A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos instaurou um processo disciplinar contra médico negacionista Diogo Cabrita, que trabalha no Hospital dos Covões em Coimbra, pela campanha que este tem levado a cabo contra a vacinação da Covid-19, incluindo uma caminhada de Coimbra a Lisboa, em maio de 2021, em protesto contra a inoculação de menores.

De acordo com denúncias recebidas pela Ordem, a que Observador teve acesso, Diogo Cabrita é fundador da associação Aliança Pela Saúde Portugal, que se dedica a estudar e a organizar debates sobre a “influência da narrativa política/ideológica no cenário global de saúde mental em tempos Covid”. Esta organização foi ainda responsável por colocar outdoors em Lisboa e no Porto que mostravam a pergunta “O seu filho é uma cobaia?”, aludindo aos perigos da vacinação em jovens.

Além disso, no decorrer da “Marcha pelas Crianças” — cujo percurso foi integralmente partilhado em vídeos no site do movimento — Diogo Cabrita disse que a vacina podia “dar um AVC, um enfarte do miocárdio, uma trombose venosa profunda” a uma “criança de 17 anos”. “Queremos levar os nossos filhos a esta experiência sem ponderação, sem estudo, sem avaliação de factos?”, questionou.

“Acho que é preciso refletir. Portugal precisa de parar. Há uma histeria coletiva que tem de parar. Temos de olhar para o que estamos a fazer”, argumentou.

Noutro vídeo, Diogo Cabrita levanta suspeitas de que a morte da atriz Maria João Abreu esteve relacionada com a vacina contra a Covid-19: “Porquê é que não fica claro se a Maria João [Abreu], a atriz, foi ou não vacinada? Ela teve a doença, houve informações de que foi vacinada, e depois há um caso brutal”, afirmou, ressalvando que não tem a certeza, mas apontando para uma “sonegação de informação”.

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Mais à frente, nesse mesmo vídeo, compara a decisão de um médico de 25 anos que sofreu de Covid ao Holocausto: “Como é que [ele] caminha para uma vacina experimental? Faz-me lembrar a sério Treblinka [campo de concentração na Polónia], faz-me lembrar a sério a caminhada dos judeus para os fornos crematórios“.

Na “Marcha pelas Crianças”, Diogo Cabrita esteve ainda acompanhado pelo juiz negacionista Rui Castro, que foi entretanto demitido pelo Conselho Superior da Magistratura, e também por Margarida Oliveira, uma das fundadoras da organização Médicos pelas Verdade e que foi sancionada a uma pena de seis meses de suspensão pela Ordem dos Médicos.

Ordem condena médica “pela Verdade” a pena de seis meses de suspensão. Margarida Oliveira vai contestar a decisão

Após uma análise dos factos, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos decidiu avançar para um processo disciplinar, estando agora a deliberar se se pode “consubstanciar a prática de infração disciplinar”.