O jovem português que quer ser o primeiro a dar a volta ao mundo numa mini moto foi ferido num acidente viário nos Estados Unidos e está a receber tratamento a uma lesão na coluna, revelou esta terça-feira o próprio.

André Sousa é natural de Oliveira de Azeméis, no distrito de Aveiro, e começou a viagem em julho de 2020 no concelho de Avis, em Portalegre, sendo que, mesmo com as diversas restrições fronteiriças relacionadas com a pandemia de Covid-19, já percorreu numa Honda Monkey 125 mais de 40.000 quilómetros através de 29 países.

Jovem português quer ser o primeiro a dar a volta ao mundo numa moto de 125cc

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Depois de um primeiro acidente em França, foi agora na Califórnia que o motociclista voltou a ser vítima de uma colisão na estrada. Após mais de 10.000 quilómetros através de 21 estados norte-americanos, o acidente deu-se a 11 de outubro perto do Deserto de Mojave e envolveu novamente um camião que, ao abalroá-lo, lhe provocou várias lesões, a mais grave das quais na coluna vertebral.

“Nas pernas fiquei todo raspado, quase até ao osso, mas o pior é que tenho a zona cervical e lombar toda lesionada. Ainda faltam alguns testes para saberem ao certo qual é problema, mas já me puseram a fazer fisioterapia todos os dias porque tenho muitas dores e mal me consigo pôr direito”, declara André Sousa à Lusa.

O período de tratamento coloca agora várias dificuldades ao jovem português no que se refere ao seu orçamento de viagem, a começar pelo “custo astronómico do alojamento em Los Angeles, que é a zona de Hollywood, onde tudo é caríssimo”.

O gestor de 25 anos ainda tentou recorrer à rede de acolhimento gratuito CouchSurfing, mas reconhece que “ninguém quer um hóspede em casa por um mês inteiro, sobretudo quando ele tem que estar sempre deitado e mal se pode mexer para fazer as refeições”.

Para já, André está alojado numa habitação da plataforma Airbnb, mas os custos que vem acumulando preocupam-no: 2.200 euros tiveram que ser pagos antecipadamente pelas dormidas, as refeições “mais básicas nunca custam menos de 10 euros” e ainda há a despesa que aumenta dia a dia com fisioterapia e medicação numa clínica de Beverly Hills.

“Para já, ainda não me cobraram nada, mas, se chegarmos ao fim do processo e o seguro do camionista não assume a responsabilidade, arrisco-me a ter que acabar a viagem a meio por não ter dinheiro para continuar”, explica o jovem, que vem documentando toda a aventura nas redes sociais, em perfis com a designação “Ride that Monkey“.

Entretanto, a pequena moto também ficou parada, enquanto o advogado californiano que André contratou para lidar com as seguradoras procura que a representante do camionista assuma o custo da reparação. “Acidentes, hospitais e seguros, aqui nos Estados Unidos, não têm nada a ver com os de Portugal. É tudo uma complicação tremenda e pode demorar muito tempo, que é o que me deixa mais aflito”, confessa o motociclista português.

Para ajudar, os apoiantes da aventura têm-lhe transferido alguns donativos e André reconhece que isso lhe alivia a despesa com o alojamento, embora continue apreensivo quando ao custo total da interrupção na viagem, por não saber ainda “quanto tempo será preciso ficar em tratamentos médicos” em Los Angeles. Certo é que o rombo no orçamento já é considerável.

Só até aqui, o que estou a gastar por causa do acidente, na zona que deve ser a mais cara dos Estados Unidos, dava para cinco ou seis meses de viagem em países mais baratos, como os da América Latina”.

Quando planeou a aventura com que espera obter um novo recorde (para juntar ao da primeira travessia da América Latina numa moto de 125 centímetros cúbicos de cilindrada), André fez as contas à velocidade média da pequena Honda, que, carregada com bens essenciais, se desloca a 40 a 60 quilómetros por hora consoante a inclinação do terreno. Os cálculos de então indicavam que precisaria de dois anos para dar a volta ao mundo, mas, devido a fronteiras fechadas, quarentenas obrigatórias e outras limitações impostas pela pandemia, em 16 meses o jovem ainda só cumpriu metade do percurso delineado.

André mantém, no entanto, o bom humor habitual: “Ainda me falta andar muito e, se eu continuar a levar com camiões em cima, cada vez vai demorar mais. Podiam meter-se com gente do tamanho deles, não?”.