A antecâmara da entrega da Bola de Ouro é como uma passadeira que dá palco a múltiplas opiniões sobre quem conseguiu ser o melhor entre os melhores do ano. Algumas tornam-se exageradas. Outras ganham um impacto mundial, como quando o único vencedor espanhol, Luis Suárez, se mostrou disponível a dar o seu próprio troféu a Lewandowski se não ganhasse. A maioria olha para os números e para as conquistas e dá o seu veredicto. Em 2021, este último caminho tornou-se quase paradoxal porque se havia uma aparente maioria a optar por um nome, essa mesma maioria sabia que ia para outro nome. E assim foi.
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Com 33 pontos de vantagem, uma diferença ainda maior do que aquela que se registou em 2019 quando Van Dijk estava na luta, Lionel Messi conseguiu a sétima Bola de Ouro e a Lewandowski restou apenas um prémio de consolação entregue meio à pressa (porque antes não existia) de melhor avançado do ano. No entanto, e no discurso de consagração, o argentino não esqueceu o seu principal rival de 2021, desafiando mesmo a France Football a entregar ao polaco a Bola de Ouro correspondente ao ano de 2020, onde não houve nem cerimónia, nem galardão devido à pandemia. Agora, Lewandowski “convive” com isso.
“Passei por um mau bocado na semana passada. Não vou mentir, senti tristeza. Não foi fácil jogar sem essa felicidade que me faltava. Não estava feliz, pelo contrário”, assumiu o avançado no programa Moc Futbolu, do Kanale Sportowym, falando do estado de espírito com que encarou um encontro decisivo na Bundesliga frente ao B. Dortmund onde marcou dois golos e deu a vitória ao Bayern no clássico (3-2).
“Quando estás muito perto de lá chegar, a disputar um prémio com um jogador tão grande e tão genial como Messi, e depois chegam comentários a dizer que devias ter sido tu a ganhar… Obviamente que respeito a forma como o Messi joga, o que conseguiu e o nível que tem. Só o facto de ter estado a disputar este troféu com ele para mim é um indicador do meu próprio nível. Faz-me sentir orgulhoso, mas dentro de mim senti uma tristeza que não foi de um dia ou dois, mas muitos mais”, admitiu o jogador de 33 anos que, em 2020/21, voltou a ter uma época com mais golos (48) do que jogos (40) à semelhança do que tinha acontecido em 2019/20 (55/47), quando além de todas as provas nacionais ganhou a Champions.
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Sobre o discurso de Messi, e o pedido para que fosse entregue uma Bola de Ouro relativa a 2020, Robert Lewandowski destacou apenas que gostava que tivessem sido mais do que palavras de circunstância. “É só isso, que as palavras dele sejam honestas, que não sejam apenas palavras vazias. Convidado para a festa de consagração? É difícil comunicar com ele porque só o podemos fazer numa língua mas pudemos trocar ainda algumas palavras”, explicou ainda no mesmo programa do canal polaco.
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Para já, essa possibilidade levantada pelo argentino não teve qualquer efeito prático mas, da parte da France Football, continua em aberto. “A Bola de Ouro baseia-se num sistema democrático. Temos um júri composto por 170 membros que decidiu dar ao Messi. Eu escolhi o Lewandowski para ganhar mas aceito que o Messi também mereça a Bola de Ouro. As palavras de Messi foram agradáveis e muito inteligentes. Penso que não devemos tomar decisões de forma apressada, mas podemos e devemos pensar na hipótese de dar a Bola de Ouro de 2020 a Lewandowski. Não podemos ter a certeza se o Lewandowski teria vencido a Bola de Ouro no ano passado, pois não houve votação, mas teria uma grande probabilidade de vencer”, destacou Pascal Ferré, chefe de redação, em declarações ao portal suíço Watson.