O Presidente russo Vladimir Putin disse esta terça-feira que os Estados Unidos e aliados ignoraram os pedidos da Rússia sobre garantias de segurança, mas manifestou-se disposto a prosseguir conversações com o ocidente para diminuir tensões em torno da Ucrânia.
Putin argumentou ser possível negociar o fim do atual impasse, caso sejam considerados os interesses de todas as partes, incluindo as preocupações da Rússia sobre a segurança do seu território.
O líder do Kremlin lamentou a recusa do ocidente em responder aos pedidos sobre o não alargamento da NATO em direção à Ucrânia, o envio de armamento aliado para junto das fronteiras da Rússia e o recuo das suas forças militares estacionadas na Europa de leste.
Estes pedidos, rejeitados pela NATO e os Estados Unidos como impossíveis de abordar no atual estado das negociações, coincidem com os receios de uma invasão russa da Ucrânia após a concentração de cerca de 100.000 tropas russas perto das fronteiras ucranianas. Até ao momento, as conversações entre a Rússia e o ocidente não registaram progressos significativos.
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O líder russo assinalou que a recusa dos aliados ocidentais em atender às garantias de segurança solicitadas por Moscovo viola as suas obrigações sobre a integridade e segurança de todas as nações e insistiu que poderá ser encontrada uma solução através de novas conversações.
Putin avisou ainda que a adesão da Ucrânia à NATO poderia impelir a liderança ucraniana a desencadear uma ação militar para exigir o controlo da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, ou das áreas controladas pelos separatistas pró-russos no leste do país, um conflito que se prolonga há oito anos e que provocou cerca de 14.000 mortos e 1,5 milhões de deslocados.
“Imaginem que a Ucrânia se torna um membro da NATO e desencadeia essas operações militares”, disse Putin. “Nessa situação, deveríamos combater a NATO? Será que alguém pensou nisto?”.
Em conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, de visita a Moscovo, Putin enfatizou ser ainda possível garantir um acordo que satisfaça todas as partes.
Indicou ainda que o Presidente francês Emmanuel Macron se desloca em breve a Moscovo no âmbito de renovados esforços diplomáticos, e na sequência da conversa telefónica que mantiveram na segunda-feira.
Nas suas declarações, o primeiro-ministro húngaro considerou que “as divergências” entre os ocidentais e a Rússia em torno da Ucrânia poderão ser ultrapassadas e que é “possível” a conclusão de um acordo “aceitável”.
“A situação é grave, as diferenças significativas (…) mas estas são ultrapassáveis”, referiu Viktor Orbán na conferência de imprensa conjunta e após o encontro com Putin. “É possível concluir um acordo que garanta a paz, a segurança da Rússia e que seja também aceitável para os membros da NATO”.
O dirigente ultra-conservador – cuja visita foi criticada pela oposição interna por decorrer em plena crise entre a Rússia e o ocidente e em período de pré-campanha para as eleições legislativas húngaras de abril -, disse ter-se deslocado a Moscovo em “missão de paz”.
“Tive oportunidade de dizer ao Presidente [Putin] que a União Europeia está unida e que nem um único responsável europeu deseja um conflito com a Rússia”, insistiu, apelando à “utilização de todas as ferramentas diplomáticas para reduzir as tensões”.
Orbán destacou ainda o “modelo húngaro”, um país membro da UE e da NATO que “mantém, em simultâneo, excelentes relações com a Rússia”.