O enviado especial da União Africana (UA) para a Covid-19 afirmou esta quinta-feira que apenas chegaram a África 10% dos 320 milhões de vacinas que a Covax tinha anunciado que chegariam à região em agosto.
Strive Masiyiwa, um milionário e filantropo do Zimbabué, que se tem empenhado no acesso da população africana às vacinas contra a Covid-19, falava durante o encontro semanal, e virtual, do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), durante o qual foi anunciado uma meta “histórica” na vacinação contra a pandemia no continente.
A partir de esta quinta-feira, começam a ser distribuídas na região os 400 milhões de doses de vacinas que os Estados membros da UA se comprometeram a adquirir para imunizar parte da população africana, cabendo à Covax, o mecanismo de distribuição universal e equitativa de vacinas contra a Covid-19, de que beneficiam 92 países pobres, as restantes.
Strive Masiyiwa não questionou as razões que conduziram a este atraso na chegada das vacinas via Covax, mas foi perentório: “Sou um homem de negócios, foco-me nos resultados. Deviam ter chegado até agora 320 milhões de doses e não chegaram”.
A meta dos 320 milhões de doses entregues em agosto foi definido pelo próprio mecanismo Covax, segundo Stive Masiyiwa.
O filantropo congratulou-se com o trabalho desenvolvido pela União Africana (UA), o qual permitiu que, a partir de esta quinta-feira, se inicie o envio de vacinas adquiridas por esta organização para os seus Estados membros.
Segundo Strive Masiyiwa, o primeiro país a receber estas vacinas será o Togo e a sua distribuição no continente ocorrerá até setembro de 2022. Só em agosto serão expedidas 6,4 milhões de doses, com a Unicef a assegurar o trabalho logístico da administração das vacinas.
Foi escolhida a vacina Johnson & Johnson por ser de dose única, mais fácil e mais barata de administrar, mas também porque tem um longo prazo de validade e condições de armazenamento favoráveis.
Outro fator que pesou na escolha desta vacina foi o facto de ser parcialmente fabricada no continente africano.
No passado dia 28 de março, os Estados membros da UA assinaram um acordo (African Vaccine Acquisition Trust – AVAT) para a compra de 220 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 e a possibilidade de encomendar mais 180 milhões de doses.
Para o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o país africano mais afetado pela Covid-19, “este é um importante passo em frente nos esforços da África para salvaguardar a saúde e bem-estar do seu povo”.
“Ao trabalhar em conjunto e ao reunir recursos, os países africanos conseguiram assegurar milhões de doses de vacinas produzidas aqui mesmo em África. Isto dará um impulso à luta contra a Covid-19 em todo o continente e lançará as bases para a recuperação social e económica de África”, disse.
Uma aquisição de vacinas desta magnitude é pioneira no continente africano e é também a primeira vez que os Estados membros da UA adquirem coletivamente vacinas para salvaguardar a saúde da população africana.
Os 400 milhões de doses de vacinas são suficientes para imunizar um terço da população africana e levar a África a meio caminho do seu objetivo continental de vacinar, pelo menos, 60% da população.
Os doadores internacionais comprometeram-se a fornecer a metade restante das doses necessárias, através da iniciativa covax.
As doses de vacinas que começam agora a ser distribuídas são produzidas nas instalações da Aspen Pharmacare, em Gqeberha, na África do Sul.
Para o diretor do África CDC, John Nkengasong, as entregas que começam agora vão ajudar o continente a atingir “os níveis de vacinação necessários para proteger as vidas e os meios de subsistência africanos”.
Nkengasong também aproveitou uma questão levantada por um jornalista durante a conferência de imprensa para esclarecer que os benefícios da vacina são muito superiores aos riscos e que a sua segurança é permanentemente monitorizada.
O acordo com a Johnson & Johnson foi possível através de uma facilidade de 2.000 milhões de dólares, proporcionada pelo African Export-Import Bank (Afreximbank), cujo presidente, Benedict Oramah, considera que vai ajudar “a conter a propagação do vírus e a proteger vidas e meios de subsistência”.
Por seu lado, a subsecretária-geral das Nações Unidas e secretária executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), Vera Songwe, classificou o momento “de orgulho para o continente”.
“As vacinas, parcialmente fabricadas na África do Sul, são uma verdadeira prova de que a produção local e as aquisições conjuntas, tal como previsto na Área de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA), são fundamentais para a consecução de uma recuperação económica mais sustentável pós-Covid em todo o continente”, disse.
Esta aquisição e distribuição de vacinas é apoiada por uma parceria inovadora entre o Banco Mundial e a UA, através da qual o Banco Mundial apoia a iniciativa AVATT com recursos que permitem aos países comprar e distribuir vacinas para até 400 milhões de pessoas em toda a África.
O diretor executivo de operações do Banco Mundial, Axel van Trotsenburg, juntou-se às congratulações, afirmando que “o dia de hoje marca um marco importante nos esforços incansáveis da UA em trazer vacinas contra a Covid-19 para África”.
A pandemia de Covid-19 fez pelo menos 4.247.424 mortos em todo o mundo, entre mais de 200,1 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus, desde que a OMS detetou a doença na China em finais de dezembro de 2019, segundo o balanço da AFP com base em dados oficiais.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil e Peru.