O debate começou num tom cordato, com o líder do Livre a lamentar a falta de meios da RTP para que pudesse estar no frente a frente com Rui Rio a partir do Porto. Apesar dos mais de 300 quilómetros que os separava, o líder do PSD não perdeu grande tempo e conseguiu provocar em Rui Tavares um registo mais corrosivo, que até aqui só tinha tido contra André Ventura. Rui Rio trazia o trabalho de casa feito para atacar as propostas do programa eleitoral do Livre e Rui Tavares respondeu com o Chega.

Rui Rio começou o debate com uma breve aula de finanças sobre as características necessárias para a diminuição de impostos e admitiu que — com as atuais condições pandémicas — também seria incapaz de ter baixado a carga de impostos aos portugueses. A partir daí, com Rui Tavares a responder que “o programa do PSD acredita em milagres” e que não se pode “pôr a carroça à frente dos bois” o ambiente entre os dois Ruis ficou mais tenso.

Rui Rio estudou o programa do Livre, encontrou fragilidades — ou diferenças abissais na visão que ambos os partidos têm para o país — e optou por expô-las no debate, exaltando o habitualmente calmo e pedagógico Rui Tavares, que recorreu às mesmas armas do líder da esquerda para atacar o líder do PSD (como aconteceu com a prisão perpétua).

Rui Rio falou na proposta “surrealista de conceder subsídio de desemprego a quem se despede“, quase ridicularizando o “subsídio base [que o Livre propõe] para os 10 milhões de portugueses”, criticando também a proposta do rendimento básico incondicional. Tavares respondeu ao líder do PSD com uma crítica velada ao facto de o PSD só ter apresentado o programa esta sexta-feira: “Vejo que teve tempo para ler o programa do Livre, eu não consegui porque o do PSD só ontem foi apresentado”.

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Além deste argumento, Rui Tavares utilizou o Chega para responder a Fio por duas vezes. O acordo de governo dos Açores, em resposta às condições de governabilidade no futuro do país, foi um desses exemplo, como também, pouco depois, quando Rio criticava a proposta do Livre para “descriminalizar a ofensa à honra do Presidente da República”. Rio falava nesta proposta e Rui Tavares utilizou a mesma arma de Ventura no repique: “Vejo que isso o choca mais que a prisão perpétua”. Rio não respondeu.

Rui Tavares ainda teve tempo, no minuto final, para deixar um soundbite no ar: “Eco-geringonça”. A solução nada tem que ver com o PSD ou Rio, mas Rui Tavares aproveitou a sondagem de sexta-feira para lançar a hipótese de um acordo de governação entre “PAN, PS e Livre”: “Seria uma eco-geringonça e oferecendo menos incerteza que oferece Rui Rio”.

O diálogo mais revelador

Rui Rio: Pugno-me pela revisão constitucional, mas há uma coisa que ela não tem e o Livre tem que é descriminalizar a ofensa à honra do Presidente da República, ou seja, para o Livre pode-se insultar o Presidente da República de qualquer maneira e isso no máximo dá uma indemnização.

Rui Tavares: Não, não. Não se pode é ofender a honra de ninguém. É um crime que está no Código Penal.

Rui Rio: Exatamente. E bem. O Presidente da República é uma figura especial, não estamos a falar do atual nem do anterior, estamos a falar da figura do Presidente da República que é uma figura Constitucional.

Rui Tavares: Vejo que isso o choca mais que a prisão perpétua.

Rui Rio: Se isto já é, de certa forma, uma bandalheira mais bandalheira fica. Estou frontalmente contra.