A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, destacou esta segunda-feira as “perspetivas animadoras” relativas à economia da zona euro, devido aos avanços na campanha de vacinação contra a Covid-19 e ao aumento da confiança dos consumidores.

“As perspetivas para a economia são de facto animadoras, à medida que a situação pandémica melhora, as campanhas de vacinação progridem e a confiança começa a aumentar”, declarou Christine Lagarde, falando aos eurodeputados da comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu.

Nesta intervenção por videoconferência, a responsável pelo BCE disse esperar que a atividade económica na zona euro “acelere a partir deste trimestre, suportada por estímulos orçamentais e monetários e por uma vigorosa recuperação da atividade dos serviços em particular, que tem sido mais duramente atingida pela pandemia e pelas medidas de contenção associadas”.

Além disso, “a produção industrial continua robusta, embora a escassez da oferta, principalmente relacionada com dificuldades na aquisição de materiais e equipamentos, possa gerar alguns ventos de proa para a atividade industrial a curto prazo“, previu.

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Christine Lagarde estimou então que “a atividade económica melhore fortemente na segunda metade de 2021, apoiada por uma forte recuperação dos gastos dos consumidores e por um sólido investimento empresarial”. Isso mesmo revelam as previsões do BCE divulgadas em meados deste mês, que apontam para um crescimento de 4,6% da economia da zona euro este ano, mais seis décimas do que os 4% previstos em março. O BCE espera ainda um crescimento de 4,7% em 2022 (4,1% previsto em março) e de 2,1% em 2023 (inalterado desde março).

Já falando sobre “os riscos em torno das perspetivas de crescimento”, Christine Lagarde referiu que se tornaram “globalmente equilibrados“, já que apesar de “a propagação de variantes do vírus continuar a ser uma fonte de risco”, verificam-se agora “perspetivas mais otimistas para a procura global e um aumento mais rápido do que o previsto das despesas de consumo”. Tal situação deverá “resultar numa recuperação ainda mais forte“, reforçou.

Apesar desta audição ainda realizada à distância, Christine Lagarde disse esperar que as próximas participações na comissão parlamentar de Assuntos Económicos e Monetários sejam realizadas presencialmente em Bruxelas, numa altura em que “a situação sanitária e as perspetivas económicas em toda a Europa melhoraram graças a progressos significativos em matéria de vacinação”. “Mais de 100 milhões de pessoas na União Europeia agora totalmente vacinadas“, destacou ainda a presidente do BCE.

A ferramenta online do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) para rastrear a vacinação da UE, que tem por base as notificações dos Estados-membros, revela que até ao momento uma média de 30,5% da população adulta da UE já foi inoculada com duas doses de vacina contra a Covid-19, enquanto cerca de 54,4% recebeu a primeira dose. Em termos absolutos, isto equivale a cerca de 112 milhões de adultos da UE com a vacinação completa e 199 milhões com a primeira dose recebida, adianta o ECDC.

BCE justifica demora na criação do euro digital com riscos para estabilidade financeira

Christine Lagarde, justificou  a demora na criação do euro digital, a forma virtual da moeda única, com os eventuais riscos para a estabilidade financeira, defendendo uma solução “bem concebida”.

Pode trazer riscos se não for concebido e implementado adequadamente e essa é uma das razões pelas quais a sua preparação está a demorar um pouco de tempo, porque [é uma solução que] não está isenta de alguns riscos”, disse Christine Lagarde.

A responsável assinalou que outro dos riscos é um eventual “impacto negativo na estabilidade financeira ao induzir grandes transferências de dinheiro privado para o euro digital”. “Isto poderia aumentar o custo de financiamento dos bancos e, como consequência, as taxas de juro dos empréstimos bancários, reduzindo potencialmente o volume de crédito à economia”, acrescentou Christine Lagarde.

E insistiu: “Tal risco seria mais elevado se o euro digital fosse utilizado como uma reserva de valor generalizada e é por isso que deve ser cuidadosamente concebido como um meio de pagamento atrativo, mais do que como uma forma de investimento”.

Para colmatar tais riscos, a presidente do BCE sugeriu então a “remuneração das participações digitais em euros às taxas variáveis”, bem como a criação de “um limite máximo sob o qual apenas o euro digital seria disponibilizado”.

A criação de um euro digital tem vindo a ser estudada há vários meses pelo banco central e estará em cima da mesa na reunião do Conselho do BCE de julho, sendo que a estrutura ainda não tomou qualquer decisão sobre o assunto. Um euro digital seria uma forma eletrónica de moeda única acessível a todos os cidadãos e empresas — tal como as notas de euro, mas em formato digital –, permitindo-lhes por exemplo realizar pagamentos diários. Funcionaria, então, como um complemento às notas e moedas de euro sem as substituir. “Se decidirmos introduzir um euro digital, isso deve ser feito sem pôr em risco a estabilidade financeira e a transmissão monetária”, defendeu Christine Lagarde.

Por isso, o BCE continuará a “avaliar as características de conceção e os instrumentos para salvaguardar os elementos críticos da transmissão da estabilidade financeira da política monetária, com vista a proteger o que é importante para os cidadãos, como a proteção da sua privacidade”. Nesta área, da proteção de dados, Christine Lagarde sustentou que tal tarefa “é certamente melhor realizada num euro digital que está sob o controlo do Banco Central Europeu, que não tem qualquer interesse em explorar os dados, do que se estes fossem tratados por algum operador privado”.

Já aludindo às vantagens da moeda virtual, a responsável elencou que “o euro digital poderia ajudar a Europa e o seu setor financeiro a abraçar plenamente os benefícios da transformação digital em curso” e, ao mesmo tempo, “assegurar a disponibilidade de dinheiro do banco central, físico e digital, se a utilização de dinheiro em numerário diminuísse drasticamente ou se as soluções de pagamento privado sem ser em euro se tornassem dominantes”.

Além disso, poderia desempenhar “um papel inclusivo” ao permitir “alargar o acesso […] a pessoas que de outra forma não teriam necessariamente uma conta bancária ou acesso às facilidades de depósito”, adiantou. Uma moeda digital é um ativo semelhante ao dinheiro que é armazenado ou trocado através de sistemas ‘online’, sendo que no caso do euro seria gerida pelo banco central. O euro foi lançado há 22 anos e é a segunda moeda mais utilizada, a nível mundial, nos pagamentos globais.