Anne Frank e a sua família poderão ter sido traídos por um notário judeu, sugere um documentário da CBS e o livro que o acompanha, The Betrayal of Anne Frank, de Rosemary Sullivan. Por que razão os denunciou aos nazis? Poderá tê-lo feito para salvar a própria pele.
Após seis anos de investigação — com uma equipa que inclui o ex-agente do FBI Vince Pankoke e a utilização de algoritmos informáticos para procurar ligações entre diversas pessoas — Arnold van den Bergh, judeu de renome em Amesterdão que morreu em 1950, foi o nome a que chegaram. Uma nota anónima recebida pelo pai de Anne, Otto Frank, após voltar a Amsterdão no fim da guerra, foi uma das mais importantes pistas.
Van den Bergh terá sido membro do Conselho Judaico de Amesterdão, um órgão forçado a implementar a política nazi nas áreas judaicas. Foi dissolvida em 1943, e os seus membros foram enviados para campos de concentração. Porém o notário não foi para um campo de trabalhos forçados e, em vez disso, continuou a viver em Amsterdão. Como? Terá dado a morada do esconderijo onde estava Anne Frank e a família, assim como de outros judeus.
“Quando van den Bergh perdeu toda a sua série de proteções que o isentavam de ter de ir para os campos, teve de fornecer algo valioso aos nazis com que teve contacto para o deixarem a ele e à sua mulher, nessa altura, ficar em segurança”, esclarece o antigo agente do FBI Vince Pankoke à CBS, citado pela BBC.
Durante a investigação, a equipa admite que resistiu à revelação de que o denunciante seria outro judeu. Acredita-se que Otto Frank, o pai de Anne, poderá ter descoberto a identidade do traidor, mas optado por mantê-la em segredo por causa do antissemitismo, acrescenta Pankoke.
Mas temos de ter em mente que o facto de [van den Bergh] ser judeu só mostra que ele foi colocado numa posição insustentável pelos nazis para fazer algo para salvar a sua vida”, defende.
A autora do livro carateriza van der Bergh como “uma figura trágica”. O notário terá entregado aos nazis várias moradas onde estariam judeus escondidos, mas “sem nomes e nenhuma garantia de que os judeus ainda estivessem escondidos lá”, conta, citada pelo The Guardian.
Anne Frank, menina judia cujo diário se tornou um símbolo do Holocausto, foi detida a 4 de agosto de 1944 com as sete pessoas com quem estava escondida no Anexo Secreto, em Amesterdão. Viria a morrer no ano seguinte, no campo de Bergen Belsen.