Pela primeira vez, o regime bielorrusso deu um sinal de querer recuar na atuação da crise migratória. Os oficiais do país deram conta de que retiraram, esta quinta-feira, todas as pessoas que estavam num campo de migrantes junto à fronteira, perto da cidade de Kuźnica, na Polónia.

Segundo o The Guardian, a informação foi depois confirmada pelos oficiais polacos que estão na fronteira: “O campo está deserto. Os serviços bielorrussos mandaram [os migrantes] para um centro de logístico a quilómetros daqui”. No entanto, ainda não se sabe qual será o destino final destas pessoas.

Um porta-voz de Alexander Lukashenko admitiu que a Bielorrússia terá concordado em enviar cerca de cinco mil migrantes de volta para os seus países de origem, depois de uma conversa com Angela Merkel, em que a chanceler também terá aceitado criar um corredor humanitário para que dois mil migrantes fossem para a Alemanha.

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Além disso, a mesma fonte revelou que cerca de 431 iraquianos que estavam na fronteira saíram da Bielorrússia no primeiro voo de repatriamento. Houve ainda pessoas que “recusaram” sair do país, algo que continua a ser um desafio para as autoridades bielorrussas.

“Nós cumprimos as nossas promessas”, disse o porta-voz, acusando ainda a União Europeia de não fazer o mesmo, declarações que conferem mais solidez à hipótese de que terá havido um acordo secreto entre Lukashenko e Merkel. No entanto, o governo alemão ainda não confirmou oficialmente a criação de um corredor humanitário.

Esta conversa entre a chanceler e o líder bielorrusso foi tida pelo governo polaco e lituano como uma afronta, por não ter em conta os interesses dos dois países. De acordo com Mateusz Morawiecki, “nenhum acordo que envolva a Polónia e toda esta situação poderá ser concluído sem a nossa participação”. Já o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, criticando a atuação de Merkel por conversar com “um ditador e um presidente ilegítimo”.

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Apesar de a situação na fronteira estar a estabilizar, nas últimas horas morreu uma criança de um ano oriunda da Síria numa floresta, noticiou o The Guardian. É, pelo que se sabe, a vítima mortal mais nova desta crise migratória. 

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A organização não governamental Equipa Médica de Emergência Polaca informou que receberam, na tarde desta quinta-feira, uma informação que dava conta que uma pessoa estava ferida numa floresta perto da fronteira. Ao chegar ao local, os técnicos da ONG depararam-se com três feridos, que já estariam no local há um mês e meio.

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Tratava-se de um casal sírio com um filho. O homem “tinha uma ferida junto ao seu braço”, para além de estar desidratado, enquanto a mulher tinha uma facada na perna. Já o bebé estava morto, não estando ainda claro as causas da morte.

Até ao momento, pelo menos 13 pessoas morreram na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia na sequência desta crise migratória.