De quedas em cascatas a afogamentos, pelo menos 379 pessoas morreram no mundo — em média, uma a cada 13 dias — entre janeiro de 2008 e julho do ano passado, por tirar selfies em lugares deslumbrantes, mas, ao mesmo tempo, perigosos: é esta uma das conclusões do estudo da Fundação iO, especializada em Medicina Tropical e do Viajante. “É um problema emergente que, pelas dimensões que adquiriu, pode ser considerado de saúde pública”, referiu Manuel Linares Rufo, presidente da Fundação iO e investigador principal do estudo. Detetado o problema, há que “tomar medidas para o enfrentar”, salientou.

Com a abertura gradual das fronteiras e, apesar de algumas restrições ainda existentes devido à pandemia, este fenómeno ressurgiu nos primeiros sete meses do ano. Neste período, já houve 31 acidentes fatais, ou seja, cerca de um por semana.

Com 100 mortes, a Índia é o país mais “mortífero”. Em algumas zonas, como em Mumbai, passou a ser proibido tirar selfies. Sem serem ordenados por ordem, outros lugares do mundo têm igualmente no seu historial mortes com esta causa: as Cataratas do Niágara, na fronteira entre os EUA e Canadá, a Praia da Penha, no Brasil, a Cascata Mlango, no Quénia e as Montanhas Urais, na Rússia.

De acordo com a plataforma Danger Selfies, em Portugal, morreram quatro pessoas devido a selfies em sítios perigosos, todos por queda. Segundo a informação disponibilizada, um dos casos é de um casal polaco que caiu de um penhasco, depois de cruzar uma barreira de segurança com os filhos, os quais sobreviveram. Por sua vez, na Praia dos Pescadores, na Ericeira, um casal australiano caiu de uma parede com 30 metros de altura.

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Analisando os dados de janeiro de 2008 a julho de 2020, das mortes referidas, 141 foram de turistas e 238 de habitantes locais, reflexo das situações de risco em que os viajantes se colocam em relação aos segundos.

Como ajudar a evitar isto? “Uma opção seria identificar os locais mais perigosos e alertar quem os visita, algo em que os fabricantes de telemóveis, programadores de aplicativos e administradores também deveriam estar envolvidos”, exemplificou o investigador. A pouca perceção do problema na literatura científica e nas recomendações feitas pela medicina de viagem foram, entre outros, impulsos para a realização do estudo.

O psiquiatra Enrique García Bernardo, citado pelo El País, explicou que fotografias em locais arriscados são “uma forma rápida de obter reconhecimento imediato, fácil e superficial”, em nome de seguidores e gostos. “É um mecanismo de reafirmação social”, reiterou.

Os dados foram compilados através de uma ferramenta de inteligência epidemiológica chamada Heimdllr-Project, que rastreia todas as informações publicadas nos media, das seis línguas mais utilizadas no mundo: inglês, espanhol, francês, alemão , português e italiano. Possui, por isso, algumas limitações. Por exemplo, exclui os casos noticiados noutras línguas. O trabalho também não inclui o número de acidentes graves, mas não fatais, que ocorrem. Todos os dados serão publicados em breve no Journal of Travel Medicine.