Numa visita esta sexta-feira ao centro de vacinação em Oeiras, Marta Temido admitiu que “em Lisboa, talvez neste momento estejamos no pico”, mas que são necessários mais dados recolhidos nos próximos dias para dar isso como certo. Em resposta à carta aberta dos profissionais de saúde, a ministra referiu ainda que estão a apostar forte na vacinação — “a melhor arma”, mas que não se podem deixar cair “cautelas”.

Questionada sobre se Portugal já estaria a atingir o pico da quarta vaga, Temido diz que são necessários mais dados e que “só depois de passarmos o pico é que podemos dizer que já lá estivemos”. Ainda assim, acabou por admitir que Lisboa talvez esteja agora nesse mesmo pico. Apesar disso, reforça, é necessário continuar a “apostar nas medidas de precaução básicas, que não são muito exigentes face ao que nos permite ter”.

Em relação à carta aberta conhecida hoje, assinada por profissionais de saúde que pedem o fim das medidas de confinamento, e que questionam a real eficácia das medidas sanitárias que têm vindo a ser tomadas, a ministra afirmou que a “melhor arma” é a vacinação e é aí que estão as apostas. Porém, refere que “isso não implica que nós não tenhamos que manter algumas cautelas” e que de momento o país já tem medidas de confinamento “adaptadas à atual situação”.

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A ministra da Saúde disse que desde o início de junho que o país tem disponível uma quantidade de vacinas que dantes não se registava e que isso permite aumentar o número de inoculações — Portugal atingiu já as 10 milhões de doses administradas.

“Naturalmente” que olha para estas sugestões de outra forma, diz, pelo facto de serem especialistas a assinar esta carta aberta, ainda assim reforça o pedido de cuidados. “Precisamos de ler esta carta naquilo que ela na realidade nos transmite e, nesta fase, apesar de vermos o número de casos com uma incidência persistente, talvez possamos conseguir controlar os números”, disse. “Eu leio esta carta como um apelo a todos nós para mantermos as medidas que estamos a praticar”.

Marta Temido: “Autoteste é mais frágil, mas é alternativa para alguns contextos”

Em relação à mais recente permissão de venda de autotestes em supermercados e na impossibilidade de as farmácias conseguirem dar resposta à procura atual, a ministra da Saúde refere que aposta nos testes como um “instrumento” usado sobretudo para que não tem vacina, mas também para quem tem e se encontra numa zona com novas variantes. Marta Temido admite que existem várias medidas de prevenção para diferentes contextos e que “apesar de ser possibilidade mais frágil e menos fiável que algumas opções” o autoteste “é alternativa para alguns contextos”.

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Em declarações aos jornalistas, a ministra diz que os testes antigénio e os autotestes “são medidas complementares, uma espécie de funil”, disse. “A primeira medida é a  vacinação, depois há o teste PCR, há depois uma medida de teste antigénio e o autoteste”, refere, dizendo que esta última opção é mais “barata para as pessoas” mas que não dispensa que a realização de outros testes, se tiver um resultado positivo.

“A matriz já reflete os outros indicadores, só não estão nos quadradinhos”

A Ordem dos Médicos apresentou esta semana uma proposta para um novo modelo da matriz de risco — que o Governo não adotará pelo menos antes da reunião com o Infarmed —  que acrescenta novos indicadores para ter uma fotografia real da pandemia a cada momento. Marta Temido referiu aos jornalistas que o seu gabinete recebeu as propostas “com bom grado” e que todos os indicadores referidos por peritos estão a ser “considerados e recolhidos”.

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Acontece que estes não são incluídos na matriz atual porque o modelo inicial tem apenas a o R(t) e a incidência cumulativa (a 14 dias) como sendo “os indicadores que dariam uma leitura mais rápida e concreta da realidade”, segundo o que os peritos tinham proposto no início.

“Os outros indicadores são complementares”, diz. “A matriz já reflete os outros indicadores, se não fosse a vacinação, por exemplo, o risco de transmissão e a incidência estariam muito superiores. Internamentos estariam também em níveis mais elevados, sem a vacinação. Os indicadores estão lá, só não estão nos quadradinhos, estão na nota abaixo dos quadradinhos”.

“Solavancos” não alteram planeamento da task force: meta para imunidade de grupo mantém-se

Na mesma visita, a ministra foi acompanhada pelo vice-almirante Gouveia e Melo, coordenador da task force, que tem esperança de recuperar o tempo perdido “até ao fim desta semana” depois da suspensão temporária da modalidade Casa Aberta que diminuiu ligeiramente o ritmo de vacinação.

Em declarações aos jornalistas, o vice-almirante Gouveia e Melo explica que esta semana havia cerca de 150 mil vacinas da Janssen para administrar à população (homens de todas as idades e mulheres com mais de 50 anos), mas devido à suspensão de um dia será preciso “recuperar a vacinação dessas pessoas”.

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Relativamente a essa suspensão momentânea, Marta Temido diz que foram analisados alguns factos ”com cuidado” para que depois pudessem retomar o processo com “toda a tranquilidade e confiança”. A ministra assegura que todas as vacinas administradas nos países da União Europeia são aprovadas pela EMA e que são “de qualidade, seguras e eficazes”.

Este fim de semana, Portugal vai receber mais 295 mil vacinas da Janssen, que serão usadas na próxima semana na modalidade Casa Aberta, anunciou o responsável pela task force. A meta para a imunidade de grupo continua a ser entre 8 e 15 de agosto, aponta. Atrasos como o provocado pela suspensão temporária da modalidade Casa Aberta são apenas “solavancos de curto prazo, que não alteram o planeamento de médio e longo prazo.”