Vai começar em 2022 a ser testada na Suíça a Sarco, uma cápsula em forma de sarcófago cujos criadores garantem que ajuda as pessoas a morrer, sem dor, em aproximadamente dez minutos. Criada por Philip Nitscheke, ativista pela legalização da eutanásia que já ganhou a alcunha de “Dr. Morte”, vinca que o objetivo é “desmedicalizar o processo da morte”, em entrevista ao Exit International, a organização sem fins lucrativos que fundou.

“Queremos remover qualquer género de revisão psiquiátrica do processo e permitir que o próprio indivíduo controle o método”, afirma Nitscheke, a propósito do lançamento do dispositivo que é impresso em 3D e recorre a tecnologias de inteligência artificial. A Suíça é um dos poucos países europeus onde a eutanásia é legal.

A decisão de avançar para testes surge na sequência de uma análise jurídica por parte desta organização, liderada pelo especialista jurídico suíço Daniel Hürlimann, que concluiu recentemente que o uso da cápsula não viola as leis de suicídio assistido da Suíça. A organização de suicídio assistido Dignitas disse à BBC , porém, que dificilmente este aparelho tecnológico terá “muita aceitação” no país.

Philip Nitschke

Philip Nitschke, já conhecido como o “Dr. Morte” na Suiça.

Basta apertar um botão e o casulo é preenchido com gás nitrogénio, que reduz os níveis de oxigénio, fazendo com que quem quer morrer fique inconsciente no espaço de pouco mais de um minuto. Quem está lá dentro não sufoca nem fica angustiado, porém acaba por morrer de privação de oxigénio depois de adormecer. Existe, ainda, um botão de emergência para sair.

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Descrevendo a máquina como uma forma “elegante” de morrer, Nitschke refere que a cápsula pode ser transportada para um local à escolha, ao The Washington Post, como a casa da pessoa que quer morrer.

Contudo, estes conceitos de estética levantam críticas ao produto. Daniel Sulmasy, o diretor do Instituto Kennedy de Ética da Universidade de Georgetown, considera que o design elegante, quase de carro de luxo, da cápsula “glamoriza o suicídio”, disse ao mesmo jornal. Mesmo apoiantes da eutanásia estão preocupados com a cápsula, tais como Stephen Duckworth, que escreveu estar “chocado”, num artigo de opinião do Independent.

A segurança deve estar sempre na vanguarda de quaisquer esforços para permitir uma melhor escolha no final da vida, e há sérias questões de segurança aqui. E se se torna acessível a alguém que não está no seu perfeito juízo? Ou a uma criança? Ou se é usado para abusar de outras pessoas? E se isso não resultar em morte imediata ou pacífica e o indivíduo ficar abandonado, sem nenhum recurso para pedir ajuda? Eu podia continuar e continuar.”

Em resposta às críticas sobre a possibilidade de que se estar a glorificar o suicídio, Nitschke garante que o Exit International irá publicar os planos do Sarco num livro, restrito a pessoas com mais de 50 anos “sãs ou gravemente doentes”. Salvaguardando que não protege toda a gente, o cientista quer “as informações disponíveis gratuitamente para adultos racionais”.