O intervalo da toma da segunda dose da vacina da Astrazeneca foi reduzido de 12 para oito semanas para garantir “mais rápida proteção” perante a transmissão de novas “variantes de preocupação” do vírus SARS-CoV-2, segundo a nova norma da Direção-Geral da Saúde. Todas as pessoas com mais de 60 anos, quer já tenham tomado a primeira dose ou não, devem antecipar a segunda dose de acordo com a nova norma, confirmou o Observador.

Para quem tem menos de 60 anos e tomou a primeira dose da AstraZeneca deve tomar uma segunda dose de uma vacina de mRNA — que utiliza a tecnologia RNA mensageiro, como as da Pfizer/BioNTech e Moderna — com um intervalo de oito semanas após a primeira dose de VAXZEVRIA. Para quem tiver adiado a segunda dose da AstraZeneca à espera da nova recomendação da DGS, a indicação é que “devem completar a vacinação, logo que possível, com uma dose de vacina de mRNA”.

A Direção-Geral da Saúde recomenda ainda que se houver atraso em relação à data marcada para a segunda dose, ou, por qualquer intercorrência, esta não puder ser administrada, deve ser inoculada “logo que possível”.

Sobre o impacto que esta alteração pode ter no plano de vacinação, fonte oficial da task force para o Plano de Vacinação Covid-19 disse ao Observador que este “encontra-se em permanente atualização e adaptação de forma a maximizar a eficiência do processo, mas cumprido sempre com as normas e orientações da DGS”. Assim, a task force acrescenta que “o plano de vacinação está a ser adaptado de forma a cumprir com o intervalo entre doses recomendado na norma número 003/2021″ publicada esta quinta-feira.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Todas estas recomendações constam da norma da Direção-Geral da Saúde (DGS) “Campanha de Vacinação contra a Covid-19 Vacina VAXZEVRIA” divulgada nesta quinta-feira e que atualiza o esquema vacinal desta vacina. No mesmo documento, lê-se ainda que “se foi administrada a primeira dose a uma pessoa que tenha estado infetada por SARS-CoV2, não deve ser administrada a segunda dose”.

Segundo a DGS, o esquema vacinal da VAXZEVRIA, também conhecida como a da Astrazeneca, é de duas doses com intervalo de oito a 12 semanas, “sendo atualmente recomendado o intervalo de oito semanas de forma a garantir a mais rápida proteção” conferida pela vacinação completa “perante a transmissão de novas variantes de preocupação (VoC) de SARS-CoV-2”, como a variante Delta, associada à Índia.

Na terça-feira, a comissária europeia para a Saúde, Stella Kyriakides, disse que estão a surgir provas que demonstram que a variante Delta do coronavirus SARS-CoV-2 “diminui a força do escudo protetor” criado pelas vacinas, instando à aceleração da vacinação completa da população.

“Têm surgido provas de que as variantes — nomeadamente a variante Delta — diminuem a força do escudo protetor fornecido pelas vacinas, especialmente quando a vacinação ainda não é completa. É, portanto, crucial que o maior número possível de cidadãos seja vacinado contra a Covid-19, e que seja totalmente vacinado o mais rapidamente possível”, disse Stella Kyriakides.

Todas as oportunidades de vacinação devem ser aproveitadas para completar o esquema vacinal, respeitando as recomendações desta norma”, destaca a DGS.

Dada a possibilidade de “uma maior reatogenicidade”, com um esquema vacinal constituído por duas vacinas diferentes, a DGS diz que poderá ser administrado paracetamol, após a segunda dose.

“As pessoas com menos de 60 anos de idade, que assim o desejem, numa base de ponderação de risco-benefício individualizada, podem completar o esquema vacinal com uma segunda dose de VAXZEVRIA, desde que se obtenha o seu consentimento livre e esclarecido”, salienta.

Sobre as mulheres grávidas, a DGS afirma que a experiência com a utilização da vacina VAXZEVRIA “é limitada”. “Estudos em animais não indicaram efeitos negativos no feto ou na grávida. Se os benefícios esperados ultrapassarem os potenciais riscos para a mulher, a vacina poderá ser considerada, por prescrição do médico assistente”, lê-se na norma publicada no site da DGS, salientando que “não é necessário evitar a gravidez após a vacinação”.

Diz ainda que se desconhece se a vacina VAXZEVRIA é excretada no leite humano. No entanto, afirma, “por ser uma vacina de um vetor viral geneticamente modificado sem capacidade replicativa, não é expectável a existência de efeitos adversos na criança amamentada, à semelhança das vacinas inativadas”. Segundo a DGS, “as mulheres a amamentar pertencentes a grupos de risco podem ser vacinadas”, não se recomendando parar a amamentação antes ou depois da vacinação.

Redução de intervalo pretende conseguir proteção mais rápida

A redução para oito semanas do intervalo entre as duas doses tem como “grande objetivo” conferir “uma proteção mais rápida” às pessoas já com uma dose, disse esta quinta-feira à Lusa um responsável da DGS.

