Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, vai falhar o debate de quarta-feira com Rui Rio para ser operado de urgência a um problema vascular. O líder comunista ainda mantém a agenda de campanha para esta terça-feira, mas vai ser substituído no frente a frente com Rio por João Oliveira, líder parlamentar.
De acordo com informação avançada pelo próprio partido, Jerónimo de Sousa vai ser submetido a uma cirurgia na quarta-feira para corrigir uma estenose da carótida. O comunista deverá regressar à campanha eleitoral apenas a 22 de janeiro, a oito dias das eleições legislativas.
Na ausência de Jerónimo de Sousa, o PCP decidiu fazer-se representar por João Oliveira e João Ferreira, antigo eurodeputado, vereador em Lisboa e candidato do partido nas últimas presidenciais. Dada a indisponibilidade do comunista, Rui Rio aceitou debater com João Oliveira num duelo agendado para quarta-feira.
Segundo a informação prestada pelos comunistas, apesar de Jerónimo de Sousa se encontrar bem, não era possível adiar a cirurgia para depois da campanha eleitoral. O secretário-geral comunista vai por isso manter a agenda que tinha para esta terça-feira, já depois de ter tido uma segunda-feira particularmente intensa — o líder do PCP foi entrevistado nos estúdios do Observador e, mais tarde, pela CMTV.
Já na tarde desta terça-feira, o próprio Jerónimo referiu, no final de uma ação em Matosinhos, a situação, explicando que durante os seus exames de rotina “verificou-se um problema”: as carótidas “precisam de uma limpeza” e a operação tinha mesmo de ser feita de urgência, sendo “impossível” aguentar até ao fim da campanha. “Tem um risco relativo, mas é sempre um risco, qualquer operação cirúrgica”, admitiu,dizendo esperar contar com “arte — e sorte — do cirurgião” para voltar à estrada já na semana que vem.
Depois, um comentário em tom pessoal. “Não queria deixar de vos dizer que foi importante para mim as manifestações de muitos homens, mulheres e jovens que não são do PCP nem da CDU” — Jerónimo deu os exemplos das mensagens solidárias de políticos, incluindo do Presidente da República, do Presidente da Assembleia ou do primeiro-ministro, mas também de jornalistas e até comentadores, “num quadro de simpatia, apreço, solidariedade”.
“É das coisas melhores de quem anda nesta vida política: ter essa reação mesmo dos que não são do meu partido nem da CDU. Rui Rio assumiu que sim senhor, admitia a substituição pelo camarada João Oliveira”, exemplificou, agradecendo a “cooperação”. “É um exemplo de que pode haver combate sem tréguas no plano político e ideológico mas há valores que pertencem a todos”. O “relacionamento humano”, as palavras de “incentivo e solidariedade” deram-lhe “alegria e conforto”, assumiu o líder comunista: “É tocante. Há valores democráticos que perduram”.
À saída, aos jornalistas, disse ainda que há uma preocupação com o esforço pós-cirurgia: “O andamento será definido de acordo com a capacidade de recuperação”, explicou. Quanto aos efeitos que a sua ausência poderá ter na campanha, diz que a direção do partido não definiu um calendário “rígido” para o seu regresso: “Isto é um bocado subjetivo, mas acho que tenho forças para corresponder aos anseios do meu partido”.
Já sobre as escolhas de João Ferreira e João Oliveira, Jerónimo justificou-as lembrando que ambos fazem parte da Comissão Política do Comité Central e ambos são candidatos às eleições (Ferreira está em lugar não elegível em Lisboa — 10º — e Oliveira é cabeça de lista por Évora). “Pelas suas capacidades darão conta do recado. Também é só uma semana ou duas…”.
As restantes iniciativas previstas para esta tarde – encontro com intelectuais e gente da Cultura, às 18h, na Cooperativa Árvore, no Porto; e Sessão Pública CDU, às 21h30, no Auditório da Junta de Freguesia de Oliveira do Douro, em Vila Nova de Gaia – realizar-se-ão com a participação de Jaime Toga, membro da Comissão Política, e Diana Ferreira, primeira candidata da CDU pelo círculo eleitoral do Porto”.
