local o desejo era que o nome de Ana Catarina, por ter dimensão nacional, pudesse avançar para a autarquia, várias fontes tinham já dado conta do desconforto que existiria na direção por arriscar assim um dos nomes da linha da frente do partido e garantiam que António Costa não desejaria “abdicar” da socialista no Parlamento. Assim, a líder parlamentar não “desiste” da corrida mas também não assume o papel de maior relevo.

A câmara de Setúbal é particularmente importante por ser um dos terrenos de batalha com o PCP nestas autárquicas e uma autarquia em fim de ciclo. Maria das Dores Meira, a comunista que lidera a autarquia há 12 anos, será obrigada a sair por causa da lei de limitação de mandatos (que não permite mais de três de mandatos consecutivos) e irá candidatar-se a outro concelho do mesmo distrito, Almada, para tentar conquistar a autarquia à socialista Inês de Medeiros. Entretanto, os comunistas lutarão — com a candidatura já divulgada de André Martins, que transita da Assembleia Municipal — para manter Setúbal, depois de em 2017 terem perdido nove câmaras para o PS.

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Já o PS, que com essas conquistas e com o bom resultado obtido a nível nacional parte de uma posição muito mais confortável para estas autárquicas, quer consolidar o resultado no distrito e partir para a conquista da capital de distrito, estando também atento a concelhos em que a CDU perdeu a maioria, como o Seixal e Palmela.

Fernando José tem 48 anos, é deputado e vereador na câmara e Setúbal em regime de substituição, segundo a sua biografia no site do Parlamento. No mesmo distrito, é o presidente da Comissão de Jurisdição do PS e pertence à comissão política e ao secretariado da comissão política dos socialistas em Setúbal.