Segundo o coordenador da Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19 da DGS, Valter Fonseca, desde o início da pandemia que a DGS está “atenta à evolução da situação epidemiológica”, sendo que “nos últimos dias tem-se verificado um agravamento da situação”.

“É também conhecido, sobretudo no Reino Unido, que a importância da administração da segunda dose da vacina da AstraZeneca é fundamental para conferir a máxima proteção às pessoas que estão a ser vacinadas com esta vacina, sobretudo, para fazer frente a novas variantes de preocupação como a variante Delta”, associada à Índia, salientou o também diretor do Departamento da Qualidade na Saúde da DGS. A norma da DGS nesta quinta-feira publicada foi baseada nestes dados e também nos dados de que “a eficácia desta vacina mantém-se muito elevada neste intervalo entre doses”, adiantou.

Questionado sobre se os utentes que terão a data da sua vacinação alterada podem receber a vacina em outro centro de vacinação caso estejam de férias, Valter Fonseca afirmou que a operacionalização da campanha de vacinação está a ser articulada em permanência entre a coordenação da task force que coordena o plano de vacinação, as Administrações Regionais de Saúde e os centros de vacinação “de forma a que se faça tudo para que ninguém fique sem estar devidamente protegido”.

Sobre as causas que podem estar na origem do agravamento da situação epidemiológica, afirmou que podem ser atribuídas a “várias hipóteses”, uma das quais a variante Delta, que está “em permanente análise”.

Para Valter Fonseca, “é importante” que o desconfinamento seja feito em cumprimento das regras gerais, nomeadamente o distanciamento físico, higiene das mãos e uso de máscara, para que seja “seguro”. Contudo, disse, “há várias variáveis que estão a congregar-se neste momento e que podem contribuir para este agravamento”. Mas, ressalvou, a vacinação permite proteger, sobretudo, desfechos mais graves e “isso já se está a notar e são ótimas notícias”.

Valter Fonseca assegurou ainda que “todas as vacinas aprovadas na União Europeia mostraram “elevados valores de efetividade” para os casos graves que implicam hospitalização e morte. “Por isso, a vacinação é a melhor forma que temos para nos protegermos individualmente contra esta doença e também conseguirmos controlar a pandemia” e “proteger os serviços de saúde”, defendeu.

Segundo dados da DGS, já foram administradas em Portugal 6.879.429 vacinas, das quais 2.379.304 são segundas doses.

Regulador da União Europeia sugere redução do intervalo

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) sugeriu esta quinta-feira uma redução do intervalo entre doses na administração da vacina anticovid-19 da AstraZeneca, como defendido em Portugal, principalmente devido à propagação da variante do SARS-CoV-2 detetada na Índia.

“Vimos alguns dados preliminares no Reino Unido que de facto mostrariam que esta vacina [a Vaxzevria, novo nome da vacina da AstraZeneca] é protetora contra a variante Delta, mas também que uma segunda dose aumentaria a proteção bastante significativamente”, declarou o chefe da estratégia de vacinas da EMA, Marco Cavaleri.

Falando em conferência de imprensa virtual a partir da sede do regulador da União Europeia (UE) em Amesterdão, na Holanda, o especialista acrescentou: “Considerando que a proteção da primeira dose é um pouco inferior à que vemos com a variante Alfa [a detetada no Reino Unido], que está agora a circular na maior parte da Europa, será de facto importante tentar ver se o intervalo entre as duas doses poderia ser encurtado”.

Questionado nesta quinta-feira sobre a administração de outros fármacos após a primeira dose da AstraZeneca, Marco Cavaleri indicou que o regulador europeu tem “conhecimento da possibilidade de utilizar uma abordagem de misturar e combinar diferentes vacinas ao longo das campanhas de vacinação nos Estados-membros”.

Esta é uma abordagem que se revelou bem sucedida no passado no contexto da utilização de outras vacinas e é bem conhecido que misturar e combinar vacinas muitas vezes acaba por ter uma melhor resposta imunitária”, referiu o responsável.

No que toca à vacina anticovid-19, ainda existem “provas limitadas sobre a opção de misturá-las e combiná-las”, embora “alguns estudos preliminares tenham mostrado que, de facto, a resposta imunológica parece ser satisfatória e não surgiram questões particulares numa perspetiva de segurança”, notou. “Portanto, parece que poderia ser uma estratégia que poderia ser utilizada, mas é claro que há poucas provas e é muito importante que recolhamos mais informação e monitorizemos cuidadosamente”, adiantou o especialista da EMA.

Numa altura em que mais de metade da população da UE tem a primeira dose da vacina anticovid-19, estão aprovadas quatro pela EMA: a Comirnaty (nome comercial da vacina Pfizer/BioNTech), Moderna, Vaxzevria e Janssen (grupo Johnson & Johnson).

Artigo atualizado às 17h20 com as informações do coordenador da Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19 da DGS e do chefe da estratégia de vacinas da EMA