Rui Rio está de saída da presidência do partido e não tem intenção de se recandidatar ao cargo. O líder social-democrata quer ver a situação do PSD resolvida até ao mês de julho e caberá agora aos conselheiros nacionais definirem o calendário que entenderem.
Isso mesmo foi transmitido pelo ainda líder social-democrata aos jornalistas depois da reunião da Comissão Política Nacional do PSD, que durou mais de quatro horas. Para já, a direção alargada do partido agendou um Conselho Nacional para 19 de fevereiro, em Barcelos, que se deverá pronunciar sobre a data das eleições diretas.
“Se eu admitisse ser outra vez candidato a primeiro-ministro, podia fazer esse caminho de cinco anos. Não havendo nenhum objetivo a prosseguir, o Conselho Nacional deverá decidir a antecipação dessas eleições”, esclareceu.
Rio entende, no entanto, que a liderança do partido deve estar resolvida, no máximo, até julho. “Acho que o razoável é o partido resolver este assunto no primeiro semestre, até ao início de julho. Se quiserem antecipar ainda mais pode-se antecipar ainda mais”, salvaguardou o social-democrata.
Este primeiro Conselho Nacional, órgão máximo do partido entre congressos, servirá já para perceber que força têm Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz, os dois nomes apontados com maior insistência à sucessão de Rui Rio, e o posicionamento de algumas peças relevantes do xadrez social-democrata, como Carlos Eduardo Reis, um dos trunfos de Rio nas últimas diretas.
No último congresso, realizado ainda em dezembro, a lista oficial de Rui Rio ao Conselho Nacional, liderada por Pedro Roseta, conseguiu eleger 17 conselheiros em 70 possíveis. Existiram ainda outras três listas de apoiantes assumidos de Rio: a de Carlos Eduardo Reis (9 conselheiros), a de Catarina Rocha Ferreira (6) e a de Lina Lopes (1). O líder social-democrata tinha assim uma base de apoio inicial de 33 conselheiros.
Miguel Pinto Luz, por sua vez, liderou e derrotou a lista promovida por Luís Montenegro. O vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais teve a segunda lista mais votada, com 161 votos e 14 conselheiros. Já a lista do antigo líder parlamentar, liderada por Pedro Calado, foi apenas a terceira mais votada e conseguiu 146 votos e 13 conselheiros.
Ainda assim, existem muitas outras variáveis que tornam difícil antecipar quem domina ou não o Conselho Nacional, a começar, desde logo, pelo novo contexto que o partido enfrenta — não é a mesma coisa desenhar alianças com um líder em plenitude de funções e com um líder de saída; as lealdades e os acordos forjados podem mudar muito rapidamente.
Depois, o órgão máximo do partido entre congressos não é constituído apenas pelos 70 conselheiros eleitos este domingo. Têm assento no Conselho Nacional os membros da Mesa do Congresso, 10 representantes da JSD, 5 representantes dos Trabalhadores Social-Democratas, 5 representantes dos Autarcas Social-Democratas, os 20 presidentes das distritais e das estruturas do partido nos Açores e Madeira, representantes de cada círculo eleitoral da emigração, também eles eleitos em congresso, ex-líderes do partido e atuais e antigos presidentes dos governos regionais.
Rui Rio, no entanto, garantiu que não vai interferir no processo de escolha do seu sucessor. Em declarações aos jornalistas, no hotel onde se realizou a reunião da Comissão Política Nacional, em Lisboa, o líder social-democrata negou ter atendido a qualquer pedido de um dos presumíveis candidatos à liderança do partido no sentido de adiar ou antecipar as eleições diretas e garantiu que não tem qualquer intenção de fazer campanha pelo candidato A ou B.
Salvador Malheiro lança Montenegro: “Poucos reúnem as condições que Luís Montenegro reúne”
Malheiro procurou a redenção e esclareceu equívoco sobre Montenegro
Numa reunião descrita como serena e sem grande acrimónia para com o líder social-democrata, Salvador Malheiro, vice-presidente do partido e um dos grandes responsáveis pelas três vitórias internas de Rio, tomou a palavra para esclarecer o sentido das suas declarações no arranque da semana que foram interpretadas Como uma manifestação de apoio a Luís Montenegro.
No “Forúm TSF”, Malheiro defendeu que a discussão em torno de futuros protagonistas era “extemporânea” e que o partido precisava de tempo para se regenerar, mas não escondeu a admiração por Montenegro. “É das figuras que reúne melhores condições para o fazer. Poucos reúnem as condições que Luís Montenegro reúne. Tem uma séria de características [que fazem dele] uma solução. Não tenho qualquer problema em olhar para Luís Montenegro como solução.”
As declarações de Malheiro causaram muito mal-estar na direção do PSD e mesmo entre apoiantes de Montenegro, que não gostaram de ver uma aproximação tão evidente, não articulada com o antigo líder parlamentar e com potencial para causar um efeito perverso: Rio acabou de cair; e chutar um líder no chão seria mal interpretado pelos apoiantes de sempre do presidente do PSD.
Ainda na quarta-feira, depois do encontro com Marcelo Rebelo de Sousa, em Belém, Rui Rio não escondeu algum azedume. “[Declarações de Salvador Malheiro?] Ver, ver, não vi. Mas contaram-me. Tudo o que tem a ver com a vida interna deve ser debatido dentro do partido. É isso que vou fazer e espero que todos façam o mesmo em nome de dignidade do partido. Para dar uma imagem madura, adulta, sem grandes histerias“, pediu Rio.
Esta quinta-feira, Malheiro aproveitou quer a reunião da Comissão Permanente, o órgão mais restrito da direção, quer a Comissão Política Nacional, direção alargada, para esclarecer perante todos que tudo não passou de um equívoco provocado inadvertidamente pelas perguntas do jornalista que conduziu a entrevista.
Segundo apurou o Observador, Malheiro terá tentado redimir-se, garantindo que nunca foi sua intenção ser desleal a Rui Rio ou manifestar o apoio a qualquer um dos putativos candidatos. Perante as garantias deixadas pelo presidente da Câmara de Ovar, não houve réplicas e a serenidade foi a nota dominante da reunião.
Rio pede “dignidade” e contenção ao PSD depois de elogios de Malheiro a Montenegro