Os países que representam os quatro maiores emissores de gases com efeito de estufa – China, EUA, Rússia e Índia – têm feito várias promessas para reverter a situação, mas os desafios que enfrentam provocam algum ceticismo à comunidade internacional.

As maiores promessas têm sido apresentadas pelos Estados Unidos.

Depois de quatro anos de costas viradas para o clima, durante a administração Trump, a Casa Branca quer tornar-se um exemplo nesta área.

O Presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, prometeu, em abril — durante uma cimeira sobre o clima convocada pelos Estados Unidos —, cortar as emissões de gases de efeito estufa do país entre 50% e 52% até 2030 (relativamente aos níveis de 2005) e passar a liderar a luta global contra o aquecimento global.

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A meta também assinalou o objetivo de Biden de descarbonizar a economia dos EUA inteiramente até 2050, situação que o Presidente defende que pode criar milhões de empregos bem remunerados, mas que muitos republicanos dizem temer que prejudique a economia.

O plano de criação de infraestruturas apresentado em agosto, que envolve um investimento de mais de um bilião de euros, contém várias medidas que podem gerar cortes de emissões nesta década, como neutralizar as emissões do setor elétrico até 2035 ou eletrificar a frota de veículos.

A Casa Branca também insistiu na importância dos sumidouros de carbono, que são depósitos naturais — oceanos, florestas e solos — que absorvem e capturam o dióxido de carbono da atmosfera, reduzindo sua presença no ar.

Promessas é o que não tem faltado também no país que se tornou o maior alvo de competição dos Estados Unidos: a China, país onde o volume de emissões de gases retentores de calor na atmosfera ultrapassa o conjunto do resto do mundo.

Adotando a política climática como uma importante área de cooperação — e até mesmo de competição com os EUA — o Presidente chinês, Xi Jinping, prometeu, no ano passado, cumprir dois compromissos: atingir o volume máximo de emissões antes de 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2060. Mas não especificou como pretende alcançar essas metas.

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Xi cedeu também a um apelo que a comunidade internacional tem feito ao longo dos anos e abriu o mercado de carbono, que transforma o poder de poluir numa permissão que pode ser comprada ou vendida. Com isto, o mercado chinês pretende limitar a quantidade de dióxido de carbono que as companhias podem libertar, criando uma competição que estimula as empresas a tornarem-se mais eficientes em termos de uso de energia e a adotarem tecnologias limpas.

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Para fazer o mercado funcionar, os reguladores terão que medir com rigor as emissões das fábricas e garantir que os poluidores não escondem ou manipulam os dados, o que pode constituir um grande desafio para a China, onde existe uma extensa base industrial e uma regulação relativamente pobre.

O Governo chinês disse inicialmente que este mercado iria abranger os setores siderúrgico, de cimento e o setor de energia, mas recuou um passo e decidiu restringir as regras apenas às termoelétricas movidas a gás ou carvão, um setor que tem menos empresas e que é mais fácil de monitorizar.

Mesmo assim, o mercado já cobre o equivalente a um décimo do total de emissões globais de dióxido de carbono, estando cerca de 2.225 operadoras a participar na plataforma Bolsa de Meio Ambiente e Energia de Xangai.

Se as promessas feitas por Xi forem, de facto, cumpridas, a mudança representará uma diferença significativa na luta contra as alterações climáticas. Mas o país enfrenta grandes desafios para conseguir alcançar essa meta.

Desde logo porque a China tem a maior população do mundo e, apesar de ter ultrapassado os Estados Unidos como maior poluidor do mundo, as suas emissões ‘per capita’ permanecem muito abaixo das dos EUA, o que significa existir um potencial muito grande para crescer.

Por outro lado, o histórico da China como grande emissor é relativamente recente em comparação ao dos países desenvolvidos, muitos dos quais começaram a emitir gases poluidores há mais de um século. A situação tem sido, aliás, utilizada pela China como argumento para construir mais fábricas de carvão em vez de as fechar. Segundo os responsáveis do país, a China tem o direito de fazer o que países ocidentais fizeram no passado: libertar dióxido de carbono no processo de desenvolvimento da sua economia e redução da pobreza.

Um outro desafio assenta numa visão enviesada sobre quem produz mais gases com efeito de estufa.

“Muitas das coisas que consumimos [no Ocidente] são produzidas na China e as emissões são contabilizadas no registo de emissões de carbono chinês”, alertou o cientista de clima e professor associado da Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida em Viena, Reinhard Steurer.

Além disso, a redução ou mesmo extinção do uso de carvão na China pode não ter o impacto esperado. A China é o maior consumidor mundial de carvão, mas queima muito carvão de baixa qualidade em relação ao que é queimado nos Estados Unidos e na Europa. Carvão de baixa qualidade implica menos energia e menos emissões, ou seja, menos libertação de carbono.

Ainda assim, investigadores da Universidade Tsinghua defenderam que 90% da energia da China tem de passar a ser nuclear e renovável até 2050. Para chegar a esse objetivo, a China deve apostar em liderar a produção de tecnologia de energia verde, como painéis solares e baterias de larga escala. Um objetivo que o Governo parece querer adotar, defendendo o seu grande potencial económico e capacidade de gerar milhões de empregos, além de reduzir a dependência da China da importação de petróleo e gás.

Em 2020, a China já tinha mais do triplo de fábricas de energia eólica relativamente a qualquer outro país e o país diz que a proporção de energia gerada por combustíveis não-fósseis deve alcançar 25% até 2030.

A Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP26) decorre entre 31 de outubro e 12 de novembro em Glasgow, na Escócia, e vai procurar por em prática os compromissos do Acordo de Paris, alcançado em 2015, sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa e diminuir o aumento da temperatura global até ao fim do século a 1,5 graus centígrados acima dos valores da era pré-industrial.