As embaixadas em Belgrado dos EUA, Alemanha, Itália, Reino Unido e a União Europeia (UE) saudaram esta sexta-feira o referendo convocado para domingo na Sérvia sobre reformas constitucionais e pediram ao Kosovo que permita a participação dos sérvios locais na consulta.

De acordo com um comunicado conjunto divulgado em Bruxelas, esta consulta constitui “um passo decisivo para fortalecer a independência do poder judicial e melhorar a transparência e eficácia das instituições do Estado de direito no país”.

“Consideramos que estas reformas são um passo em frente em direção à equivalência da Sérvia aos padrões europeus e que reforçarão o processo de adesão da Sérvia à UE”, sublinharam.

Os países ocidentais e a União exortaram a população sérvia a participar no referendo, mas lamentaram que as autoridades do Kosovo tenham impedido que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) distribua os boletins de voto aos eleitores que habitam nesse território, como sucedeu em consultas anteriores.

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Pedimos ao Governo do Kosovo que permita aos sérvios do Kosovo o exercício do seu direito de voto nas eleições e nos processos eleitorais, de acordo com esta prática estabelecida”, assinalaram.

Em simultâneo, pediram aos governos do Kosovo e da Sérvia que se “abstenham de ações e retóricas que aumentem as tensões” e que “participem construtivamente no diálogo patrocinado pela UE”.

“É importante que os dois governos garantam progressos em direção a um acordo integral que desbloqueie a perspetiva da UE e reforce a estabilidade regional”, concluíram.

Em paralelo, a ONU manifestou esta sexta-feira a sua inquietação face ao aumento na Sérvia e na Bósnia-Herzegovina dos discursos irredentistas que “alimentam um clima de medo e insegurança”, alguns meses antes das eleições nestes dois países.

“Estamos profundamente preocupados pelos recentes incidentes registados na Bósnia-Herzegovina e na Sérvia, quando diversos indivíduos glorificaram as atrocidades e os criminosos de guerra condenados, emitiram discursos de ódio dirigidos a certas comunidades, e em alguns casos incitaram diretamente à violência”, declarou Liz Throssell, uma porta-voz do Alto comissariado da ONU para os direitos humanos.

Na quinta-feira, a missão das Nações Unidas na Bósnia tinha já manifestado a sua preocupação com incidentes contra muçulmanos bósnios (bosníacos) na entidade dos sérvios bósnios, e sugerido medidas contra o ódio no país, envolvido entre 1992 e 1995 numa sangrenta guerra civil.

“O aumento dos discursos irredentistas, a negação de genocídios e outras atrocidades e a glorificação dos criminosos de guerra evidencia o falhanço das tentativas em ultrapassar o passado”, indicou durante uma conferência de imprensa em Genebra.

Estes incidentes decorreram em diversos locais da Republika Srpska (RS), a entidade dos sérvios bósnios, e quando a Bósnia atravessa uma das mais graves crises desde o final do conflito, na sequência das ameaças secessionistas do líder da RS, Milorad Dodik.

Após assinatura do Acordo de Dayton em finais de 1995, a Bósnia-Herzegovina foi fraturada em duas entidades – a RS e uma Federação entre croatas e bosníacos muçulmanos – na sequência do Acordo de Dayton, unidas por um frágil Estado central cujos poderes têm vindo a ser reforçados nos últimos anos.

Na prática, e mais de 25 anos após o fim da guerra civil, o país balcânico com 3,3 milhões de habitantes permanece um protetorado internacional, com fortes poderes decisórios atribuídos ao alto representante que supervisiona e coordena a aplicação dos aspetos civis do Acordo de Dayton.

Em agosto passado, foi designado para este cargo Christian Schmidt, 63 anos, ex-ministro da Agricultura da Alemanha e membro do partido democrata-cristão bávaro CSU.

Em novembro passado, Schmidt já se pronunciou contra as intenções da liderança dos sérvios bósnios, que se retiraram de decisivas instituições do Estado central. Em paralelo, o Governo de Berlim também ameaçou com a aplicação de sanções à RS e ao seu líder.

As tensões na Bósnia aprofundaram-se em julho passado, quando Valentin Inzco, o antecessor de Schmidt, proibiu por lei a negação do “genocídio de Srebrenica”, uma definição que os sérvios bósnios rejeitam.

A RS reagiu abolindo essa lei no seu território e impondo o boicote dos seus líderes à presidência, parlamento central e conselho de ministros da Bósnia-Herzegovina, enquanto também se têm aprofundado as divergências na Federação entre coatas e bosníacos, que integram a segunda entidade reconhecida no acordo de Dayton.