Dois dias depois de pedir desculpas por aquela que já era mais uma festa em Downing Street durante o confinamento, Boris Johnson está mais uma vez envolto numa polémica idêntica — e desta feita não foi revelado apenas um convívio mas dois, na mesma noite, que, para além de dever ter sido de contenção por causa da pandemia, calhou ser a da véspera do funeral do Príncipe Filipe, estava o país inteiro de luto.

De acordo com o Telegraph, na noite de sexta-feira, dia 16 de abril de 2021, os funcionários da residência oficial do primeiro-ministro britânico reuniram-se em duas festas de despedida para assinalar a partida de dois colegas, James Slack, o diretor de comunicação de Johnson, que também tinha sido o de Theresa May, e que o ano passado deixou o número 10 de Downing Street para se tornar editor-adjunto do tabloide The Sun, e um dos fotógrafos pessoais de Boris Johnson.

Ao final da manhã desta sexta-feira, o porta-voz do primeiro-ministro britânico revelou que Downing Street já pediu desculpa à Rainha pelas “profundamente lamentáveis” festas dadas na véspera do funeral do Príncipe Filipe.

Houve música, álcool e até dança, bem para lá da meia-noite, revelaram ao jornal fontes não identificadas, que estimam que, entre as duas festas, cerca de 30 pessoas tenham estado presentes. O primeiro-ministro não foi uma delas, assegurou um porta-voz: nessa quinta-feira à noite tinha partido para Chequers, a sua residência de férias, onde se manteve até domingo.

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Nessa altura, com o Reino Unido no passo 2 de um caminho rumo ao desconfinamento que só terminaria no fim de junho, a regra em vigor, imposta pelo governo, era a seguinte: “Não deve socializar dentro de casa, exceto com o seu agregado familiar ou bolha de apoio. Pode encontrar-se ao ar livre, inclusive em jardins, em grupos de seis pessoas ou de dois agregados familiares”.

Como se não bastasse, o país estava de luto, com a morte do Duque de Edimburgo, sete dias antes. O funeral, marcado pela imagem da Rainha, sozinha e de máscara preta, na capela do Castelo de Windsor, contaria exatamente com as mesmas pessoas presentes que as festas de Downing Street na véspera, 30. Os britânicos foram aconselhados a não deixar flores nem outras recordações junto ao gradeamento do Palácio de Buckingham, por causa da pandemia, e até o habitual livro de condolências, em vez de fisicamente, foi disponibilizado online.

De acordo com as testemunhas ouvidas pelo Telegraph, a despedida do diretor de comunicação de Boris Johnson começou com um discurso na sua própria sala, a que se juntaram alguns colegas através de links de vídeo, e continuou depois nos jardins de Downing Street, já com algumas garrafas de álcool abertas. Na cave, onde o pessoal mais novo se juntou para dizer adeus ao fotógrafo, a comemoração foi mais intensa, com um computador portátil a ser pousado em cima de uma fotocopiadora e a fazer as vezes de colunas de som, e Shelley Williams-Walker, a chefe de operações de Boris Johnson a assumir o papel de DJ — depois desta noite, no número 10, alguns passaram a chamar-lhe “DJ SWW”, tal terá sido o seu sucesso a escolher música.

A dada altura, revelaram ainda várias fontes àquele jornal, um dos convivas foi incumbido de ir à loja de conveniência mais próxima, com uma mala, comprar mais garrafas de vinho. Por volta da meia-noite, com medo de sujarem as carpetes de Downing Street com o tinto, decidiram transferir a festa para o exterior, e terá sido aí que os dois grupos se fundiram. Terão ficado a beber e conversar até às primeiras horas da manhã. Um dos funcionários chegou mesmo a andar e a partir o baloiço de Wilf, o filho do primeiro-ministro, então com apenas 1 ano.

“No seu último dia, este indivíduo fez um discurso de despedida para agradecer a cada equipa o trabalho que tinha feito para o apoiar, e falou para os que tinham de estar no escritório para trabalhar e, através de vídeo-chamada, para os que estavam a trabalhar a partir de casa”, disse um porta-voz de Downing Street ao Telegraph, quando questionado sobre a festa de despedida de James Slack. A propósito do fotógrafo, que não foi identificado, nem uma palavra. Nem ele nem Shelley Williams-Walker aceitaram fazer qualquer comentário ao jornal.

Entretanto, e depois da publicação da notícia, o porta-voz de Boris Johnson fez saber que Downing Street já apresentou um pedido de desculpas formal ao Palácio de Buckingham, mas não revelou quem pegou no telefone para o fazer, limitou-se a dizer que  a chamada foi feita através dos “canais oficiais”. “É profundamente lamentável que isto tenha acontecido num momento de luto nacional. O número 10 pediu desculpa ao Palácio.”

Artigo atualizado às 12h30, com o pedido de desculpas de Downing Street