De resto, na já citada entrevista ao Observador, a questão da sucessão foi inevitavelmente abordada. Na resposta, Jerónimo de Sousa foi claro: “Não faço essas conjeturas. Um dia será. Mas, independentemente disso, quero informar que o órgão que decide, que é o Comité Central, não é o Congresso, determinará a solução. Mas, neste momento, a questão, de facto, não está colocada. Haja saúde e vamos até ao fim”.
O facto de o PCP ter escolhido João Oliveira e João Ferreira para representarem o partido na ausência de Jerónimo é, também por isso, um sinal revelador: cientes de que qualquer escolha poderia motivar leituras sobre a sucessão do comunista, o partido optou por indicar dois dos quadros mais reconhecidos do partido e dois nomes apontados com insistência para a liderança do PCP.
Ao contrário do que é prática comum, a campanha eleitoral do PCP foi pensada para ser quase exclusivamente nos distritos de Lisboa e de Setúbal — seis dos 13 dias serão passados nestas duas regiões. O encerramento da campanha vai ser a Norte, com três iniciativas previstas para os concelhos da Maia, Gondomar e Porto e um comício de encerramento em Braga.
Por decisão do PCP, Jerónimo de Sousa acabou por estar menos exposto que os demais líder parlamentares, uma vez que o partido decidiu não participar nos debates televisivos em canal fechado por considerar que estava em causa um tratamento desigual das candidaturas — apenas Rio e Costa tiveram oportunidade de debater sempre em canal aberto.
O secretário-geral comunista participou apenas no frente a frente com António Costa e será substituído por João Oliveira no duelo com Rui Rio. Faltam ainda cumprir o debate televisivo entre todas as candidaturas que alcançaram representação parlamentar a 17 de janeiro e o debate radiofónico a 20 de janeiro.
Jerónimo não exclui assinar acordos escritos. “Tudo o que for positivo, contem com o PCP”
No comunicado divulgado pelo PCP, o partido esclarece: “No seguimento de exames médicos e de uma avaliação clínica multidisciplinar foi apurada a necessidade de Jerónimo de Sousa ser submetido a uma intervenção cirúrgica urgente da estenose carotídea (à carótida interna esquerda), que não pode ser adiada para depois das eleições”.
“Está assim programado o internamento para amanhã, dia 12 de Janeiro, e prevê-se que o secretário-geral retome no final da próxima semana a sua intervenção política, nomeadamente na campanha eleitoral em curso para a Assembleia da República.”
E acrescenta-se. “Durante os dias de internamento e recuperação, mantém-se a agenda com as acções de campanha programadas para o secretário-geral, nas quais a partir de amanhã e durante este período será substituído pelos camaradas João Ferreira e João Oliveira, membros da Comissão Política e candidatos à Assembleia da República”.
Entretanto, Marcelo Rebelo de Sousa já emitiu um comunicado a desejar as rápidas melhoras e uma boa recuperação. “Ao tomar conhecimento da intervenção cirúrgica urgente a que Jerónimo de Sousa terá de se submeter, o Presidente da República falou telefonicamente com o Secretário-Geral do Partido Comunista Português, desejando que tudo corra bem e que possa ter uma rápida e boa recuperação, regressando logo que possível à sua importante atividade política e partidária”, escreveu o Presidente da República. À tarde, questionado pelos jornalistas, Marcelo disse “saber bem o que são as intervenções feitas para melhorar condições cardiovasculares”, embora a “complexidade” desta operação seja “porventura maior”, e desejou “todas as felicidades” a Jerónimo.
Em declarações aos jornalistas, António Costa também desejou as rápidas melhoras ao líder comunista. “Quero desejar as melhoras e uma pronta recuperação a Jerónimo de Sousa. É obviamente um momento triste para a campanha eleitoral, quando o líder de um partido importante, como é o líder do PCP, por razões de saúde, está impedido de prosseguir a campanha”, declarou o líder dos socialistas e primeiro-ministro.
Também Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, já desejou as rápidas melhoras a Jerónimo de Sousa. “Desejo uma rápida recuperação a Jerónimo de Sousa. Espero vê-lo em breve na campanha”, escreveu a bloquista no Twitter.
Também Rui Rio desejou a Jerónimo “uma recuperação rápida e plena” da cirurgia, acrescentando, no Twitter: “Como é evidente, estou de acordo que o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, seja substituído no debate comigo por um camarada seu”.
