O desconhecimento dos limites da Área Metropolitana de Lisboa (AML) é uma das razões pelas quais cerca de 25% dos condutores que circulavam hoje na zona do Carregado foram obrigados a voltar para trás. A constatação é do capitão Marco Pinheiro, que coordenava sábado de manhã as operações de fiscalização da GNR na entrada sul do Carregado, na Estrada Nacional 1, no troço que a liga a Vila Franca de Xira, depois de terem contabilizado cerca de 300 viaturas, em que cerca de um quarto teve de regressar ao ponto de partida.
“Até agora, fiscalizamos mais de 300 viaturas e cerca de um quarto teve de regressar, porque não apresentou justificação para circular para e da AML. Foram convidadas a regressar”, disse o capitão da GNR, indicando que os números são referentes ao período entre as 08:00 (hora a que começou a operação) e as 11:00, e que se irá prolongar até às 06:00 da próxima segunda-feira.
A operação integra-se no reforço de fiscalização que a GNR está a fazer para dar cumprimento à proibição de entradas e saídas de e para a Área Metropolitana de Lisboa desde as 15:00 de sexta-feira até às 06:00 de segunda, no contexto do combate à pandemia de covid-19. A Área Metropolitana de Lisboa integra os municípios de Alcochete, Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sintra e Vila Franca de Xira.
Segundo o capitão Marco Pinheiro, outra das principais razões passa pela não apresentação de uma justificação válida para passar o limite da AML. “Muitas delas iam visitar familiares, passear. Muitas delas sabiam destas limitações, mas não tinham conhecimento que aqui era a fronteira da AML [concelhos de Vila Franca de Xira e de Alenquer]”, sublinhou, lembrando a diferença da proibição de circulação que vigorou, recentemente, entre concelhos.
“Mas, agora, é de e para a AML e verifica-se que algumas pessoas não têm bem conhecimento do limite da AML”, acrescentou, sublinhando que os condutores a quem foi aconselhado voltar para trás têm sido compreensivos.
“As pessoas têm compreendido. Algumas foram apanhadas desprevenidas, ficaram um bocadinho desiludidas devido ao constrangimento, mas todas têm compreendido e acatado as ordens do regressar”, explicou. Marco Pinheiro destacou, por outro lado, que a grande maioria dos condutores que está a passar pela “fronteira” cumpre as exceções previstas no decreto-lei, salientando que o maior fluxo no trânsito, que ocorreu logo após o início das operações, demonstrou isso mesmo.
“Durante o início da nossa operação verificamos que o fluxo de trânsito era muito grande, também em virtude de ser o início do horário de trabalho e de muitos pesados estarem também a iniciar” o trajeto, referiu. “Temos também alguma percentagem de pessoas, o que é positivo, que está a deslocar-se para fazer a vacinação, através do auto agendamento, e outras que apresentaram justificação para irem fazer o teste covid-19”, acrescentou.
Desiludida ficou Juliana Sousa, residente na Azambuja e que pretendia, como habitualmente, ir a um hipermercado em Vila Franca de Xira e que foi obrigada a ir fazer as compras noutro local. “Íamos às compras a Vila Franca de Xira, porque gosto mais de ir ao Continente de lá. Sinceramente, não vejo muito as notícias e não sabia que não era possível circular. Sabia que não era possível circular, mas pensava que era só a partir de Lisboa. Não sabia que não se podia a partir de Vila Franca de Xira. Agora, olhe, vou ter de ir às compras noutro sítio, paciência”, disse à Lusa.
O desconhecimento dos limites da fronteira da AML, ou a confusão que criou, também apanhou desprevenido Gonçalo Serra, residente em Sobral de Monte Agraço, que seguia numa motorizada para uma aula de equitação no Centro Equestre da Lezíria Grande, em Vila Franca de Xira e que acabou por não passar do Carregado. “Tenho um colega que anda comigo na escola e que disse que a zona de Vila Franca de Xira pertencia à zona metropolitana de Lisboa e que podia passar. Agora, pelos vistos, não sei. Vou voltar para casa, o que hei de fazer?”, lamentou.
No sentido contrário seguia José Pinto, residente em Vila Franca de Xira, que pretendia ir ao Carregado comprar “uma trincha” para se “entreter” a pintar durante do fim-de-semana. “Pensava que o Carregado também pertencia à AML. Ia comprar uma trincha para me entreter a pintar durante o fim-de-semana”, explicou à Lusa, ao mesmo tempo que encolhia os ombros em sinal de resignação. “Não me estragaram os planos. Há de haver aí um sítio onde comprar, mais perto”.